Médico especializado em Medicina do Esporte pela SBMEE-AMB e em Ortopedia e Traumatologia pela Sociedade Brasileira...
iDas doenças que afetam o mundo moderno, principalmente após a revolução industrial, as que atingem as artérias responsáveis pela irrigação e saúde do músculo cardíaco, as coronárias, são as mais frequentes em ambos os sexos e durante a fase produtiva da vida.
Naqueles indivíduos que têm os fatores de risco para essa ocorrência, as coronárias vão lentamente se fechando, impedindo a nutrição tecidual e, como consequência, sua morte, o infarto.
Tempos atrás, quando os atuais conceitos e descobertas da medicina do exercício ainda se restringiam ao esporte de alto rendimento, o doente acometido pelo infarto era condenado a passar dias acamado. A sua liberdade para as tarefas do dia a dia e exercícios era condenada e eliminada da sua vida, pois imperava a ordem do repouso e mínimo esforço.
Nos nossos dias, a ideia da imobilidade caiu e o exercício, batizado de reabilitação cardiovascular, assumiu papel decisivo no tratamento da doença. Tão importante que se inicia já na internação, com caminhadas pela enfermaria, mudanças de posição e tudo o mais que a nova condição permitir.
Após procedimentos terapêuticos como a angioplastia e bypass coronário (cirurgia de pontagem coronária ou de revascularização coronária), junto com as medicações prescritas, no retorno ao lar, os hábitos de vida que o levaram a essa condição devem ser radicalmente mudados: deixar de fumar, atentar para a dieta com nutrientes saudáveis, controlar o sal e o stress do cotidiano e, principalmente, introduzir o exercício rotineiro que faz parte do tratamento. Não podemos nos esquecer que o infartado teve sua doença tratada e que na fase de recuperação as sequelas é que serão avaliadas. Os testes de esforço máximo ou limitados por alterações cardiológicas são de extrema valia na composição do treinamento.
Como na prevenção, na reabilitação o trabalho aeróbio assume papel de destaque. No início e dependendo de análise caso a caso, serão 3 sessões semanais por cerca de 30 minutos cada e em frequência cardíaca (intensidade) entre 40 e até 80% da máxima extraída do teste de esforço.
O controle da intensidade é a chave para o sucesso e adesão do paciente ao trabalho instituído. O ideal é que seja acompanhado por profissional treinado para monitorar não só a frequência cardíaca, mas a pressão e até para obter traçados eletrocardiográficos em situações eventuais.
Se o ideal não pode ser obtido, o próprio paciente pode monitorar a sua condição, desde que instruído. Uso de monitores cardíacos, testes como o da fala durante a atividade podem ser utilizados, entre outros.
Não devemos privar o indivíduo de trabalho de resistência muscular localizada (musculação), pois será fundamental para as tarefas do dia a dia. Para os membros superiores, via de regra, são utilizados 30% da força máxima e para os inferiores 50%. São distribuídos em séries e repetições em número que depende de avaliação inicial.
Os alongamentos, 3 vezes por semana como nos trabalhos de resistência, ajudam a deixar as articulações saudáveis e podem contribuir para um relaxamento que, via de regra, vem acompanhado de uma sensação de bem-estar.
Bem, você que achava o exercício perda de tempo ou não achava tempo para o exercício, agora sabe que ele faz parte do tratamento do infarto e que poderia tê-lo evitado se exercitando.
Nunca é tarde para o exercício, mesmo que para isso o susto tenha sido grande. Ele vai deixá-lo confiante, afastando aquela sensação de que tudo acabou, própria do infarto.