Redatora especialista na cobertura de saúde, bem-estar e comportamento.
Como acolher um filho ou uma filha quando ele/ela decide se abrir sobre sua homossexualidade? Como abordar assuntos sobre orientação sexual na família sem tabus? E como lidar com os próprios preconceitos sem magoar ou desrespeitar o filho ou a filha?
Oferecer um ambiente seguro dentro de casa para que a criança ou o jovem LGBTQIAP+ se sinta confortável para falar sobre a sua própria sexualidade é essencial para que ela/ele encontre um ponto de apoio para pedir conselhos, buscar amparo emocional e ter outras necessidades fundamentais para seu desenvolvimento supridas.
Afinal, contar ao mundo sobre a sua orientação sexual (ou mesmo sua identidade de gênero) não costuma ser uma das tarefas mais simples, dependendo do contexto em que a pessoa está inserida. É que, por um lado, as conversas sobre o assunto são mais comuns e as pessoas falam mais abertamente sobre temas ligados ao universo LGBTQIAP+, mas, por outro, ainda sobram preconceitos.
Muitos pais simplesmente não aceitam a orientação do filho ou buscam “respostas” para a situação — não é raro ouvir que “más companhias” influenciam a sexualidade da criança ou do adolescente. Porém, entre aqueles que acolhem melhor a notícia, há um sentimento de preocupação e tristeza: mesmo com a aceitação social da homossexualidade em ascensão e mesmo com a ampliação de casamentos homoafetivos, a homofobia existe e a vida pode ser mais "dura" para seus filhos.
“O que vejo no consultório é: este primeiro momento [de esclarecimento sobre a orientação sexual da criança ou do adolescente] é difícil para todos e a reação dos pais, geralmente, é de choque ou preocupação”, diz a psicóloga Flávia Freitas.
Porém, de acordo com a especialista, esse tipo de temor não faz sentido. “Essa reação mostra que há crenças limitantes ou distorcidas sobre como lidar com a homossexualidade. São pais e familiares não estão bem informados sobre o assunto, o que pode levar a conclusões preconceituosas e precipitadas”, pontua a psicóloga.
Meu filho é uma criança LGBT: como proceder?
Inicialmente, vale ressaltar que, pela Resolução nº 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia, a homossexualidade não é considerada doença, distúrbio nem perversão. “A forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade”, informa o texto.
Neste sentido, é importante entender que, em um contexto em que o filho ou a filha decida falar abertamente sobre sua homossexualidade (ou bissexualidade), “não há o que curar nem o que mudar, visto que não se trata de um problema”, salienta a psicóloga Flávia Freitas.
É essencial também encarar a situação sem aversão. “O ideal é adotar uma postura de ‘estar ao lado’. É muito importante manter um bom relacionamento durante esse processo de descoberta ou de assumir publicamente. Acompanhar o jovem nesse processo e aceitá-lo contribui para que ele possa viver sua experiência sem culpa”, acrescenta.
A especialista recomenda ainda um exercício de reflexão aos pais. “Pense da seguinte forma: ‘se o meu filho confiou em mim, é porque precisa da minha escuta afetiva e apoio, e não de reprovação’”, diz.
Grupos de apoio
Para familiares que se sentem, de certa forma, desamparados para oferecer o melhor acolhimento para seus filhos LGBTQIAP+, Flávia também lembra que, hoje em dia, existem diferentes grupos de pais que passam ou passaram pela mesma experiência.
“Busque o máximo de informações para que você possa entender e ajudar seu filho caso necessário, ao invés de afastá-lo. Existem grupos de apoio, como o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), uma ONG que há mais de 30 anos oferece apoio para pais de gays e lésbicas”, afirma a especialista.
A internet é outro recurso que pode ajudar nesse momento, com sites de relatos, espaços de conversas e trocas de experiências. “Isso ajuda a enxergar a situação com mais calma e descobrir, aos poucos, como agir em relação a homossexualidade do jovem. E lembrando sempre que cada indivíduo é único e tem seu processo”, finaliza.