A prática regular de exercícios físicos é capaz de transformar vidas. O hábito de exercitar-se previne doenças como infarto, diabetes, hipertensão, derrame cerebral, obesidade, além de melhorar a autoestima e o equilíbrio emocional, entre outros inúmeros benefícios. Por outro lado, o sedentarismo está relacionado ao aparecimento desses e de outros problemas de saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 3,2 milhões de mortes todo ano são atribuídas à atividade física insuficiente e o sedentarismo é o quarto maior fator de risco de mortalidade global, responsável por pelo menos 21% dos casos de câncer de mama e cólon, 27% dos casos de diabetes e 30% das queixas de doenças cardíacas. Ainda assim, mesmo diante de números tão alarmantes, no Brasil, 48,7% da população acima dos 18 anos é considerada inativa.
Uma lista de diversos motivos acaba sendo usada na hora de justificar a falta de exercícios físicos na rotina. É preciso tempo, energia, organização, roupas adequadas, infraestrutura, dinheiro? E mais ainda: é preciso motivação, disciplina, comprometimento.
Agora, imagine quando todas as barreiras dessas possíveis dificuldades são transpostas e alguém, com toda a disposição para praticar um exercício, não é aceito em uma academia de ginástica por conta da sua condição de saúde ou limitação física? Foi exatamente o que aconteceu com a Evelin Scarelli, 28 anos de idade, que foi recusada em duas academias por causa do seu quadro clínico, um câncer de mama, mesmo com a liberação do seu médico. "Eles diziam não saber os cuidados para pacientes, mesmo eu não sendo tão paciente", ela conta.
A dificuldade da Evelin em ter acesso a algo que faria um bem enorme para a sua saúde nos despertou para uma causa maior: a da inclusão no esporte. Quantas milhões de pessoas tem esse direito negado? O Brasil já é o segundo país do mundo em número de academias, com quase 32.000 estabelecimentos, atrás apenas dos Estados Unidos, e o quarto em número de alunos, com 8 milhões, de acordo com a associação internacional IHRSA. Mas quantas academia estão de fato preparadas para receber pessoas com algum tipo de limitação física ou um quadro clínico de saúde estabelecido?
Não estamos falando de um universo restrito de pessoas, veja só. Cerca de 40% da população adulta brasileira, o equivalente a 57,4 milhões de pessoas, possui pelo menos uma doença crônica não transmissível. A hipertensão arterial, o diabetes, a doença crônica de coluna, o colesterol (principal fator de risco para as cardiovasculares) e a depressão são as que apresentam maior prevalência no país. E quando o assunto é câncer, o INCA estima que quase 600 mil pessoas receberão um diagnóstico da doença em 2016.
Além disso, 9 milhões de brasileiros (6,2% da população) têm algum tipo de deficiência, sendo que 1,8 milhão apresenta algum tipo de deficiência física. E então um outro dado chocante: entre os portadores de deficiência física, somente 331 mil pessoas (18,4%) frequentam algum serviço de reabilitação.
E por que a prática dos exercícios para pessoas com alguma condição de saúde é tão importante? Além dos efeitos preventivos do esporte, há o fator terapêutico. No caso dos pacientes com câncer, os exercícios são capazes de reduzir os efeitos indesejados do tratamento, como a fadiga, a ansiedade e a falta de concentração, além de melhorar a amplitude dos movimentos, apenas para citar alguns dos benefícios.
Também não faltam pesquisas científicas ao redor do mundo para comprovar o poder das atividades físicas diante de um quadro clínico, como asma, enxaqueca, depressão, doenças cardíacas, fibromialgia, artrite reumatoide, derrame cerebral, entre outras tantas. As vantagens passam tanto pela melhoria da enfermidade em si até a melhoria da qualidade vida. As pessoas passam a se sentir melhor com o seu corpo e suas emoções, elas ganham mais energia, elas sentem menos dor, muitas delas podem ter mais anos de vida contrariando o próprio prognóstico dos livros de medicina. Não parece algo realmente muito duro ser privado desses benefícios?
É por isso que a Rede Vida Livre quer dar uma voz muito mais alta a milhões de pessoas como a Evelin. Estamos lançando a causa "Eu Posso" com o objetivo de sensibilizar a população, pacientes e organizações para democratizar o acesso das pessoas com alguma limitação física ou condição de saúde à prática de exercícios.
A frase "Eu Posso" simboliza a voz de milhões de pessoas e carrega o desejo e o direito de quem pode, quer e precisa praticar exercícios físicos, e que hoje tem a sua autonomia tolhida por algum motivo. Não são só as milhares de academias no Brasil que não estão preparadas, os parques e praças da cidade, centros de reabilitação e centros esportivos precisam estar minimamente adaptados e com profissionais capacitados para atender esse público. Não é só uma questão de acessibilidade, a causa #EuPosso é sobre viver em uma cidade mais humana onde todos têm direito a exercer a sua plena cidadania, sobretudo o direito a ter uma vida mais saudável. #EuPosso.
Saiba mais: "No esporte descobri minha motivação"
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