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Quem convive com uma condição de saúde como uma doença reumática, muitas vezes, precisa fazer algumas adaptações na rotina. E a vida sexual pode ser uma delas.
Isso porque doenças como artrite reumatoide, lúpus e psoríase podem trazer dificuldade na hora de se movimentar na cama durante o sexo. Para se ter uma ideia, um levantamento realizado pelo Hospital Universitário de Brasília e da Universidade Federal do Pará constatou que que cerca de 60% dos pacientes que convivem com essas dores possuem algum tipo de disfunção sexual.
Em um trabalho realizado com esses pacientes, a reumatologista Lícia da Mota, da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), notou que esse era uma queixa muito frequente: "eles começaram a questionar que tinham dificuldades com sexualidade e se isso seria relacionado a doença/medicação", conta ela. Então, os especialistas começaram a observar mais de perto o problema.
"Fizemos um levantamento sobre disfunção sexual feminina em casos de artrite reumatoide (que acomete majoritariamente as mulheres) e lúpus, fibromialgia, etc., entre pacientes homens e mulheres. Vimos que a disfunção era muito prevalente, mais do que imaginávamos", destaca Lícia.
As maiores reclamações sobre a vida sexual que esses pacientes trouxeram para o consultório eram: dores, inchaço e rigidez, uma combinação que inviabiliza mecanicamente o sexo. "Há também dificuldade na libido, pois pelas deformidades, existe uma autoimagem muito prejudicada desses pacientes. Elas se acham feias e essa percepção como mulher atrapalha muito, tendo impacto direto na libido", ressalta a médica.
Lícia destaca ainda que as medicações que esses pacientes tomam também afetam negativamente a libido, principalmente pela combinação de remédios, uma vez que 70% deles não tem só artrite, como tem também diabetes ou fibromialgia, por exemplo. "Em alguns casos, a lubrificação e a ereção também podem ser prejudicadas pelo uso de antidepressivos, prescritos para amenizar a dor", conta.
Até então, todas essas reclamações eram uma novidade para os médicos, porque os pacientes têm muita vergonha de relatar esse tipo de problema e, além disso, esse não é um tema abordado durante as avaliações de rotina. "Analisamos as dores, a rigidez, a fadiga, o sono, o apetite, a urina, mas raramente ou nunca perguntamos sobre a vida sexual", conta a especialista.
Notando a urgência dessa questão, um time de especialistas da Sociedade Brasileira de Reumatologia decidiu criar um material voltado para os próprios médicos, com instruções sobre como tratar dessa dificuldade com os pacientes. O guia, com informações sobre as causas, as medicações e como tratar do assunto, foi publicado Revista Brasileira de Reumatologia.
Junto com o compilado informativo, foi incluído também um guia de posições sexuais, cedido pela Sociedade Britânica de Reumatologia, a Arthritis Research UK. Agora, os especialistas buscam reunir recursos para criar um material especialmente pensado para os pacientes.
"Queremos que tenha uma linguagem acessível para o nosso perfil de público, pois uma coisa que aprendemos é que existe uma distância entre o que você diz e o que o paciente entende, existe uma dificuldade de comunicação", afirma Lícia."Por isso, queremos trabalhar o material com uma linguagem muito próxima, simples, como perguntas e respostas", conta. A ideia é que o guia de orientação sexual para os pacientes seja distribuído pelos laboratórios do Hospital Universitário de Brasília e pela Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Abaixo, confira as imagens cedidas pela Arthritis Research UK, com as melhores posições sexuais para pacientes reumáticos:
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