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Desde que os pesquisadores da Universidade de Limerick, na Irlanda, decidiram que o mesentério deveria ser classificado como um órgão, e não apenas uma estrutura, ele está dando o que falar. Mas você sabe afinal o que é este órgão? Conversamos com especialistas para saber mais sobre ele:
Afinal, o que o mesentério faz?
O estudo conduzido pelo pesquisador irlandês Calvin Coffey, e publicado na revista cientifica The Lancet - Gastroenterology & Hepatology, classificou o mesentério como um órgão, mas deixou em aberto suas possíveis funções dentro do organismo, dizendo que elas ainda precisam ser investigadas e mais bem compreendidas. No entanto, existem já alguns papeis deste órgão dentro do organismo que são bastante conhecidos.
"O mesentério faz parte das estruturas abdominais e é basicamente o responsável por fixar toda parte móvel do intestino, ligando-o ao organismo através de nervos e vasos que alimentam o trato intestinal e também trazem os nutrientes absorvidos na digestão nestes órgãos", descreve a coloproctologista Maria Cristina Sartor, presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP).
Dentro de sua estrutura formada por lipídios, o mesentério traz diversos vasos sanguíneos, nervos e até linfonodos e vasos linfáticos (parte do sistema imunológico do organismo), dando todo o suporte ao intestino em sua ligação com o restante do corpo.
Sua estrutura em forma de leque é maleável o suficiente para permitir que o intestino se movimente, o que é muito importante para suas funções, principalmente de defesa contra infecções. "Se houver uma apendicite simples, por exemplo, as alças do intestino têm mobilidade suficiente para conseguirem se defender desta infecção", explica a especialista.
Além disso, existem funções que começaram a ser descobertas há pouco tempo. "Graças aos trabalhos envolvendo cirurgias bariátricas, percebe-se hoje que o mesentério tem um papel importante na produção dos hormônios que levam à saciedade e também nos relacionados ao controle da glicemia", ressalta o gastroenterologista Leonardo Mota, especialista do Hospital São Camilo, em São Paulo.
É dentro deste campo que os pesquisadores esperam descobrir novas funções do mesentério, que talvez possa ser um aliado do emagrecimento e também do sistema imunológico. "Se descobrirmos novos mecanismos de saciedade ou de controle glicêmico, isso abriria caminho para o desenvolvimento de novos medicamentos que interfiram nestes mecanismos quando eles não ocorrem quando deveriam", esclarece o médico.
Doenças do mesentério
Como todo órgão e estrutura do corpo humano, o mesentério apresenta doenças próprias, mas sempre são quadros que acabam afetando as funções do intestino. "Ele pode ser um local de aderências que causam obstrução e contém as artérias, veias, vasos linfáticos e gânglios, estruturas importantes da vascularização e drenagem sanguínea do intestino", considera o cirurgião do aparelho digestivo Sidney Klajner, do Hospital Albert Einstein.
Existe também um quadro chamado isquemia mesentérica, em que há uma trombose nos vasos do mesentério, obstruindo a chegada de sangue e nutrientes para o intestino. "Isso leva a necrose do intestino", alerta o gastroenterologista Leonardo.
O mesentério também pode ser acometido por tumores benignos e malignos (que podem se desenvolver em cânceres). Ele também pode levar doenças ao intestino. "Os linfonodos, que funcionam como peneiras, filtrando o que entra no organismo, podem ser contaminados por tumores e doenças infecciosas e inflamatórias, espalhando-as pelo intestino", explica Sartor.
Por tudo isso, ele já era uma estrutura levada em conta pelos médicos que estudam e tratam do sistema digestivo, principalmente dos intestinos. Seus vasos e linfonodos são sempre avaliados quando há algum problema intestinal, servindo até mesmo para o diagnóstico de câncer na região.
Afinal de contas, o mesentério é oficialmente um órgão?
O estudo de Coffrey sugere classificar o mesentério como um órgão, mas isso não significa que esta classificação seja oficial. "Para isso, é preciso que a Terminologia Anatômica Internacional a reconheça como tal", ensina Sartor. Este documento é balizado pela Federação Internacional de Associações de Anatomistas.
Apesar disto ainda não ter acontecido, o mesentério já está sendo classificado como órgão na nova edição do livro Anatomia de Gray, um dos livros de anatomia mais usados nas faculdades de medicina do mundo todo, o que é um grande passo.
É sempre bom ressaltar que a novidade dentro do mesentério é sua classificação, já que sua estrutura é uma velha conhecida dos médicos. O primeiro anatomista a descrevê-lo foi Leonardo da Vinci no século XVI.
Mais tarde, no final do século XIX, o cirurgião inglês Frederick Treves o descreveu como três estruturas diferentes, o mesentério, que se liga ao intestino delgado, o mesocólon e o mesoreto, que estão conectados ao intestino grosso.
A atual classificação de Coffrey quer unir estas três estruturas, que são consideradas diferentes apenas por terem padrões de distribuição dos vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos diversas. "Algo natural, já que cada uma atende as necessidades de partes diferentes do intestino", ressaltar Sartor.
No entanto, a maioria dos especialistas não vê esta mudança como algo ainda relevante dentro da medicina, pois ele já era considerado importante por especialistas da área que clinicam e que estudam o intestino, justamente por ter a importante função de ligar este órgão ao restante do corpo.
Outro ponto é que as pesquisas sobre a função do mesentério no emagrecimento, no diabetes e sistema imunológico, entre outras, já estão sendo conduzidas há algum tempo, justamente em busca de descobrir melhor sua função dentro do corpo.