Cirurgião-geral pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e pela Universidade de São Paulo (USP). É...
iExistem diferentes objetivos quando se indica um procedimento bariátrico/ metabólico. A razão disto é que existem alguns efeitos pós-operatórios que são independentes da perda de peso, como a melhora praticamente imediata do diabetes tipo 2 no pós-operatório, que já foi discutido em colunas anteriores.
Desta vez será abordada a perda de peso no pós-operatório das diversas opções técnicas regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina, que já tem estudos a longo prazo e são estabelecidas como procedimentos eficazes e seguros.
Existem diversas alterações fisiológicas que se seguem às intervenções bariátricas. As principais se traduzem como uma diminuição da fome e maior saciedade após as refeições principalmente na derivação gastrojejunal em Y de Roux ( DGJYR-bypass gástrico), que é a operação mais realizada em nosso país. A gastrectomia vertical (GV) tem um componente de restrição um pouco maior que o bypass gástrico, mas também tem algumas respostas hormonais que contribuem para a menor fome e maior saciedade. As operações que privilegiam a má absorção calórica como o "switch duodenal" e a cirurgia de Scopinaro tem mecanismos de ação distintos e tem a maior perda ponderal a longo prazo, porém as complicações nutricionais que se seguem nessas cirurgias a fazem muito pouco realizadas no Brasil e no mundo e não serão discutidas neste artigo. Para melhor entender os diversos tipos e indicações de cirurgias bariátricas e metabólicas, sugiro que leiam a coluna de dezembro do ano passado aqui. O bypass gástrico e a GV perfazem cerca de 90 a 95% das operações feitas no Brasil e será sobre estas duas que discutirei a perda de peso pós-operatória.
O nosso grupo do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz em São Paulo prescreve a dieta líquida somente na primeira semana de pós-operatório, evoluindo para dieta pastosa na semana seguinte e a partir da 3a semana é orientada dieta "geral", em menores porções e maior frequência de alimentação. A perda de peso na primeira semana é de 800g a 1 kg/ dia, associando as alterações metabólicas das cirurgias à dieta hipocalórica. No final do primeiro mês, regularmente os pacientes perdem cerca de 8 a 12% de seu peso total. Notem que existem grupos que mantém a dieta líquida por 1 mês, algo desconfortável ao paciente e sem auferir maior perda ponderal neste mesmo período ao comparar-se ao nosso grupo que tem progressão mais rápida da consistência da dieta.
O "período de ouro" da perda de peso em ambas DGJYR (bypass) e GV são os primeiros 12 a 14 meses de pós-operatório, onde a imensa maioria dos pacientes pós bypass perde cerca de 30 a 35% de seu peso total e aqueles no pós-operatório de GV perdem entre 25 e 30% de seu peso . Normalmente até os 18 a 24 meses a perda de peso é menor e a partir deste período se estabiliza. Depois do terceiro ano de pós-operatório é que serão mais evidentes as diferenças de perda de peso entre o bypass gástrico e a GV. Além de uma perda de peso menor que o bypass, os pacientes com uma GV tem chance maior as longo prazo de reganho de peso por diversas razões fisiológicas pertinentes a cada procedimento.
Nunca é demais reforçar que a obesidade por si só é uma condição crônica e progressiva e que as cirurgias são excelentes formas de tratamento e que a manutenção a longo prazo de alimentação equilibrada e atividades físicas são ferramentas importantes para o sucesso a longo prazo de qualquer intervenção seja clínica ou cirúrgica. Aplico o mesmo raciocínio da vida equilibrada no pós-operatório de cirurgia bariátricas com o fumo após cirurgias de ressecção de pulmão por câncer. Parar de fumar é obrigatório após as cirurgias do pulmão e estilo de vida equilibrado após cirurgias bariátricas são excelente complemento!