Redatora entusiasta de beleza e nutrição, autora de reportagens sobre alimentação, receitas saudáveis e cuidados pessoais.
iCom as recentes e cada vez mais comuns ondas de calor registradas ao redor do mundo, além do envelhecimento da população de forma global, o bem-estar e saúde dos idosos também são preocupações crescentes. Uma vez que o corpo de pessoas com maior idade não responde da mesma forma que o dos jovens - porque eles têm uma menor percepção da variação da temperatura, o que desencadeia uma resposta tardia do corpo - é importante entender como as temperaturas mais quentes podem afetar a sua saúde e desempenho cognitivo.
Com isso, um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina e do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), da Universidade de São Paulo (USP), procurou avaliar o papel do calor e umidade no desempenho cognitivo dos idosos. Dentre os resultados, eles notaram que não houve diferenças significativas no desempenho cognitivo num ambiente com temperatura de 32 ºC em comparação ao de 24 ºC. O estudo foi descrito em um artigo publicado na revista Age, da Associação Americana de Envelhecimento.
Como foi realizado
Os pesquisadores avaliaram os efeitos do estresse térmico sobre o desempenho cognitivo de 68 idosos com idade média de 73,3 anos, com bom desempenho físico e cognitivo - caracterizado pela boa saúde mental e caminhar de modo independente, entre outros aspectos. Os idosos são pacientes do serviço de geriatria do HC-FMUSP ou participantes do programa "Universidade aberta à terceira idade", da USP.
Para realizar o estudo, os pesquisadores fizeram um ensaio clínico em que submeteram os idosos a uma bateria de cinco testes neuropsicológicos computadorizados realizados sucessivamente em salas com temperatura controlada de 24 ºC - considerada confortável para atividade leve - e de 32 ºC. Os cinco testes avaliaram diferentes aspectos do desempenho cognitivo dos idosos, como memória, atenção, tempo de reação a um estímulo visual e aprendizado.
Os resultados dos testes indicaram que não houve diferenças significativas no desempenho cognitivo dos idosos no ambiente com temperatura de 32 ºC em comparação com o de 24 ºC.
Os pesquisadores também fizeram uma análise de interação dos resultados dos testes: dividiram os idosos em diferentes grupos - só de homens, mulheres (que representaram 69% dos participantes), mais velhos e mais ativos ou sedentários - com o objetivo de verificar se algum deles era mais suscetível aos efeitos do calor.
Ao dividir os idosos em dois grupos, submetidos a uma mesma temperatura, de 32 ºC, mas com umidades relativas do ar diferentes - um grupo com umidade relativa menor ou igual a 57,8% (a média da umidade calculada nos testes de variação de calor) e outro com umidade superior a essa -, os pesquisadores observaram que o grupo exposto à temperatura de 32 ºC com umidade relativa do ar acima de 57,8% sofreu os efeitos desse calor mais úmido em seu desempenho nos testes cognitivos. Em contrapartida, não foram observadas diferenças significativas no desempenho cognitivo do grupo de 33 idosos expostos a um calor mais seco, com umidade menor ou igual a 57,8%.
Próximos passos e conclusões
Com esses dados os pesquisadores pretendem certificar se a umidade relativa do ar realmente é um fator que afeta o desempenho cognitivo dos idosos, uma vez que apenas o calor não causa esta diferença.
Eles ainda não sabem exatamente porque o nível de umidade relativa do ar influencia o desempenho cognitivo dos idosos. Uma das hipóteses é que, quanto maior a umidade relativa do ar em altas temperaturas, maior o estresse do calor sobre o corpo humano. Isso porque um dos principais mecanismos do corpo para perder calor em um dia quente - com temperatura acima dos 30 ºC - é a transpiração. Com o nível de umidade relativa do ar mais alto em um dia quente, menor é a possibilidade de transpirar e é mais difícil regular a temperatura corpórea, principalmente pelos idosos.
Os pesquisadores também constataram que a frequência de atividade física influencia o efeito do calor no desempenho cognitivo desta faixa etária. Os idosos que declararam fazer atividade física com frequência menor do que quatro vezes por semana apresentaram pior desempenho cognitivo sob o calor do que aqueles que afirmaram fazer atividade física com frequência maior do que quatro dias.
Referências
Fonte: Agência FAPESP