Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
iO machismo é um comportamento cultural e histórico social muito presente ainda em nossa sociedade, e também na educação.
Quando falamos de desigualdade entre os sexos, muitos acreditam ser um exagero e que em nosso país isso já não acontece. Mas é muito importante ressaltar e explicar que não, não somos um país com igualdade entre os gêneros, assim como tantos outros que também estão em alerta e em movimento por essa readequação cultural.
Por mais que não possuamos um comportamento radical de submissão das mulheres frente aos homens como lemos e assistimos em outras regiões e culturas, vivemos sim e ainda um comportamento intenso e enraizado de machismo, que envolve tanto os homens quanto as mulheres.
O machismo de cada dia
O machismo está presente no cotidiano e em ações e pensamentos que parecem pequenos, mas geram um autoimpacto social, pois desmerecem a mulher/menina e enaltecem o homem/menino. Acontece sempre que uma menina ou mulher ouve que não pode fazer ou falar ou usar algo por ser menina, assim como ganhar um salário menor por ser mulher e mãe, enquanto homens e meninos recebem uma permissão para fazer, falar, usar, beber, não se controlar, ganhar um salário maior, não cuidar da casa e filhos, porque são homens ou meninos. Isso é machismo!
Entendendo o conceito e a presença do machismo em nossa vida, podemos sim pensar que o machismo é passado de pai para filho, de escola para aluno, pois se trata de um ensinamento cultural. E não acontece em livros, técnicas ou cartilhas, mas sim através de atos e palavras ligadas aos valores morais e sociais, são informações absorvidas psíquica e emocionalmente e que farão parte do ser humano (masculino ou feminino) ao longo de suas vidas, ditando inconscientemente suas atitudes, pensamentos, sentimentos e escolhas, podendo assim repetir o que foi aprendido.
Não estou aqui questionando a educação que cada família dá a seus filhos ou mesmo as pedagogias escolares, estou apenas convidando todos para pensarem no quanto este é um assunto que se trata de aprendizado, pois é cultural, isto é, passado de geração em geração, de época a época, de pai para filho, de escola para aluno.
Cada vez que um pai ou mãe ou escola tentando cuidar, defender ou preservar uma menina e diz que ela não pode fazer algo, usar certa roupa, falar de certo jeito ou deve mudar algo por ser menina, está sendo machista. Cada vez que uma família ou escola explica que um menino faz algo, que fala de certa forma, que age de certo jeito, que não pode conter seus hormônios e desejos, tudo isso por ser um menino, está sendo machista também.
Como reverter isso?
Mas o que fazer então para minimizar os impactos de uma sociedade machista na educação dos nossos filhos? Como os pais e escolas podem educar crianças que não se rendam ao machismo e assim colaborar com um meio de mais igualdade?
Não há jeito único ou técnica para seguir, porém há alguns pontos que vale colocar aqui para que possam ao menos pensar a respeito:
- Repensem sobre o que querem de seus filhos e alunos, se realmente acreditam que meninos e meninas são iguais. Sem isso, não adianta ir adiante, pois se trata de uma questão cultural
- Cuidado com suas palavras e atitudes que possam destacar que meninos e meninas são diferentes. Exemplo: falar palavrão porque é menino e logo tudo bem, ou ter que sentar comportadamente por ser uma menina, assim como dizer que uma menina chora e menino não, que meninas são sensíveis e inteligentes e que meninos são terríveis e desobedientes, ou mesmo que um menino deve cuidar da menina porque ela frágil e delicada e ele forte e poderoso. O inverso também gera conflitos, que a menina por ser delicada e indefesa deve querer um bom namorado forte, inteligente, que proteja e sustente. Esses exemplos todos parecem pequenos, mas ensinam que as diferenças entre os gêneros sempre se dá por um dos lados ser poderoso e especial, enquanto o outro vale menos e deve ser submisso
- Ensinem as meninas a confiarem nelas mesmas, a gostarem de si e a descobrirem quais seus potenciais, não serem menos nem mais que os meninos, somente serem elas e o quanto isso é valioso
- Ensinem os meninos a entenderem que são valiosos tanto quanto as meninas são, pois são seres humanos, que devem respeitar as meninas, não por serem menos, frágeis ou indefesas, mas porque merecem respeito por quem são. Eles podem até ser heróis (meninos adoram ser heróis e isso não é um problema), mas eles não são salvadores do mundo, vamos lembrar que há uma diversidade de heróis, meninos e meninas, e que todos juntos é que salvam o mundo. Meninos não são mais nem menos que meninas.
Um ponto é fato, o machismo já não é mais visto como há certo tempo atrás, apesar de ainda existir (e talvez exista sempre) ele já não é mais aceito sem questionamento, as mulheres não aceitam mais caladas e submissas que seus valores de ser humano sejam menos que dos homens.
Muitos homens também se incomodam quando se deparam com tal situação e são defensores da igualdade de gêneros, ou seja, do feminismo, pois não querem que suas mães, irmãs, namoradas, esposas, filhas sejam menos por serem simplesmente do gênero feminino.
Mudanças estão acontecendo, mas ainda levará tempo para que possamos colher algum resultado mais efetivo que pregue a igualdade entre os gêneros. Uma cultura é feita de história, tempo, por uma sociedade e por novas gerações que apresentam novas possibilidades, é muito importante sabermos disso, pois assim podemos usar do que sabemos e também criarmos novas possibilidades para o futuro que desejamos hoje. Vamos pensar sobre isso?