Graduado em medicina pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), com residência médica em Genética Médica pelo Hos...
iExiste uma forma de conhecer a história familiar com mais profundidade e amplitude do que aquela contada pelos parentes ou por documentos históricos: afinal, está tudo lá, gravado no DNA de cada um. A genealogia genética - que engloba os também chamados de testes genéticos de ancestralidade - é o mais moderno e eficaz método de conhecer quem foram nossos antepassados, por onde andaram mundo afora, onde e quando estão firmadas nossas mais distantes raízes.
À medida que as populações humanas se expandiram e se distribuíram pelas várias regiões geográficas do planeta, pequenas variações e mutações no seu código genético aconteceram. Estas variações genéticas formam a base dos estudos de ancestralidade. Certos padrões de variação genética são frequentemente compartilhados entre pessoas de origens peculiares. Quanto mais relacionados são dois indivíduos, famílias ou populações, mais os padrões de variação são compartilhados.
Os resultados desses testes podem mostrar a origem dos ancestrais mais distantes, tanto maternos quanto paternos, e também podem dar uma estimativa razoável do percentual geográfico dos seus genes - europeus, africanos, ameríndios (indígenas), asiáticos...
Esses testes realmente funcionam?
Os testes genômicos de ancestralidade têm um certo número de limitações. Os provedores desses testes comparam os resultados com diferentes bases de dados de testes anteriores, de modo que as estimativas de etnia podem não ser consistentes de uma empresa para outra. A menos que a empresa tenha um banco de dados bastante específico, fica muito difícil afirmar com bom nível de precisão que um indivíduo de origens africanas pertença a uma determinada tribo (promessa bastante frequente no marketing de algumas empresas provedoras de testes de ancestralidade).
Outra limitação dos testes de ancestralidade está no fato que a maioria das populações humanas migraram muitas vezes durante sua história de vida, misturando-se com grupos étnicos próximos, e assim as estimativas de etnicidade com base em testes genéticos podem ser diferentes das expectativas de uma pessoa.
Saiba mais: Mapeamento genético detecta doenças
Em grupos étnicos com um menor intervalo de variação genética devido ao tamanho e história do grupo, muitos membros compartilham vários polimorfismos e isso pode dificultar a distinção entre pessoas que tem um ancestral comum relativamente recente, como primos em quarto grau, do grupo como um todo.
Como funcionam esses testes?
Existem três tipos de testes genéticos de ancestralidade, comumente usados nos estudos de genealogia:
Teste do cromossomo Y: variações genéticas no cromossomo Y, passadas exclusivamente de pai para filho, podem ser usadas para explorar a ascendência na linha masculina direta. Este teste só pode ser realizado em homens, pois as mulheres não têm um cromossomo Y. No entanto, mulheres interessadas neste tipo de teste genético geralmente recrutam um parente masculino para fazê-lo.
O teste do cromossomo Y é o mais utilizado para investigar os casos de relacionamento genético com o mesmo sobrenome, uma vez que o padrão de muitas culturas é carregar o sobrenome do pai gerações afora.
Teste do DNA mitocondrial: este tipo de teste identifica as variações genéticas no DNA contido nas mitocôndrias. Embora a maior parte do DNA esteja compactada em cromossomos dentro do núcleo das células, as mitocôndrias (estruturas celulares produtoras de energia) tem também uma pequena quantidade de seu próprio DNA (conhecido como DNA mitocondrial), que é passado exclusivamente pela mãe.
Assim, esse tipo de teste pode ser usado para ambos os sexos, pois todos herdam esse DNA da mãe. O teste do DNA mitocondrial pode ser útil para a genealogia porque preserva a informação sobre a linha ancestral feminina direta, que pode estar perdida nos registros históricos familiares, uma vez que o nome da mãe não é passado à frente na maioria das culturas.
Teste de Ancestralidade Genômica ou Teste de Polimorfismo de Nucleotídeo Único: estes testes avaliam grandes números de variações genéticas em todo o genoma de uma pessoa. Ele dá uma estimativa das porcentagens de genes europeus, por exemplo. Os resultados são comparados com os de outras pessoas também submetidas a este teste para fornecer uma estimativa da origem étnica de uma pessoa.
Por exemplo, o padrão de SNPs (determinada porção do genoma que revela traços ancestrais) pode indicar que a ascendência de um indivíduo é aproximadamente 50% Africana, 25% Europeia, 20% da Ásia, e 5% de origem desconhecida. Genealogistas usam este tipo de teste, pois os resultados dos testes de cromossomo Y e de DNA mitocondrial, que representam apenas linhas ancestrais individuais, não captam a origem étnica geral de um indivíduo.
Onde encontrar esses testes?
Os testes de ancestralidade genética são oferecidos por várias empresas e organizações, em todo o mundo. A maioria das empresas fornece fóruns de discussão on-line e outros serviços para permitir que as pessoas que tenham sido testadas possam compartilhar e discutir os seus resultados entre si, o que pode lhes permitir descobrir relações anteriormente desconhecidas.
Em grande escala, resultados de ascendência genética de várias pessoas podem ser utilizados por cientistas para explorar a história de populações à medida que surgiam, migravam e misturavam-se com outros grupos étnicos.
Na medida em que entendemos melhor a complexidade do genoma humano e ampliamos as possibilidades genômicas de sua utilização, os testes genéticos de ancestralidade tem um futuro evolutivo ainda distante, mas absolutamente possível. Será preciso, também, dominarmos um percentual muito maior de conhecimento do genoma (tudo o que sabemos, por enquanto, não passa dos 3% - e já fazemos maravilhas) e também precisamos desenvolver maiores e mais complexos algoritmos de análise genômica. Há muito, ainda, por fazer e conhecer no mundo da genética ? o que se aplica à análise genômica de nossos ancestrais.