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A doença de Crohn é uma inflamação crônica grave que pode acometer todo o trato gastrointestinal, porém é mais comum no intestino delgado e grosso. Ela é crônica, e o mais provável é que ocorra por uma desregulação do sistema de defesa do corpo. É uma doença de difícil diagnóstico.
"A doença de Crohn pode ser confundida com diversas doenças, como a síndrome do intestino irritável, alergias e intolerâncias alimentares, como a doença celíaca, intolerância à lactose, verminoses, gastroenterite aguda, colites ou inflamações induzidas por remédios ou agentes como a tuberculose e bactérias", enumera a gastroenterologista Marta Brenner Machado, presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD).
Exames mais usados
Todas essas doenças têm sintomas em comum, que incluem dores no abdômen, diarreia, fezes com muco ou sangue, distensão abdominal, febre de origem obscura e até mesmo sintomas além do aparelho digestivo, como manchas vermelhas e feridas na pele ou problemas oculares, como a uveíte, uma inflamação que pode prejudicar a úvea completamente ou parte dela, podendo atingir também o nervo ótico e a retina. A úvea é constituída por íris, o corpo ciliar e a coróide.
Por isso mesmo, diversos fatores devem ser levados em conta no momento do diagnóstico, que, muitas vezes, é feito com importante atraso. "É preciso ter a história clínica completa do paciente, com exames laboratoriais e físicos. Entre os mais pedidos estão a colonoscopia, endoscopia digestiva alta, pesquisa nas fezes, estudo do intestino delgado (usando cápsula endoscópica ou enterorressonância), tomografia, entre outros", ensina Marta Brenner Machado. Tudo isso torna a investigação muito delicada e por vezes demorada.
O exame mais importante para esse diagnóstico é a colonoscopia, já que 90% das alterações da doença podem ser analisadas através dele. Um dos detalhes observados é se a inflamação acometeu mais de uma camada do intestino e se há áreas normais, sem vestígios da doença.
Isso faz com que esse exame seja indispensável para o diagnóstico, apesar de muitas vezes provocar medo no paciente. "É um método que precisa de cuidado no preparo, requer dieta adequada e uso de laxantes, além de ser feito com sedação. Mas a importância da colonoscopia faz, muitas vezes, o medo tornar-se algo secundário para o paciente", considera a especialista.
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Além disso, por ser um quadro de origem imunológica, o histórico de doenças autoimunes na família é também significativo. "Existe uma ligação genética entre essas doenças", considera Marta. Por isso, investigar a existência de familiares com lúpus, artrite reumatoide e espondilite anquilosante é um dos processos envolvidos na conversa com o paciente.
De olho no tratamento
A doença de Crohn é crônica e o tratamento requer uso de diferentes terapias e medicações ao longo da vida. No entanto, de acordo com a evolução da doença, o tratamento pode ir mudando e se adaptando. Por isso, o acompanhamento com um médico de confiança é essencial. Uma cirurgia também pode ser necessária, caso o tratamento clínico seja ineficiente no controle dos sintomas ou quando há uma complicação, tal como a obstrução intestinal. Ainda assim, mesmo com a operação, não há cura, já que a doença pode retornar.
Além disso, o tratamento multidisciplinar é fundamental, já que a doença pode afetar diversos aspectos da vida do paciente. "É importante um serviço nutricional, para tirar dúvidas do paciente e o acompanhamento de um bom clínico ou gastroenterologista. Muitas vezes o paciente precisa de um apoio emocional, que pode ser dado por um psicólogo ou psiquiatra", considera a gastroenterologista.
Para mulheres que querem engravidar, o acompanhamento com um ginecologista também é fundamental. "A gravidez não é contraindicada para quem tem Crohn, inclusive pode ser positiva para mulheres que tenham o quadro controlado", ressalta Marta. Um ponto importante, no entanto, é conversar bastante com o médico que acompanha a gestação sobre os medicamentos tomados, já que alguns deles não são indicados para mulheres grávidas ou lactantes.