A prescrição de medicamentos é a forma de tratamento mais usada nos transtornos mentais e psicológicos de maneira geral. A regra de ouro para qualquer tratamento é um bom diagnóstico, e no caso da psiquiatria precisamos avaliar se os sintomas não são causados por uma doença clínica de outras origens, por exemplo endocrinológica, neurológica ou cardiológica.
Podemos entender que a psicofarmacoterapia (prescrição de medicamentos psiquiátricos) é uma arte na qual o psiquiatra precisa considerar que em cada individuo haverá diferença na absorção e distribuição da droga no organismo, bem como na forma como será eliminada. Também em cada individuo os mecanismos de ação da droga e a relação entre sua concentração e os efeitos alcançados serão únicos.
Além dos itens ditos biológicos que foram citados, o psiquiatra está ciente da relação corpo e mente, cada qual influenciando e sendo influenciado pelo outro. E para tornar ainda mais espetacular essas relações, é obrigatório entender que tudo isso se passa em uma realidade familiar e cultural, que tem interferência no entendimento de como os tratamentos ocorrem.
Atualmente os estudos que testam a resposta dos medicamentos permitem que os psiquiatras possam inicialmente tratar quadros depressivos de diversas formas, ou seja, existem vários tipos de antidepressivos - mesmo quando pensamos em medicamentos de um mesmo tipo, ainda sim há mais do que uma possibilidade. Alguns exemplo são: fluoxetina, sertralina e escitalopram, todos antidepressivos de um mesmo tipo. Por isso os psiquiatras pensam em diversas outras condições além da doença em si para decidir qual medicação iniciar.
Uma das condições levada em conta é perfil colateral de cada medicamento. Existem medicamentos que em geral causam mais sono, por exemplo, e podem ser utilizados em pacientes que estão apresentando insônia. Já outras medicações diminuem o apetite e são evitadas em pessoas com dificuldades em manter um peso mínimo. Outra condição muitas vezes importante é saber as medicações que são utilizadas eventualmente por familiares e que ajudam de maneira substancial, pois algumas vezes um filho pode ter a melhor resposta com o mesmo medicamento que ajudou seu pai. Além disso, pacientes que já fizeram tratamento anteriormente e tiveram uma boa resposta podem voltar a ter uma nova resposta adequada com a mesma medicação.
Existem escalas que podem ser preenchidas pelos psiquiatras, equipe de enfermagem, familiares e o próprio paciente em diferentes fases do tratamento que verificam a adesão, os efeitos colaterais e as melhoras que ocorrem. Em geral, conversamos antes de começar uma medicação o que irá melhorar antes ou depois e em quanto tempo cada uma das melhoras costuma ocorrer. Além das melhoras também conversamos sobre os efeitos colaterais e os prazos para que eles possam diminuir ou sumir.
Temos prazos médios já conhecidos para as diferentes classes de medicamentos sobre quanto tempo devemos esperar até observar resposta. Por exemplo, quando utilizamos antidepressivos para quadros depressivos, sabemos que seis semanas é o prazo para que ocorra ao menos alguma melhora. O mais interessante é que o mesmo antidepressivo, quando usado para casos de Transtorno Estresse Pós-Traumático ou Transtorno Obsessivo Compulsivo, podem levar 12 ou até mesmo 20 semanas para se obter uma avaliação da melhora.
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Todas essas orientações feitas antes de começar a medicação e a cada reavaliação aumentam a possibilidade do tratamento ser bem sucedido. E caso não ocorra uma melhora no prazo esperado, mesmo com aumento da dose, ou caso os efeitos colaterais sejam difíceis de suportar, é possível optar pela troca da medicação junto com o paciente, que passa a ser corresponsável pelo tratamento e pelas decisões inclusive quanto aos medicamentos.