Dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que se espalha rapidamente no mundo. Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 50 anos, a incidência da doença aumentou 30 vezes: estima-se que 50 milhões de infecções por dengue ocorram todo ano.
Uma das épocas de infecção mais críticas é o verão e o controle do vetor é essencial. O problema é que a guerra contra o mosquito vem encontrando obstáculos.
"As medidas de controle ao mosquito vetor da dengue não são tão eficazes e, com isso, vemos um aumento de casos", afirma o pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados mais de 1,6 milhão de casos prováveis de dengue no país em 2015 - o número é o maior registrado na série histórica, iniciada em 1990.
A forma clássica da doença pode ser confundida com uma gripe. Os sintomas são febre alta, dores de cabeça, cansaço, dor muscular e nas articulações, enjoo, indisposição, vômitos, entre outros. A dengue pode evoluir para uma forma mais grave, chamada de dengue hemorrágica. Ela acontece quando a pessoa infectada sofre alterações na coagulação sanguínea. Se não for tratada, pode levar à morte.
Além do prejuízo para a saúde de cada indivíduo, os custos gerados por causa da dengue são altos. Um estudo realizado em 2015, conduzido em seis capitais brasileiras (Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Goiânia, Recife, Teresina e Belém), mostrou que a doença pode custar até 1,2 bilhão de dólares por ano ao País. A pesquisa foi coordenada pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães-Fiocruz Pernambuco e pela Universidade de Pernambuco.
Primeira vacina
Nesse cenário preocupante, uma notícia que promete contribuir no controle da doença foi anunciada no ano passado: a primeira vacina contra a dengue começou a ser distribuída em diversos países do mundo, incluindo o Brasil.
"Essa é a primeira vacina licenciada contra a dengue no mundo. Agora temos uma vacina para a prevenção de uma doença com grande impacto em saúde pública. A dengue preocupa muito porque o número de casos da doença aumenta a cada ano e não temos um tratamento para matar o vírus. O que existe é um tratamento para o paciente sobreviver ao ciclo da doença", explica a infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
Quantas doses?
A vacina da dengue é aplicada em três doses. O intervalo entre cada uma delas é de seis meses. Sendo assim, o ciclo se completa após um ano que a pessoa tenha tomada a primeira dose.
Quem pode tomar?
A faixa etária indicada para a imunização é de nove a 45 anos. "Os estudos da vacina da dengue foram feitos focados nesses grupos etários. Ela não foi estudada fora dessa faixa de idade, portanto, não pode ser administrada", esclarece o infectologista Marco Aurélio Sáfadi, diretor do núcleo de Estudos e Publicação da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses (SBD-A) e professor da Santa Casa de São Paulo.
Quem não pode tomar?
Por ser uma vacina feita com vírus vivo atenuado, pessoas que estejam com problemas de imunidade não podem tomar a vacina. Além disso, pacientes que fazem tratamento com medicamentos imunossupressores, gestantes e lactantes também apresentam contraindicações. Em caso de dúvida, consulte o seu médico para que o profissional possa orientar a conduta correta.
Qual a eficácia?
A eficácia global da vacina na prevenção da dengue é de 66%. Isso significa dizer que a imunização poderia prevenir dois em cada três casos da doença. Em casos mais graves de dengue, que podem levar a internações e até mesmo mortes, a performance da vacina é significativamente melhor: de 80% (internações) a 93% (dengue grave) de prevenção.
"Esse número deve ser olhado levando em conta o tamanho do problema: temos milhares de casos por ano e reduzi-los em dois terços é muito significativo. Outras vacinas têm eficácia semelhante. Um exemplo é a vacina da gripe", afirma Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm.
Saiba mais: Dengue: elimine os principais focos da doença
Quanto tempo depois de tomar a vacina a pessoa está imunizada?
"Ainda não é possível ter uma resposta correta para essa dúvida. Praticamente todas as pessoas que participaram do estudo completaram as três doses. Então, a indicação é completar o ciclo de imunização", explica a infectologista Rosana Richtmann.
Protege contra os quatro tipos de dengue?
Sim, a vacina protege contra os quatro sorotipos da doença: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. É importante lembrar que quando uma pessoa tem um tipo de dengue, ela fica imune e não será mais afetada por esse vírus, porém pode desenvolver a doença novamente já que existem outros três tipos.
Tem efeitos colaterais?
Segundo os especialistas, os efeitos colaterais observados até o momento são os mais comuns em casos de imunização: dor local, febre e vermelhidão.
"Por ser uma vacina nova, o que temos são os dados dos estudos que levaram ao licenciamento da vacina. Claro que muitos dos eventos que a imunização pode provocar só são conhecidos quando ela é usada em larga escala. Entretanto, até o momento, os efeitos colaterais foram leves e ocorreram uma porcentagem pequena de pessoas vacinadas. Portanto, o perfil de segurança da vacina é favorável", explica Rosana.
Quem já teve dengue também deve tomar a vacina?
Sim, quem já teve dengue deve tomar a vacina. É importante, segundo os especialistas, entender que a vacina é até mais indicada nesses casos. Isso porque, normalmente, a forma mais grave da doença ocorre na segunda vez que a pessoa é infectada. E, levando em conta que a eficácia da vacina é melhor em casos mais graves, a indicação é clara.
"Esse quadro reforça ainda mais a necessidade da vacina como prevenção em zonas endêmicas, ou seja, onde já há atividade da doença", reforça o infectologista Marco Aurélio Sáfadi.
Protege contra Zika Vírus e Chikungunya?
A vacina não protege contra Zika Vírus, Chikungunya ou qualquer outra doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. "A vacina não é contra o mosquito. É contra a dengue especificamente", enfatiza Renato.
Precisa continuar com outras formas de prevenção?
"Que fique muito claro: a pessoa vacinada não está livre da dengue. As outras formas de prevenção precisam ser mantidas. A mais importante é o combate ao vetor. É uma batalha individual e também das autoridades sanitárias", lembra Marco Aurélio.
Além de combater o mosquito, o uso de repelente continua sendo um método importante de prevenção à doença.
Onde encontrar?
A vacina contra a dengue pode ser encontrada em hospitais e clínicas particulares. Ainda não há previsão de distribuição na rede pública. Algumas cidades podem optar por dar a vacina sem custos para a população, porém são iniciativas de governos locais.
A vacina tem custo?
Sim, a vacina é paga. O preço pode variar de acordo com o estabelecimento escolhido. Além disso, é preciso lembrar que o custo unitário deve ser multiplicado por três, pois o ciclo da vacina é composto por dose tripla.