Médico Especialista em Endoscopia Digestiva, Coloproctologia e Gastroenterologia. Membro titular das Sociedades Brasilei...
iO cisto pilonidal ou sacro-coccígeo é uma doença benigna que acomete a região sacrococcígea - abaixo da região lombar, onde se inicia o sulco entre as nádegas - cuja manifestação é por orifícios na pele entre os glúteos, que se comunicam por trajetos fistulosos subcutâneos, associados a um grau variável de inflamação e infecção. O termo pilonidal significa "ninho de pelos", devido a presença de pelos no seu interior.
Há mais de uma teoria para a causa desta afecção. Trata-se de uma doença adquirida, onde o invasor (o pelo) encontra uma anatomia desfavorável devido a um sulco interglúteo vulnerável e uma força de sucção capaz de introduzir o pelo no subcutâneo. A movimentação glútea é responsável pela sucção e aprisionamento de pelos no subcutâneo, com consequentes foliculite e abscesso. Fatores de risco associados são: incidência prévia de foliculites ou furunculoses, obesidade, história familial de cisto pilonidal, excesso de pelos na região e condições inadequadas de higiene. Sabe-se que pode afetar indivíduos de qualquer idade, porém, é característica marcante da doença se manifestar entre a puberdade e os 30 anos de idade, além de acometer três vezes mais homens que mulheres.
Tratamento
Quando a cavidade do cisto se infecta costumam se formar abscessos que podem drenar pelos orifícios. A não drenagem pelos orifícios gera aumento significativo da dor, edema e abaulamento. No caso de abscesso, deve-se drená-lo amplamente e curetá-lo, com o intuito de reduzir a taxa de recidivas.
O tratamento é sempre cirúrgico. No paciente assintomático, não há urgência, porém, a postergação pode ampliar o acometimento, tornando a cirurgia mais complexa no futuro. É raro aqueles que não operam permanecerem sempre assintomáticos. A cirurgia ideal deveria ter uma breve internação, mínimo dano ao paciente, facilidade no manejo da ferida operatória, breve retorno as atividades e principalmente baixo índice de recidivas, o que é difícil de alcançar em sua totalidade.
Opções cirúrgicas
Método Aberto
Consiste em se abrir os trajetos fistulosos ou excisão em bloco, deixando por cicatrizar aberto em segunda intenção. Há grandes curativos, com limpezas, trocas das gazes e usos de pomadas duas ou três vezes ao dia. Gera ferimentos de manejo mais difícil, retardando o retorno as atividades cotidianas, uma vez que demora de dois até seis meses para cicatrizar. É indicada quando a doença é pouco extensa e sem infecção. A taxa de recidiva é de 10% a 15 %. Uma opção de técnica aberta é a "marsupialização" da ferida operatória. Nela os bordos são suturados ao fundo da ferida, reduzindo a superfície cruenta. A marsupialização tende a reduzir o tempo de cicatrização para dois meses ou menos, e a recorrência para 6%.
Método Fechado
Pode ser com fechamento primário ou com retalhos cutâneos. A excisão e fechamento primário é feita após a excisão e remoção ampla dos cistos, ocorre a sutura com pontos englobando a totalidade dos tecidos em direção a linha média. Ela reduz o tempo de retorno as atividades, porém, são bastante elevadas taxas de complicações, como a infecções em 30% dos casos e a recorrência do problema em 13% a 20% dos pacientes.
Já por rotação de retalhos cutâneos, a ideia é fechar grandes feridas retirando a linha de sutura da linha média e planificando o sulco intergluteo, o que em teoria dificulta a entrada do pelo para o subcutâneo. Há diversas técnicas de rotação de retalho, como a cirurgia de Karydakis, retalho em V-Y, e Zetaplastia. Eu particularmente utilizo o Retalho de Limberg.
O Retalho de Limberg tem a finalidade de cobrir ferimentos com perda grande de tecido na linha média. Faz-se uma ressecção da doença pilonidal com uma incisão em losango, libera-se o retalho cutâneo em formato triangular no glúteo direito, o qual cobrirá a área com defeito. Toda a área é suturada, constituindo numa ferida fechada. O subcutâneo é mantido drenado. As taxas de complicações na literatura variam de 4 % a 20%, e de recorrência 6%. A literatura demonstra mais complicações e menos recidivas comparando as técnicas com retalho em relação ao fechamento primário. Em minha experiência utilizando a técnica do Retalho de Limberg desde 2007, observei apenas uma recidiva, pouca dor e uma ferida de manejo mais fácil que a técnica aberta. Há uma demora de 60 a 90 dias para a cicatrização completa da ferida em sua porção inferior, o que não impede o paciente de exercer suas atividades normalmente.