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Segundo dados do Ministério da Saúde, as quedas são responsáveis por mais de 61% das admissões de idosos em pronto-socorro. Estima-se que 1 em cada 3 indivíduos com mais de 65 anos sofrerá pelo menos uma queda ao longo da vida. "Deste grupo, cerca de 1 em cada 20 idosos sofrerá uma fratura em decorrência da queda ou precisará de internação", afirma a geriatra Fania Santos, professora de geriatria e gerontologia. Dentre os mais idosos, acima de 80 anos, a frequência de quedas é ainda maior: cerca de 40% caem a cada ano. Entre os que moram em asilos e casas de repouso, a ocorrência é de 50%.
Além das fraturas serem mais recorrentes nessa faixa etária, os riscos também aumentam, necessitando de cuidados redobrados. Conheça as complicações mais comuns de fraturas na terceira-idade e como virar esse jogo:
Entendendo o risco
É sabido que a chance de fraturas aumenta com o avançar da idade, principalmente aquelas decorrentes da osteoporose, uma doença muito prevalente nos idosos. Os locais mais acometidos por fraturas são: punho, úmero (osso que liga o ombro ao cotovelo), corpo vertebral e quadril, sendo que o principal gatilho para fraturas são as quedas.
De acordo com a geriatra Ana Laura de Figueiredo Bersani, as quedas ocorrem em consequência de fatores intrínsecos e extrínsecos. "Os fatores intrínsecos incluem idade, quedas anteriores, redução da acuidade visual, tontura, distúrbios do equilíbrio e da marcha, lesões do sistema nervoso, doenças do aparelho locomotor, comprometimento dos mecanismos reguladores da pressão arterial (barorreceptores), os quais predispõem a hipotensão ortostática, o distúrbio cognitivo, a depressão e os transtornos do sono", diz. Já os fatores extrínsecos relacionam-se às condições de pisos, iluminação, escadas, cadeiras, mesas, leitos, banheiros, calçados, órteses mal-adaptadas e barreiras físicas.
Entre os riscos de fraturas em idosos está a alta taxa de hospitalização e internação de longa permanência, além do aumento da mortalidade. "A queda pode ser um marcador de doença aguda, manifestação de doença crônica ou progressão desta", afirma Ana Laura. Restrição de mobilidade, incapacidade funcional, isolamento social e insegurança também são consequências comuns, que podem culminar em outros eventos prejudiciais à saúde e qualidade de vida dos idosos.
A geriatra Fania ressalta que todos os idosos que sofreram uma queda devem passar por uma avaliação médica. "Primeiro para eliminar a possibilidade de fraturas, segundo para investigar as causas envolvidas na queda", lembra. Mesmo que não haja fraturas, diz Fania, deve-se controlar bem a dor e evitar que a diminuição do movimento gere piora da autoestima, tanto pela queda quanto pelo aumento da dependência.
Tempo de recuperação é maior
Pelo fato de o idoso ter a saúde naturalmente mais comprometida, ele também demora mais para se recuperar da fratura - em alguns casos, a recuperação não é total. Tomando como exemplo a fratura de quadril, a geriatra Ana Laura afirma que um ano após o acidente 40% dos pacientes ainda são incapazes de andar sem ajuda, 60% tem dificuldade em pelo menos uma atividade das tarefas diárias, 80% sofrem restrição em outras atividades como dirigir e fazer compras e 27% destes pacientes são institucionalizados, ou seja, passam a viver em asilos ou casas de abrigo. "A incapacidade funcional e restrição da mobilidade ocasionada pela fratura podem favorecer complicações como úlceras por pressão e problemas respiratórios e urinários", completa.
Risco de infecção hospitalar
Pacientes que precisam ser internados em decorrência de uma fratura estão sujeitos a infecções hospitalares, principalmente devido à dificuldade de administrar antibióticos em tecido ósseo e à necessidade de repetidas intervenções, como a retirada da prótese. A incidência é ainda maior em idosos que já apresentem outros focos de infecção em locais como pele, dentes e trato respiratório e urinário. "Entre os cuidados preventivos estão uma avaliação pré-operatória acurada para descartar esses possíveis focos", explica Ana Laura.
Problemas da falta de mobilidade
A fratura em locais como quadril e coluna pode impedir o paciente de se locomover durante o período de recuperação, ou então comprometer essa mobilidade de maneira crônica. A impossibilidade de se locomover adequadamente pode deixar os ossos ainda mais frágeis e favorecer novas fraturas, além de causar dor crônica, perda da independência, restrições sociais e isolamento.
"O impacto sobre a qualidade de vida pode ser devastador e o impacto psicológico grave", lembra Ana Laura. Todo esse quadro poderá culminar em complicações de fundo psicológico, como depressão e perda de autoestima.
Cirurgia é comum e traz riscos
A abordagem cirúrgica é o elemento chave no manejo da fratura de quadril, por exemplo. "O atraso na cirurgia e na mobilização pode afetar funcionalmente o indivíduo e aumentar as complicações associadas ao repouso prolongado, como tromboembolismo, infecção do trato urinário, atelectasia e úlcera por pressão", ressalta a geriatra Ana Laura. Por outro lado, a cirurgia precoce sem estabilização clínica do paciente pode aumentar o risco de complicações. Segundo a especialista, a cirurgia deve ocorrer preferencialmente dentro de 24 a 48 horas após a admissão do idoso no hospital, uma vez que o quadro está estabilizado.
"O pós-operatório dos idosos submetidos a correção de fratura deve receber atenção especial dos profissionais de saúde para evitar dor, confusão mental, desidratação, perda de massa muscular, imobilidade, tromboembolismo, úlceras por pressão, infecções e descompensações clínicas (pressão arterial e glicemia)", alerta Ana Laura. O acompanhamento se faz necessário principalmente porque um paciente idoso pode não manifestar ou se queixar dos sintomas de complicações, dificultando o diagnóstico e tratamento precoce. "Ao contrário dos jovens, essa faixa etária dificilmente consegue relatar fielmente os sintomas, dependendo da informação de seus acompanhantes ou familiares."
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Evitando fraturas
Para garantir a segurança do idoso e reduzir o risco de fraturas, a geriatra Fania Santos recomenda a prática de exercícios físicos e mudanças na dieta, com a ingestão aumentada de cálcio somada a exposição ao sol durante 15 minutos todos os dias, a fim de produzir vitamina D. "O uso de medicamentos para osteoporose e suplementos vitamínicos deve ser avaliado individualmente", diz.
É possível reduzir o risco de quedas adotando algumas mudanças na casa do idoso, identificar dificuldades de mobilidade e entender se é necessária a presença de um cuidador, para auxiliar o idoso em suas tarefas diárias.