Eu sou normal?

Parece que os avanços tecnológicos, as descobertas do século e as facilidades da modernidade vieram para amenizar dificuldades, dores e angústias, como agentes facilitadores da busca da felicidade, grande sonho e objetivo perene do homem. Quem costuma ler meus textos sabe que não sou uma terrorista nem pessimista de plantão que vive a desfiar o rosário das dificuldades do cotidiano. Ao contrário, acredito piamente que elas estão aí para exercitarmos nossa capacidade em ultrapassá-las e assim comemorarmos. Mas para que isso ocorra devemos desvelar as situações para vê-las claramente e, ao enxergá-las, termos condições de igual para igual nessa intrépida busca pelo paraíso perdido. Contudo, ouso questionar isso enquanto armadilha, sutil armadilha, para nos aprisionar em regras, deveres e modelos que nos aprisionam. Que diferença tem para o pássaro a gaiola rústica de bambu e a de ouro? Gaiola é gaiola!

E eu nos vejo dessa maneira: aprisionados na cultura do normal, do politicamente correto e de tantas normas que apenas noções de ética e moral se encarregariam de dirigir o mundo para o bom resultado das ações construtivas.

Poderia falar de vários aspectos, mas detenho-me especialmente nas dúvidas e desencontros relativos à sexualidade, que me parece é área da nossa vida mais duramente atingida pela cultura da normalidade e do padrão. Como padronizar sensações e desejos absolutamente instintivos? Impossível! A sexualidade, na sua expressão, é normal quando o único parâmetro a ser levado em conta é o do efetivo prazer sentido.

Temos que levar em conta que por muitas vezes o prazer existe e passa despercebido por estar encoberto por crenças e, não raro, pelo romantismo exacerbado que atinge homens e mulheres de maneira diferente. Concordo, porém ambos são presas fáceis dessa armadilha que considero a mais sutil e avassaladora na rima de amor com dor.

Se as mulheres ainda se decepcionam com seus homens por não virem montados num cavalo branco e terem atitudes dignas de um herói, os homens ainda têm a expectativa de mulheres perfeitas enquanto mães e donas de casa, mas reclamam quando falta a mulher cúmplice, companheira e sedutora. Aproveito para deixar uma receita - e todos nós sabemos que receitas não são infalíveis dependendo do peso que se dá aos ingredientes.

Mas se tivermos as possibilidades reais e necessidades concretas bem dosadas podemos fazer uma linha tênue, separando o ideal da nossa realidade, sem esquecer jamais de que sonhar é preciso.

       

    

Você costuma se aprisionar dentro do padrão normal imposto pela sociedade ou permite extravazar o seu comportamento e opiniões?