Possui graduação em medicina pela Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (2009). Possui títu...
iCastração química ou terapia de deprivação androgênica (TDA) é o nome dado ao tratamento para câncer de próstata usando agentes com ação direta no eixo hipotálamo-hipófise-gônada, cujo resultado final é a supressão dos níveis de testosterona no organismo.
Uma secreção pulsátil pelo hipotálamo estimula a produção do hormônio luteinizante (GnRH) pela hipófise e este, por sua vez, estimula a produção de testosterona pelas células de Leydig no testículo.
Agentes como leuprolide e goserelina são medicamentos cujo uso contínuo inibe a secreção pulsátil do GnRH, o que culmina com a supressão dos níveis de testosterona. Além disso, foi disponibilizado mais recentemente o degarelix.
A TDA é utilizada basicamente em dois cenários distintos para pacientes com câncer de próstata (CaP): nos pacientes com doença localizada, associada a radioterapia, por um período de 4 a 36 meses ou então como primeira linha de tratamento hormonal no paciente com doença metastática, por tempo indeterminado.
Em pacientes com câncer de próstata localizado, a adição da TDA à radioterapia está associada a melhores desfechos, elevando inclusive as chances de cura em alguns casos. A duração da TDA nesse contexto varia conforme alguns critérios que classificam o tumor em risco intermediário ou alto (nível do PSA, extensão do tumor, escore de Gleason). Naqueles com risco intermediário, a duração varia entre 4 a 6 meses, enquanto naqueles com alto risco está indicada a castração química por 3 anos.
Já os pacientes com doença metastática, cuja intenção do tratamento é paliativa, devem se manter sob estado de deprivação androgênica por tempo indeterminado. Nesses casos, esse objetivo pode ser obtido por meio dos agentes agonistas do GnRH citados anteriormente, ou então por meio da retirada cirúrgica de ambos testículos (orquiectomia bilateral).
O estado de castração deixa o paciente sujeito a uma série de alterações comportamentais, fisiológicas e na composição corporal que são proporcionais a duração do tratamento:
- Perda de massa magra, aumento da gordura corporal e diminuição da forca muscular;Perda de libido e/ou disfunção erétil;Perda de massa óssea e osteoporose;Fogachos;Ginecomastia;Alterações comportamentais;Fadiga e sensação de falta de energia;Aumento do colesterol e triglicérides;Possível aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Aqueles homens submetidos à castração química ou cirúrgica devem ser incentivados a praticar atividade física e a fazer programa de rastreamento ativo de diabetes e dislipidemia. A propensão a estes dois problemas pode justificar um maior risco cardiovascular nesses pacientes, o que ainda é discutível na literatura médica.
Antes do inicio da TDA, todo paciente deve ser submetido a uma avaliação da sua saúde óssea, uma vez que o ambiente de hipoandrogenismo pode induzir perda de massa óssea. Sendo assim, todo paciente deve fazer uma densitometria óssea antes do inicio do tratamento e fazer uso de cálcio 1.200 mg/dia e vitamina D 1.000 U/dia de forma profilática. Caso já exista osteoporose instalada, o uso de bifosfonados poderá ajudar (alendronato, zoledronato).
Alterações comportamentais, perda da libido e falta de energia são as alterações mais frequentes, e devem ser tratadas prontamente a fim de não comprometer a qualidade de vida. Psicoterapia pode ajudar a entender este momento no qual tantas alterações estão ocorrendo no organismo e com isso facilitar a tolerância e o manejo destes sintomas.
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Fogachos podem surgir em até 80% dos pacientes submetidos à TDA e são descritos como uma sensação súbita de calor na cabeça e no segmento superior do corpo, que pode ou não vir acompanhada de sudorese profusa. Drogas inibidoras da recaptação da serotinina possuem alguma atividade nesta condição, sendo a venlaflaxina a melhor estudada. Em um estudo randomizado de fase III, doses baixas de medroxiprogesterona ou acetato de ciproterona se mostraram superiores no controle destes sintomas. A gabapentina na dose de 900 mg/dia também se mostrou ativa no controle dos fogachos.
Sendo assim, a castração, seja química ou cirúrgica, segue sendo parte crucial no tratamento dos pacientes com câncer de próstata, e o manejo dos seus efeitos colaterais são de suma importância para não perdermos em qualidade de vida.