Gastroenterologista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com especialização pelo Hospital Federal de Lagoa...
iVocê sabia que a úlcera gástrica pode ser resultado de uma infecção bacteriana? Helicobacter pylori é uma bactéria que infecta cerca de dois terços da população mundial. Geralmente ela não causa sintomas, mas é responsável pela maioria das úlceras gastroduodenais, além de causar várias outras doenças.
A transmissão é feita de pessoa para pessoa através da via fecal-oral ou oral-oral, geralmente acontece na infância e está fortemente relacionada às condições socioeconômicas e sanitárias.
Essa bactéria desenvolveu a característica de secretar uréase, uma enzima que desdobra a ureia presente no ácido gástrico em amônia. Com isso ocorre um aumento do pH, criando um microambiente ao redor da bactéria que possibilita a colonização do estômago.
Apesar de geralmente ser assintomática, a infecção pelo Helicobacter pylori pode causar gastrite, úlcera gastro-duodenal e câncer gástrico, causando sintomas como dor abdominal, dispepsia, plenitude pós-prandial e náuseas. Essa diferença na expressão da doença envolve fatores, como o tipo de cepa de H. pylori e fatores relacionados ao paciente.
A infecção pode ser detectada com exames de sangue ou fezes, mas na prática são usados testes respiratórios e biópsias. No caso dos testes respiratórios, é administrado um composto de ureia com carbono marcado que, no caso da presença da bactéria, é metabolizado, absorvido, liberado na respiração e detectado pelo exame.
No caso das biópsias, elas são obtidas por endoscopia digestiva alta e podem ser utilizadas para o teste da uréase ou análise histopatológica. No teste da uréase o fragmento da mucosa gástrica é colocado em frasco contendo ureia e uma substância que muda de cor de acordo com o pH da solução. Na presença do Helicobacter pylori a ureia é metabolizada e o pH aumenta, o que faz com que a solução fique rosada. Na análise histopatológica, esse fragmento da mucosa gástrica é processado com corantes e pode-se ver diretamente a bactéria infectando a mucosa.
Nem todos que apresentam Helicobacter pylori devem ser tratados. Entre as indicações de tratamento aceitas atualmente podemos citar as seguintes: úlcera gastroduodenal, gastrite histológica intensa, história pessoal de câncer gástrico, parentes de primeiro grau de pacientes com câncer gástrico, linfoma MALT gástrico, anemia por carência de ferro sem causa aparente, púrpura trombocitopênica idiopática, uso crônico de com anti-inflamatórios, dispepsia funcional e o desejo do paciente de ser tratado.
O tratamento da infecção é feito com uma combinação de antibióticos (sendo a associação mais comum amoxicilina com claritromicina) e inibidores de bomba de prótons, por sete a quatorze dias. Resistência bacteriana aos antibióticos é um problema crescente para várias infecções e com o Helicobacter pylori não é diferente. Os índices de cura não chegam a 100%, daí a necessidade de ser feito um exame após o tratamento para documentar a cura. No caso de não erradicação com o tratamento inicial, nos resta outras combinações de antibióticos e inibidores de bomba de prótons para retratamento, além da possibilidade de enviar material para cultura com análise do padrão de sensibilidade daquela cepa bacteriana aos diferentes antibióticos.
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A recidiva da infecção deve ser evitada através de medidas de higiene como a lavagem das mãos antes de manipular alimentos e de comer.
*Artigo escrito em parceria com médico clínico geral Rubens Cleto Moreira Vieira