Sou médico formado pela Universidade Estadual de Londrina em 1994.Atualmente, sou cirurgião vascular do Hospital das Clí...
iA suposta associação entre o uso prolongado de sapatos de salto alto e queixas vasculares, tais como edemas (inchaços), dores ou o aparecimento de varizes é antiga e frequentemente volta a ser motivo de questionamentos por parte das mulheres.
Primeiramente, é necessário apresentar dois fatos para que se possa entender por que o uso de sapatos de salto alto poderia interferir na circulação das veias das pernas:
Fato 1: A contração dos músculos das pernas, particularmente os das panturrilhas, é o principal mecanismo responsável por deslocar o sangue das pernas para as veias maiores do abdome, e daí de volta ao coração.
Fato 2: O salto alto modifica o caminhar de suas usuárias, fazendo com que a musculatura das panturrilhas seja menos utilizada, o que certamente resulta em congestionamento do sangue nas veias da perna e aumento focal da pressão sanguínea nestas veias.
Dito isto, fica mais fácil compreender por que os sapatos de salto alto interferem na fisiologia da caminhada e da circulação. Além dos efeitos circulatórios, ao andar com saltos a mulher altera os grupos musculares normalmente requisitados, diminuindo a atividade dos músculos das pernas e aumentando-a nos músculos das coxas. Ainda o centro de gravidade do corpo fica alterado, podendo influenciar na postura. Algumas pacientes que usam salto continuamente chegam a apresentar encurtamento dos tendões de Aquiles (localizados nos calcanhares).
Um estudo realizado na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto pesquisou o impacto do uso de sapatos de salto (salto agulha e plataforma) da circulação de voluntárias jovens e evidenciou que nestes casos o sangue apresentava maior tendência a se acumular nas veias das pernas, o que em longo prazo poderia repercutir na saúde destes vasos. O efeito também ocorre em saltos menores, mas com menor intensidade.
Apesar das evidências científicas, até hoje não se comprovou de forma definitiva que mulheres que usam sapatos de salto alto apresentem maior incidência de varizes de membros inferiores que as que utilizam sapatos baixos. É importante lembrar que as doenças venosas das pernas são de caráter multifatorial, isto é, causadas por diversas variáveis, tais como fatores genéticos, tipo de ocupação profissional e outros.
Naturalmente, mulheres que usam o salto ocasionalmente estão menos expostas a problemas do que aquelas que, por opção pessoal ou necessidade profissional e/ou social, usam o salto diariamente por longos períodos.
Uma forma de amenizar o impacto circulatório do uso do salto é realizar exercícios físicos simples, que podem inclusive ser feitos no trabalho, de maneira discreta. Movimentos de flexão e extensão dos pés (feitos na posição sentada, como se estivesse pisando intermitentemente no pedal do acelerador do carro) utilizam a musculatura das panturrilhas e, assim, melhoram o retorno do sangue para o coração. O uso de meias elásticas, desde que devidamente orientado por um cirurgião vascular, também pode aliviar sintomas em algumas pacientes.