Joji Ueno é ginecologista-obstetra. Dirige a Clínica Gera e o Instituto de Ensino e Pesquisa em Medicina Reprodutiva de...
iO ser humano vive cada vez mais. Com a ajuda da tecnologia e da adoção de hábitos saudáveis, a expectativa de vida não só aumenta com também a sua qualidade. Esse novo panorama tem se refletido em novos anseios e aspirações da mulher, principalmente no mercado de trabalho, o que tem levado a gestações cada vez mais tardias. Mas, infelizmente, a função reprodutiva feminina não acompanha as tendências sociais do mundo moderno.
Tratamentos estéticos cada vez mais avançados são capazes sim de retardar o envelhecimento, mas, do ponto de vista biológico, a idade pesa e pode ser decisiva já a partir dos 35 anos. Com o tempo, a qualidade dos óvulos vai diminuindo e isso ocorre progressivamente. O resultado é que, só no Brasil, 10 milhões de pessoas têm dificuldades para engravidar, segundo dados do Ministério da Saúde.
Estima-se que a chance de uma mulher normal com idade inferior a 30 anos engravidar é de 20% por mês e depois dos 40 é de apenas 5%. Aos 34 anos, 11% das mulheres já são inférteis; aos 40, 33% e a maioria das mulheres tem seu último filho com 41 anos de maneira espontânea. Aos 45 anos, 87% são inférteis.
Isso acontece porque à medida que a mulher envelhece um dos principais fatores ligados à fertilidade sofre alteração, o envelhecimento e diminuição da reserva ovariana. A partir dos 35 anos o número de folículos em bom estado que restam nos ovários vai diminuindo. Os folículos, que começaram a ser formar quando a mulher ainda estava sendo gerada no útero materno, vão se deteriorando e sendo usados desde o seu nascimento. Quanto mais o tempo passa, menos óvulos viáveis a mulher tem.
Isso significa que os óvulos que a mulher tem são os mesmo que já tinha quando estava na vida intrauterina da mãe, e eles vão sofrendo uma série de agressões causadas por impactos ambientais, como estresse, alimentação, etc. Assim, as chances de engravidar caem drasticamente e a probabilidade de enfrentar problemas de fertilidade aumenta de forma significativa.
Idade é principal fator, mas não o único
Embora a perda da capacidade de ovular seja uma consequência natural do envelhecimento, a idade não é único fator que influencia na qualidade e quantidade dos óvulos. Saiba quais são eles:
Álcool - Tomar uma garrafa de vinho ou cinco doses de outra bebida por semana pode reduzir em até 40% as chances para se conseguir uma gestação, além de realizar um efeito negativo no desejo sexual (libido) em ambos os sexos. O álcool resulta em um inadequado funcionamento dos ovários com consequente irregularidade do ciclo menstrual (incluindo ausência de ovulação e menstruação) e produção de óvulos de baixa qualidade; aumenta o risco de aborto espontâneo; e antecipa a menstruação.
Cigarro - A nicotina e outras substâncias nocivas contidas nos cigarros interferem na capacidade do organismo feminino de produzir os hormônios que regulam a ovulação e predispõem os óvulos a anomalias genéticas. E o impacto negativo em mulheres fumantes passivas é praticamente o mesmo que o visto em fumantes ativas. Além disso, os malefícios do cigarro também afetam pacientes que estão realizando tratamento de fertilização in vitro. Elas necessitam de mais medicamento para estímulo dos ovários, têm menos óvulos e menores taxas de implantação e gravidez.
Drogas - O uso de drogas afeta diretamente a produção hormonal do cérebro. Hormônios anabolizantes, maconha, cocaína e outras drogas são capazes de deteriorar os óvulos das mulheres (e, no caso dos homens, até comprometer gravemente a capacidade de formar espermatozoides normais).
Obesidade - Também está associada a uma maior incidência de infertilidade já que aumento de gordura corporal interfere significativamente no equilíbrio hormonal, dificultando as chances de engravidar. Isso acontece porque as mulheres obesas apresentam níveis muito altos de gorduras e inflamação no fluido folicular que rodeia seus óvulos, o que pode ter um impacto no potencial desenvolvimento da célula.
Endometriose - O quadro profundo, assim como outras síndromes genéticas, pode afetar não só a qualidade dos óvulos, mas também a sua quantidade, comprometendo ainda mais as possibilidades de se obter uma gestação.