Fisioterapeuta graduado pela Universidade de São Paulo (USP). Possui especialização em Fisiologia e Biomecânica do Apare...
iQual a primeira coisa que nos vem à cabeça quando pensamos em dores nas pernas? Concordo que não é tão simples quanto pensar em dores de cabeça ou coluna, mas ultimamente está cada vez mais comum encontrarmos pessoas reclamando deste problema.
Antes de tudo, vamos definir o que é uma perna. A região que está entre nosso quadril e o joelho é conhecida como coxa; a região entre o tornozelo e a ponta dos dedos é chamada de pé; e por fim, a região que está entre nosso pé e nossa coxa é chamada de perna. Anatomicamente, o conjunto destas três partes (coxa, perna e pé) é chamado de membro inferior e em nosso corpo temos o direito e o esquerdo. Mas já que o assunto é sobre as pernas, vamos detalhá-la um pouco mais.
Ela possui basicamente dois ossos, bem próximos um do outro. A tíbia, popularmente conhecida como "canela" é mais grossa que a fíbula, que fica do lado de fora da perna. Atrás desses ossos está a panturrilha, ou "batata da perna", nada mais que um conjunto de músculos potentes, cuja função principal é a de jogar a ponta dos pés para baixo quando se está em pé. Na parte da frente da perna temos bem menos músculos, onde o principal deles é aquele que puxa o pé para cima. Nas laterais, temos os músculos que movimentam os pés para os lados.
Além de músculos e ossos, as pernas possuem vasos sanguíneos, nervos, sistema linfático, entre outras estruturas. Mas para este assunto, vamos tratar somente destas principais:
Músculos: Toda vez que os usamos mais do que ele está acostumado, ocorre uma pequena inflamação. Se fizermos isso várias vezes, ela aumenta e machuca as fibras musculares, contribuindo para o aumento das dores. As principais causas disso são o excesso de peso, atividades físicas excessivas e de alto impacto sem o repouso necessário, fraqueza muscular, má postura, maus hábitos alimentares, entre outras. A fisioterapia nestes casos irá intervir na redução da tensão muscular, com o ajuste postural, alongamentos, técnicas de relaxamento muscular, analgesia e até mesmo fortalecimento de músculos vizinhos. Isto porque quando existem músculos que não estão funcionando corretamente, outros próximos a eles terão que trabalhar mais. Assim, quando se tem todos os músculos trabalhando de forma equilibrada, nenhum deles será sobrecarregado. Para isso é preciso avaliar o músculo, postura e biomecânica. O tempo de melhora varia conforme a intensidade do problema e da resposta física de cada pessoa, podendo levar de semanas a meses.
Vasos sanguíneos: Essenciais para levar sangue ao corpo. O sangue é responsável por levar oxigênio, vitaminas, sais minerais e outras substâncias essenciais a todos os tecidos do corpo, mantendo as células saudáveis. No caso das pernas, se o sangue não chegar adequadamente, os músculos ficarão cansados, os ossos mais fracos, a pele ressecada e fria, os nervos mais sensíveis. Existem alguns problemas na perna onde o sangue não flui bem pela tensão excessiva dos músculos, comprimindo os vasos e dificultando a chegada e a saída de sangue, gerando dores e inchaço. Nestes casos, a fisioterapia age no relaxamento muscular, no movimento das articulações vizinhas e em exercícios coordenados, que melhoram o bombeamento sanguíneo. Porém, boa parte dos problemas circulatórios devem ser acompanhados por médicos, pois as principais causas de deficiências vasculares estão associadas a problemas de coração.
Nervos: Quando estão afetados, podemos ter variações de sensibilidade (para mais ou para menos) e alterações no controle dos músculos. Para afetá-los não é tão difícil. Se receber uma pancada na perna, vai sensibilizar um grupo de nervos, que irão enviar um sinal de dor ao cérebro. Quando se está com um pinçamento na coluna, às vezes é possível sentir um reflexo no glúteo, atrás da coxa ou até mesmo nas pernas, pois os nervos que passam pelo membro inferior originam-se na coluna. Existem doenças neurológicas que diminuem o controle dos músculos e que podem gerar aumento da sensibilidade, causando dor, mesmo com estímulos muito fracos. Estas doenças são uma parcela muito menor dentre as principais causas de dores nas pernas. De modo geral, a fisioterapia costuma ser mais lenta para os nervos, pois eles demoram mais para recuperarem-se. São feitos exercícios, alongamentos, técnicas para diminuir a inflamação neural, analgesia, entre outras ferramentas mais específicas.
Sistema linfático: É um sistema composto por estruturas que funcionam como um sistema de esgoto, captando os fluídos excretados pelas células do corpo e levando para um local específico, onde será tratado para ser reaproveitado ou eliminado. Quando ele não está eficiente, no caso da perna, ela fica inchada e em alguns casos a pele fica brilhante, de tanto líquido que fica acumulado. O sistema linfático trabalha em conjunto com os vasos sanguíneos e por isso, geralmente quando um está ruim, o outro também sofre as consequências. A fisioterapia nestes casos possui um recurso bem conhecido, que é a drenagem linfática, uma técnica onde se utiliza o movimento das mãos para desobstruir o sistema linfático, diminuindo o acúmulo de líquidos e toxinas que ficam armazenadas nos casos deficientes. Os resultados são imediatos, mas um tratamento completo pode levar semanas, dependendo de cada caso.
Antes de terminar, vale lembrar que as causas aqui descritas foram didaticamente separadas em tópicos, mas muitas vezes o que ocorre é uma associação das estruturas e raramente um único fator isolado. Em muitos casos os tratamentos são complexos, necessitando a intervenção de diversos profissionais da saúde. Por isso, é fundamental informar que a fisioterapia para dores nas pernas deve ser um tratamento indicado pela medicina, após uma série de avaliações clínicas e às vezes, de exames laboratoriais. Ou seja, se sentir algo estranho nas pernas, pergunte ao seu médico.