O Dr. Roberto Dischinger Miranda possui título de especialista em cardiologia e geriatria. Obteve o título de Doutor em...
iA população brasileira vem ganhando muitos anos de vida, passando por um importante processo de envelhecimento. Devido a isso atualmente há uma longa convivência com doenças que aumentam de frequência com a idade, tais como: diabetes, hipertensão, osteoporose, distúrbios gastrointestinais, artrose, problemas de coração, doença de Alzheimer, dor crônica, entre outras.
Ao mesmo tempo, nas últimas décadas, houve uma grande evolução na disponibilidade de medicamentos para as diversas doenças que acometem as pessoas idosas. Além disso, cada vez mais os medicamentos precisam ter sua segurança e eficácia bem demonstradas. Se por um lado estas são excelentes notícias, por outro lado levam a um inevitável aumento do consumo de medicamentos por tempo prolongado.
Desta forma, comumente o idoso está exposto a chamada polimedicação, que pode ser definida como o uso de cinco ou mais medicamentos de uso contínuo. A polimedicação é uma realidade frequente e exige uma série de cuidados do(s) médico(s) e profissionais de saúde assistentes.
Vamos destacar alguns princípios gerais na utilização de medicamentos pelo idoso, que devem ser considerados:
Avaliação do risco-benefício
Esta é a primeira análise realizada. Antes de prescrever um medicamento para um novo sintoma, o médico avalia se o novo sintoma requer realmente tratamento com remédio. O medicamento é escolhido por ter o melhor potencial de efeito benéfico para cada caso. Por outro lado, todo medicamento pode ter também efeitos colaterais, cuja frequência em geral é menor que a estimada pelos pacientes. Somente o médico pode avaliar corretamente, se um determinado medicamento é o mais adequado para o seu caso e se terá mais benefícios que riscos. Outra possibilidade que deve ser avaliada é se o novo sintoma pode ser efeito colateral de alguma medicação em uso, devendo neste caso ser trocada.
Medidas não-farmacológicas
A assistência ao idoso característicamente é multidisciplinar. A atuação dos diferentes profissionais traz inúmeros benefícios, fazendo o tratamento ser mais completo. A alimentação adequada, a fisioterapia, os exercícios bem orientados, reabilitação cognitiva, são exemplos de medidas não-farmacológicas muito importantes.
A equipe de assistência ao idoso, na dependência da necessidade individual, além do médico, deve ser composta por: erfermeira, nutricionista, terapeuta ocupacional, psicóloga, fisioterapeuta, fonoaudióloga, assistente social, dentista, personal trainer, entre outros.
Percebemos na prática certa resistência dos pacientes para iniciar o acompanhamento, mas aqueles que se dedicam colhem frutos muito importantes para saúde. Sempre que possível deve-se lançar mão deste tipo tratamento, o que pode evitar o uso de medicamentos ou possibilitar o uso de doses menores.
Ter um médico primário
Para uma abordagem completa à sua saúde, é comum o paciente ser acompanhado por vários médicos de diferentes especialidades, tendo com isso várias receitas. É muito importante que o paciente informe a cada um dos médicos todos os medicamentos em uso.
Idealmente todos devem ter um dos médicos como o médico primário, que tentará racionalizar ao máximo o tratamento. O geriatra ou o clínico geral é que normalmente assumem este papel, atuando em conjunto com os especialistas.
A necessidade de cada medicamento deve ser reavaliada periodicamente pelo médico assitente, com ajuste de doses, suspensão ou troca de medicamentos em caso necessidade.
Levar os medicamentos na consulta médica
É muito interessante que o paciente e seu cuidador levem todos os medicamentos em uso. Desta forma é possível mostrar ao médico exatamente como utiliza cada medicamento e permite ao seu médico enfatizar as mudanças.
Limitações individuais
Idosos podem apresentar problemas de memória, alterações osteoarticulares, visuais e auditivas que podem afetar a compreensão e a execução de regimes terapêuticos, tanto para manusear embalagem como para acertar a quantidade de gotas ou comprimidos prescritos pelo médico.
Para este tipo de paciente idoso mais dependente que necessita de supervisão, é fundamental a participação de um cuidador (seja da família ou pessoa contratada), que precisa ser bem orientado quanto aos problemas do paciente.
Interações medicamentosas
Outro fator importante é a interação medicamentosa que consiste no fato que um medicamento pode modificar de forma signifiativa a atividade, o metabolismo ou a toxicidade de outro medicamento usado concomitantemente.
Existe ainda a possibilidade de interação dos medicamentos com o uso de álcool ou determinados alimentos. Podemos citar como exemplos a potencialização de um sedativo pelo uso de bebida alcoólica e que alguns medicamentos precisam do jejum completo para uma absorção adequada, enquanto outros o contrário ? devem ser consumidos com alimentos.
São inúmeras as possibilidades de interações, já existindo inclusive aplicativos eletrônicos onde podemos colocar todos os medicamentos em uso e nos ajudam a avaliar as potenciais interações. Existem casos de interações medicamentosas com efeitos adversos graves como confusão mental, comprometimento da memória, quedas com fraturas, pressão baixa e insuficiência renal aguda.
Automedicação
O uso de medicamentos deve ser sempre orientado pelo seu médico. Fuja da tentação!! Sabemos que um resultado brilhante num parente ou amigo com um caso "igual" ao seu, leva a crença que você se beneficiaria da mesma forma. Mesmo que pareça "igual", cada caso é um caso.
Existe uma ideia bem arraigada que os fitoterápicos, por serem "naturais", não possuem efeitos colaterais, interações farmacológicas ou contraindicações. Este é um erro grave que muitos cometem. Não use fitoterápicos sem o conhecimento do seu médico.
Conclusão
O uso de medicamentos em idosos com várias doenças crônicas e polimedicação, hoje, é uma realidade que deve ser encarada e apresenta um risco potencial de efeitos colaterais e interação medicamentosa. Devido a isso deve se dar ênfase as medidas preventivas, tais como, dieta balanceada e atividade física que devem ser instituídas o mais precoce possível para atingir um envelhecimento saudável, minimizando o surgimento de doenças crônicas. Quanto antes melhor, mas nunca é tarde para começar. Frequentemente a polimedicação é necessária e os cuidados devem ser redobrados tanto pelo médico quanto pelo paciente e cuidadores. O acompanhamento em conjunto com a equipe multiprofissional, visando não a quantidade mas a qualidade da prescrição, é um dos pilares da boa prática geriátrica.
Artigo escrito com a colaboração de Juliana Gomes, especialista em geriatria pela Unifesp e médica do Instituto Longevità.