Médico especializado em angiologia e cirurgia vascular graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é...
iAs úlceras são feridas que aparecem nas pernas decorrentes de traumatismo local. Para entender melhor o que acontece, vamos lembrar um pouco o funcionamento da circulação.
O coração é um órgão que funciona como uma bomba, jogando sangue com muita pressão através das artérias para todo o corpo, incluindo as extremidades. Ele conta com uma ajuda valiosa no caso dos membros inferiores, que é a lei da gravidade, ou seja, o sangue, que é líquido, flui com muita força até os pés. Mas este sangue que chega aos pés tem que voltar.
Para sua volta ao coração, o sangue conta com as veias, que são tubos cilíndricos valvulados que permitem que o sangue passe na direção do coração e por meio de suas válvulas impedem que este mesmo sangue volte para os pés. Quando uma pessoa tem varizes, que são dilatações venosas e que deixam as válvulas venosas sem funcionar, esta dificuldade de retorno do sangue leva a um aumento de pressão dentro destas veias, causando inchaço, aumento da temperatura local e extravasamento de moléculas para fora da veia. Esses sintomas vão causar uma inflamação na pele e que pode levar a pessoa a coçar ou mesmo machucar e aí se inicia o processo de ulceração.
Outros fatores que ajudam a desencadear o processo são obesidade e ficar muito tempo parado de pé ou sentado. Resumindo: úlceras venosas são devido à hipertensão dentro das veias.
As úlceras venosas normalmente se apresentam na face interna da perna, em pacientes que têm varizes, ou a perna com uma tonalidade marrom (dermatite ocre), são geralmente indolores quando não têm infecção e de crescimento lento e progressivo.
Tratamentos das úlceras venosas
Como são úlceras por hipertensão venosa, ou seja, devido à grande pressão dentro da veia para retornar com o sangue para o coração, o melhor tratamento é eliminar esta hipertensão. Em um primeiro momento, uma atitude que ajuda muito é elevar os pés acima do coração, usando a lei da gravidade a favor do retorno do sangue venoso. Esta elevação ajuda a diminuir o edema, melhora a circulação local e inicia o processo de cicatrização. Para eliminarmos o problema de vez, devemos operar as veias varicosas acometidas, diminuindo a hipertensão local, normalizando a circulação local. Além destes tratamentos, temos o uso da meia elástica e em certos casos usamos curativos no local da ferida para melhorar a úlcera até poder operar.
O tipo de curativo mais simples é denominado bota de Unna. Ele é uma bandagem feita com gelatina que deixa uma faixa cobrindo o membro por vários dias. Além dele, existem curativos mais sofisticados, que trazem carvão ativado e outros medicamentos. Enfim, todos esses tratamentos são paliativos e ajudam a preparar o paciente para a cirurgia. Após a cicatrização da ferida é altamente recomendável o uso de meias elásticas medicinais.
Úlcera por síndrome pós-trombótica
A síndrome pós-trombótica é um conjunto de sinais e sintomas que acontecem alguns anos após um episódio de trombose venosa profunda. Durante a trombose, o coágulo que se forma dentro das veias do sistema profundo causa uma lesão nas válvulas, presentes em grande número nestas veias e que quando estão funcionando impedem o retorno (refluxo) do sangue venoso para os pés. A consequência desse processo é uma hipertensão venosa do sistema venoso profundo que leva a edema do membro e uma grande dificuldade de retorno da circulação venosa.
Nestes casos também pode acontecer uma úlcera na perna decorrente da dermatite de estase que se instala devido ao edema. O tratamento nestes casos não é cirúrgico, mas devemos ter como meta para cicatrizar a lesão. Para tanto, é preciso diminuir a hipertensão através da elevação dos membros acima do coração, uso de contenção elástica externa (inclusive meias elásticas medicinais) e combater a infecção ou a inflamação se presentes. A medida mais importante continua sendo diminuir a hipertensão, facilitando a cicatrização da lesão. Após cicatrizada é altamente recomendável o uso de meias elásticas continuamente e medidas de saúde coadjuvantes como manter um peso ideal, uma atividade física regular que trabalhe a panturrilha e a elevação sistemática dos membros inferiores sempre que possível.