Joji Ueno é ginecologista-obstetra. Dirige a Clínica Gera e o Instituto de Ensino e Pesquisa em Medicina Reprodutiva de...
iNão existem levantamentos estatísticos confiáveis para saber quantas pessoas consultam o serviço de Saúde preventivamente no Brasil. Porém, é consenso entre os especialistas o fato de que a maior parte dos pacientes só busca ajuda quando os sintomas começam realmente a incomodar. Mesmo entre as mulheres, grupo que vai com mais freqüência ao médico, acompanhando filhos, maridos e os idosos da família, os exames preventivos não são uma prática habitual. E elas não adoecem menos, pelo contrário... O sexo feminino sofre mais com distúrbios como depressão, ansiedade, síndrome do pânico e osteoporose. Até nas doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, reumatismo e dor na coluna, as mulheres são as maiores vítimas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, esses problemas afetam 33,9% das mulheres e 25,7 % dos homens.
São os hormônios femininos, ou a falta deles, os principais responsáveis pela maior exposição das mulheres às doenças. Além disso, estresse, dupla jornada no trabalho, fumo, dieta desbalanceada e sedentarismo também contribuíram para fragilizar a saúde.
Como as mulheres, hoje, detêm o poder de decisão das famílias, é importante que elas compreendam que atuar nas conseqüências do adoecimento é pouco efetivo, tardio e, muitas vezes, mais dispendioso. A prevenção de doenças é muito pouco difundida junto à população, mas é uma ação necessária.
Na adolescência
Menstruação irregular, cólicas incapacitantes
No início da adolescência, os fluxos são irregulares, tanto em relação ao número de dias quanto ao intervalo entre eles. Porém, a situação se normaliza após dois anos, em média, após a menarca. Se a variação se mantiver depois desse período, o ideal é consultar um ginecologista. De 40% a 50% das adolescentes que apresentam cólica incapacitante, quer dizer, dor intensa que requer repouso e as impede de exercer as atividades normais podem apresentar endometriose. A recorrência de cólicas incapacitantes pode ser o primeiro sintoma da endometriose, que pode levar à infertilidade na idade adulta e que tem muito mais chances de ser contornada com um diagnóstico precoce.
A endometriose é um problema que acomete quem menstrua. Mulheres que desenvolverão a enfermidade já podem ter, aos 14, 15 ou 16 anos, a tendência ou a manifestação leve da doença. O que poucos consideram é que essa dificuldade se desenvolve lentamente e pode ser desencadeada logo no início da idade reprodutiva, antes mesmo de a menina ter sua primeira relação sexual. A idéia de que sentir dor ao menstruar não é nada demais é uma das razões para o diagnóstico tardio da doença. Segundo estimativas do Nepe, Núcleo Interdisciplinar de Ensino e Pesquisa em Endometriose, meninas que começam a sofrer com os sintomas na adolescência chegam ao diagnóstico até 12 anos depois, quando muitos estragos já foram feitos ao corpo.
Médicos e profissionais das diversas especialidades que acompanham adolescentes - hebiatras, endocrinologistas, ginecologistas, nutricionistas, professores - devem estar aptos a reconhecer os sinais da doença e recomendar a investigação. A partir do diagnóstico, a estratégia de controle pode ser traçada, assegurando qualidade de vida a esta jovem.
Síndrome dos ovários policísticos
Alterações menstruais constantes constituem-se em outro sinal de alerta para as mulheres, pois podem indicar a presença de ovários policísticos. A mulher que apresenta a moléstia menstrua a cada dois ou três meses e, freqüentemente, tem apenas dois ou três episódios de menstruação por ano. Outro sintoma da doença é o hirsutismo, ou seja, o aumento de pêlos no rosto, nos seios e na região do abdômen. A obesidade também é um sintoma prevalente. Na verdade, a obesidade agrava a Síndrome dos Ovários Policísticos. Às vezes, a paciente não tem as manifestações sintomáticas, mas quando engorda, elas costumam aparecer.
A doença costuma aparecer por volta dos 20-30 anos. Calcula-se que entre 20% e 30% das mulheres tenham ovário policístico, mas que apenas de 5% a 10% delas manifestem a Síndrome. A mulher que apresenta ovários policísticos produz uma quantidade maior de hormônios masculinos, os andrógenos. O principal problema que este desequilíbrio hormonal provoca está relacionado com a ovulação. A testosterona produzida pela mulher interfere nesse mecanismo e, ao mesmo tempo, aumenta a possibilidade da incidência de cistos, porque eles resultam de um defeito na ação dos hormônios do ovário, impedindo a ovulação.
O diagnóstico do problema pode ser feito por meio do ultra-som ou do toque realizado no exame ginecológico de rotina. Às vezes, ao examinar a paciente, o médico consegue perceber os dois ovários aumentados. Um ovário tem mais ou menos 9cm³. O ovário policístico chega a ter 20cm³, quer dizer, o dobro do volume.
Saiba quais são os cuidados necessários na fase adulta
Prof. Dr. Joji Ueno é ginecologista, especialista em reprodução humana, Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP e diretor da Clínica Gera.
Para saber mais, acesse: www.clinicagera.com.br
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