
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a felicidade seguia um padrão ao longo da vida: começava alta na infância, despencava na vida adulta e voltava a subir depois da meia-idade. Mas e se o formato em “U” desse ciclo estiver mudando? Estudos recentes apontam que os jovens de hoje—especialmente os menores de 25 anos—estão enfrentando níveis alarmantes de insatisfação e problemas de saúde mental.
A adolescência, que antes era considerada uma das fases mais felizes, agora parece ser um período de maior angústia e insegurança. Redes sociais, crise climática, pressões acadêmicas e um mundo hiperconectado podem estar roubando o brilho dessa fase. Mas o que dizem os especialistas sobre essa mudança? E o mais importante: existe alguma coisa que possa ser feito para reverter esse quadro?
Como a felicidade de adolescentes e jovens adultos mudou na última década?
A teoria do formato em “U” sugere que a satisfação com a vida é maior na infância, na adolescência e na fase adulta mais avançada. Isso ocorre porque, no começo da vida, nos dedicamos a brincar e viver sem grandes preocupações ou pressões.
Após a crise da meia-idade, o cérebro passa a focar mais no positivo, deixando de lado medos acumulados, e as pessoas começam a destinar mais tempo a si mesmas, já que as responsabilidades com trabalho e filhos diminuem - essa ideia se baseia em mais de 600 estudos científicos.
No entanto, pesquisas recentes – como a conduzida por Blanchflower, um dos principais especialistas no assunto, em parceria com Bryson e Xu – mostram que a saúde mental dos jovens piorou significativamente. Com essa deterioração, a curva em “U” da felicidade parece estar menos evidente.
A felicidade não segue mais a curva em “U” porque existe uma lacuna na juventude
A ideia de que a felicidade segue uma curva em “U” ao longo da vida começou a ser questionada desde que dados de meio século atrás trouxeram novas evidências. Se você tem entre 30 e 60 anos, provavelmente já percebeu que crianças costumam demonstrar grande felicidade e que adultos mais velhos vivem suas vidas com mais leveza.
Se você pertence a essa faixa etária, talvez já tenha escutado frases como: “Os jovens de hoje não sabem mais se divertir”. Essa afirmação pode ter um fundo de verdade, pelo menos quando se trata de felicidade. Para entender melhor esse fenômeno, vale conferir a palestra de Morley Gunderson, ministrada por David Blanchflower, que apresenta dados detalhados sobre o tema.
Nessa apresentação, Blanchflower aponta um rápido declínio no bem-estar de jovens adultos (18 a 25 anos), especialmente entre as mulheres. Essa queda vem sendo observada desde 2017, embora alguns pesquisadores acreditem que tenha começado em 2014. O que deveria ser uma das melhores fases da vida – cercada de amigos, estudos universitários e novas experiências – pode já não ser tão feliz quanto antes.
O Relatório Mundial da Felicidade de 2024 reforça que a teoria do formato em U pode não se sustentar, já que adolescentes demonstraram uma queda na satisfação com a vida. Os motivos são diversos e variam de pessoa para pessoa, mas podem ser agrupados em algumas causas principais.
Por que os jovens estão menos felizes do que há uma década?
A adolescência, por si só, já é uma fase de intensas mudanças, marcadas por explosões hormonais e a busca constante por identidade. Nos últimos dez anos, esse grupo passou a interagir cada vez mais por meio de telas e menos pessoalmente.
Os smartphones são apontados como um dos fatores que contribuem para a piora no bem-estar psicológico dos jovens. Além da redução do contato social, que está diretamente ligado à felicidade, o uso excessivo das telas aumentou significativamente a insegurança e os medos dessa geração.
Antes das redes sociais, como Facebook e Instagram, as comparações aconteciam entre vizinhos ou com figuras públicas da televisão. Hoje, os jovens se comparam diariamente com pessoas do mundo inteiro – e, nessa competição, quase sempre se sentem em desvantagem, pois todos têm algo que os outros não têm.
Além disso, a incerteza sobre o futuro também pesa. Muitos jovens ouvem que terão dificuldades para conseguir empregos de qualidade e que o mercado imobiliário está cada vez mais inacessível. A soma desses fatores pode estar tornando adolescentes e jovens adultos mais infelizes, quebrando, assim, a antiga curva em “U” da felicidade.