Cirurgião-geral pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e pela Universidade de São Paulo (USP). É...
iAs operações bariátricas são as formas mais eficazes de perda de peso e melhora das doenças associadas à obesidade mórbida. A mais comumente utilizada no Brasil é a gastroplastia em Y de Roux. Este nome difícil pode ser traduzido como a diminuição do estômago associado a um desvio normalmente curto da porção inicial do intestino delgado. Essa operação funciona através de alterações de hormônios gástricos e intestinais que diminuem a fome, aumentam a saciedade dentre outros diversos mecanismos.
Essas cirurgias podem ser feitas com cortes grandes, chamadas de cirurgias abertas ou convencionais ou por via videolaparoscópica. Para a realização de uma operação por laparoscopia algumas pequenas incisões são realizadas, de 0,5 a 1,2 cm, e insuflada a cavidade abdominal com gás carbônico para a criação de espaço dentro da mesma para que o cirurgião possa trabalhar com o auxílio de uma videocamera e de instrumentos e grampeadores especiais. Mas, a ausência de grandes cortes no abdomen não é a única grande vantagem da laparoscopia. Secundariamente às pequenas incisões, existe menos manipulação dos órgãos intra cavitários e consequentemente a agressão cirúrgica é menor, acarretando enormes vantagens desse método quando comparado com a cirurgia convencional. A esses benefícios, soma-se a menor intensidade da dor pós-operatória, medida diretamente pela menor quantidade de analgésicos consumida pelos pacientes e coroando as vantagens, a alta hospitalar mais precoce e o mais rápido retorno às atividades diárias.
Hoje em dia, em centros de alto volume cirúrgico e que contam com cirurgiões experientes, as operações são relativamente rápidas, durando de 50 a 90 minutos. Após o final, os pacientes são encaminhados acordados para a ala de recuperação pós-anestésica, onde ficam em geral cerca de uma hora. A grande maioria dos pacientes vai imediatamente para o quarto. Às vezes, dependendo da gravidade das doenças associadas, as primeiras 24 horas são passadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em nosso grupo, a média de internação em UTI é menor do que 0,5%. A internação hospitalar varia de 36 a 48 horas.
Como é a dieta no pós operatório? Normalmente o paciente é alimentado no 1o dia de pós operatório com dieta líquida, fracionada, para que exista uma adaptação à vida nova. Com a orientação multidisciplinar, contando com cirurgião, clínico e nutricionista, serão explicadas maneiras e tipos de alimentos liberados para essa primeira fase. A duração da fase líquida é de 7 a 10 dias, permitindo-se então um progresso para dieta mais cremosa/pastosa e ao redor dos 25/30 dias depois da cirurgia, acontece a transição para comida normal.
Nesse primeiro mês, um fato inédito para os obesos costuma acontecer, que é o estímulo à ingestão, já que existe uma sensação de saciedade e também existe a obrigação de se manter hidratado e consumindo um mínimo de calorias (por volta de 600 a 1000 por dia). Desde a primeira semana, os pacientes em pós operatório devem iniciar a suplementação vitamínica, que é necessária, pois existe ingestão de menor quantidade de alimentos, já que na gastroplastia em Y de Roux não há má absorção importante de nutrientes. Também nas primeiras 3 semanas, prescreve-se antiácidos como a ranitidina, em forma líquida, para diminuir efetivamente a taxa de formação de úlceras no novo estômago. O uso desse tipo de drogas, associado a pequenas modificações da técnica operatória trouxe esse índice a cerca de 1%.
Analgésicos são prescritos se necessário e não de horário e normalmente são drogas simples como a dipirona e paracetamol. A média de retorno ao trabalho com o acesso videolaparoscópico (de 7 a 10 dias após a operação) é muito menor que na operação convencional. Exercícios, quaisquer que sejam, são liberados a partir 21 a 30 dias de pós-operatório, desde que a operação tenha sido por videolaparoscopia.
Finalmente, as operações bariátricas, quando indicadas adequadamente, trazem consigo muitas vantagens e com recuperação rápida e retorno precoce à vida normal. Em resumo, pouco sofrimento para imensuráveis benefícios clínicos e de qualidade de vida.