Médico especializado em angiologia e cirurgia vascular graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é...
iMais de 16 milhões de brasileiros adultos sofrem de diabetes e a doença mata 72 mil pessoas por ano no país, revela um relatório da Organização Mundial de Saúde divulgado em 2016. No Brasil, a prevalência da diabetes é de 8,1%, ligeiramente abaixo da média mundial, e é maior nas mulheres (8,8%) se comparado aos homens (7,4%).
O excesso de peso afeta 54,2% dos brasileiros, a obesidade, 20,1% e a inatividade física, 27,2%. A diabetes provoca a morte de 72.200 brasileiros com mais de 30 anos e representa 6% de todas as mortes. O excesso de glicose no sangue é responsável por mais 106.600 mortes por ano no Brasil.
O que é o pé diabético
Denomina-se pé diabético a presença de infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos profundos associados a anormalidades neurológicas e a vários graus de doença vascular periférica em pessoas com diabetes (Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético, 2001).
No site da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular encontramos a seguinte explicação: o nível elevado de açúcar no sangue pode afetar nervos e a circulação sanguínea das pernas. A lesão dos nervos pode causar formigamentos, agulhadas, queimação e até insensibilidade dos pés. Desta forma, o diabético não sente as lesões e estas pioram e podem se infectar, o que pode levar a amputação de pés e pernas.
Cuidados com o pé diabético
Como tudo em medicina, prevenção é a melhor conduta. Todos os diabéticos devem se habituar aos seguintes procedimentos:
- Verifique os pés todos os dias para cortes, rachaduras, inchaços, bolhas, feridas, infecções ou achados incomuns
- Use um espelho para ver a planta de seus pés, se você não puder levantá-los
- Verifique a cor de suas pernas e pés. Caso haja inchaço, calor ou vermelhidão, ou se você tiver dor, procure sua equipe de saúde
- Limpe cortes ou arranhões com sabonete neutro e água e cubra com um curativo seco para a pele sensível
- Corte suas unhas em linha reta
- Lave e seque bem os pés todos os dias, especialmente entre os dedos
- Aplique uma loção hidratante para a pele todos os dias nos calcanhares e na planta dos pés. Limpe qualquer excesso de loção
- Troque suas meias todos os dias
- Use sempre sapato confortável e do tamanho adequado para seus pés
- Use sapatos com saltos baixos (menos de 5 cm de altura)
- Compre sapatos no fim da tarde (já que os pés costumam inchar ligeiramente ao longo do dia)
- Evite frio e calor extremos (incluindo a exposição ao sol)
- Exercite-se regularmente
- Procure sua equipe de saúde se você precisar de aconselhamento ou tratamento.
Sintomas do pé diabético
Em qualquer momento que um paciente diabético, na maioria das vezes mal controlado, percebe uma anormalidade no seu pé, seja de sensação, temperatura, cor, deformidade dos ossos do pé ou tecidos dessa região, presença de inflamação ou infecção, estamos diante da possibilidade de um pé diabético.
Os sintomas mais frequentes são formigamentos e sensação de queimação (que tipicamente melhoram com o exercício). A diminuição da sensibilidade pode apresentar-se como lesões traumáticas indolores ? às vezes o diabético se machuca e não percebe e essa lesão pode aumentar e infeccionar ? ou a partir de relatos, como perder o sapato sem notar.
Sintomas do pé isquêmico
Já o pé isquêmico caracteriza-se tipicamente por história de dor ao caminhar que obriga o diabético a parar, descansar por um instante e depois retornar à caminhada, o que chamamos de claudicação intermitente, e/ou dor ao elevar o membro.
Ao exame físico, pode-se observar que o pé pode ficar meio vermelho quando colocado para baixo e pálido ao ser elevado. Ao se apalpar, o pé apresenta-se frio, podendo haver dificuldade de o sangue chegar até as extremidades devido a problema na circulação.
Pode ser perigoso para os seus pés:
- Não corte seus próprios calos ou calosidades
- Não trate sozinho suas unhas encravadas ou lascadas com navalhas ou tesouras. Procure sua equipe de saúde
- Não se automedique com medicamentos para tratar calos e verrugas. Eles são perigosos para as pessoas com diabetes
- Não aplique calor nos seus pés com garrafas de água quente ou cobertores elétricos. Você pode queimar seus pés sem perceber
- Não deixe os pés úmidos
- Não tome banho muito quente
- Não deixe loção hidratante entre os dedos dos pés
- Não ande descalço dentro ou fora de casa
- Não use meias, meias-calças, ligas ou elásticos apertados nas pernas e nos pés
- Não escolha palmilhas por conta própria, elas podem causar bolhas se não forem do formato exato dos pés
- Não se sente por longos períodos
- Não fume.
Caso o paciente se machuque e apresente ferida, a possibilidade de infecção é grande devido à falta de circulação. É necessário reconhecimento da lesão e seu tratamento o mais rápido possível para que essa infecção não aumente muito, se espalhe e o paciente venha a perder o pé devido a um comprometimento muito grande. Às vezes para salvar uma vida, precisamos tomar medidas mais agressivas, como uma amputação de parte do pé, para impedir que esta infecção seja progressiva e comprometa a vida.
Aproximadamente 40 a 60% de todas as amputações não traumáticas dos membros inferiores são realizadas em pacientes com diabetes; 85% das amputações dos membros inferiores relacionadas ao diabetes são precedidas de uma úlcera no pé. Quatro entre cinco úlceras em indivíduos diabéticos são precipitadas por trauma externo. A prevalência de uma úlcera nos pés é de 4 a 10% da população diabética. São dados expressivos e que devem servir de alerta para toda a população.
Fontes consultadas:
- Site da SBACV
- Consenso Internacional sobre Diabetes
- Manual do Pé Diabético - Ministério da Saúde