Médica dermatologista formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Integra o corpo clínico d...
iMais da metade das pacientes que procuram o consultório dermatológico se queixam espontaneamente de queda de cabelo em algum momento da consulta. Dificilmente alguma mulher irá negar os sintomas se questionarmos ativamente. Por que isso acontece? Estamos todas doentes? É uma epidemia? Culpa de nossa alimentação?
Antes de mais nada é preciso esclarecer algo que pode surpreender a maior parte dos leitores: os cabelos caem como parte normal de seu ciclo de vida e é importante diferenciarmos a queda normal da queda patológica. Muitas vezes as pacientes que nos procuram acabaram de se mudar, trocaram o piso de casa ou se casaram e passaram a se assustar com a quantidade de fios "perdidos" por aí. Dependendo do comprimento do cabelo, essa impressão pode ficar ainda mais acentuada!
Cabe, portanto, ao médico dermatologista examinar o couro cabeludo em busca de alterações e realizar o exame de tração, em que puxamos os fios em tufos, na cabeça toda, para quantificarmos a queda e determinarmos se é uma queda normal do ciclo do cabelo ou se é uma queda disfuncional.
A queda disfuncional é causada por doenças sistêmicas como anemia, doenças da tireoide, distúrbios nutricionais e também pode surgir após infecções que cursaram com febre alta, após tratamentos hormonais, após cirurgias e após o parto, dentre as causas mais comuns. Algumas doenças cutâneas podem levar à queda, como a alopecia areata, mas nestes casos, além da queda, há a presença de áreas sem pelos.
No entanto, conforme mencionamos anteriormente, na grande maioria dos casos, trata-se apenas da queda normal do ciclo do cabelo. E é fundamental esclarecermos como ele funciona para evitar dúvidas e tratamentos desnecessários com shampoos e fórmulas "milagrosos" que muitas vezes representam um gasto inútil.
O ciclo de crescimento dos cabelos
O crescimento dos cabelos é cíclico e nem todos os fios estão na mesma fase de crescimento: se isso acontecesse, ficaríamos carecas por alguns períodos. O fio de cabelo cresce por um período geneticamente determinado, que dura de dois a seis anos. Durante essa fase, chamada anágena, o fio atingirá seu comprimento máximo. Dependendo de quanto ela dure, os seus cabelos poderão ser mais longos ou mais curtos. Depois dessa fase há uma interrupção no crescimento dos fios e tem início a fase catágena, que dura poucas semanas. Finalmente o fio entra na fase telógena, em que ele se prepara para cair, porém isso só ocorre quando um novo fio está pronto para nascer dentro daquele folículo. Essa última fase dura cerca de três meses.
Um adulto normal apresenta 10% dos fios na fase telógena! Isso significa que, se considerarmos a quantidade normal de cabelos no couro cabeludo, é absolutamente normal e dentro do esperado uma queda de cerca de 100 fios ao dia. Mesmo quando o paciente tem um aumento na queda, devido à presença de alguma das condições clínicas supracitadas, precisamos orientar e esclarecer três pontos muito importantes:
1) Mesmo em grandes volumes, essa queda não irá resultar em calvície;
2) É o problema mais benigno que pode ocorrer nos cabelos, pois uma vez eliminada a causa, o paciente recupera todos os cabelos perdidos;
3) A calvície feminina ou alopecia androgenética é outra doença e já foi abordada em outros conteúdos do site.
Portanto, o dermatologista irá, em primeiro lugar, realizar um exame clínico para determinar se a queda é ou não é patológica e na sequência irá esclarecer o paciente sobre o ciclo do cabelo, no primeiro caso, ou pedir exames complementares, no segundo. Espero ter contribuído para ajudá-las a compreender melhor sobre essas questões!