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Puberdade precoce é um quadro em que as crianças começam a desenvolver sintomas de amadurecimento do corpo ainda na infância, ou seja, antes da idade considerada apropriada. Esse desenvolvimento é considerado adiantado quando se inicia antes dos oito anos no caso das meninas e antes dos nove anos para os meninos.
"Os principais sinais de puberdade precoce são: aumento de mamas ou desenvolvimento de pelos genitais em meninas e aumento de pelos e genital (testículos e/ou pênis) nos meninos", resume o endocrinologista pediátrico Luis Eduardo Procopio Calliari, médico-assistente do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo.
A puberdade precoce não é uma condição tão comum (atinge 3% das meninas e uma quantidade ainda menor de meninos), porém causa grande apreensão aos pais quando seus filhos são afetados por ela. Para tranquilizá-los e deixá-los bem informados, o portal Minha Vida conversou com especialistas que esclareceram as principais dúvidas sobre puberdade precoce.
Saiba mais: Saiba quando a puberdade é considerada precoce
1. Como sei que meu filho está passando por uma puberdade precoce?
O principal sinal é o já citado desenvolvimento antecipado dos sintomas de puberdade nas crianças. Normalmente, estes sintomas e a idade são diferentes para meninos e meninas:
- No caso das meninas, é o crescimento das mamas (que pode ser apenas de uma) e/ou o aparecimento de pelos pubianos antes dos oito anos
- No caso dos meninos, é o crescimento do pênis e/ou testículos e/ou aparecimento de pelos pubianos antes dos nove anos.
Caso estes sintomas apareçam, é importante buscar auxílio do médico, que avaliará outros fatores. "Na consulta, o especialista analisa, entre outros dados, se a criança está perdendo altura e pode pedir alguns exames, como ultrassom, exame de sangue e raio X para avaliação da idade óssea, entre outros", enumera a endocrinologista pediátrica Angela Spinola, professora adjunta e chefe do Setor de Endocrinologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Saiba mais: Puberdade precoce: entenda melhor como é feito o diagnóstico
2. O desenvolvimento precoce do meu filho significa que ele terá que tomar medicamentos para puberdade precoce?
Nem sempre o tratamento medicamentoso será necessário. De acordo com Angela, algumas crianças podem apresentar características de desenvolvimento um pouco antes das demais, sem que isso comprometa futuramente o seu desenvolvimento ou crescimento.
"A puberdade precoce precisa apresentar uma evolução para ser considerada como tal, pois, muitas vezes, os primeiros sintomas podem vir mais cedo, mas a criança pode ter um progresso mais lento", explica a especialista. Somente a puberdade efetivamente precoce, com um avanço acelerado dos sintomas, necessita de medicamentos.
No entanto, é importante ressaltar que, quem saberá avaliar essa questão, é o médico. Angela alerta que qualquer sinal de caracteres sexuais antes do tempo em meninos ou meninas deve ser comunicado ao pediatra, que, provavelmente, fará o encaminhamento para um endocrinologista pediátrico.
3. A puberdade precoce pode estar relacionada com hormônios presentes em alimentos, como o frango e a soja?
Muitas pessoas acreditam nisso, no entanto essa relação não foi esclarecida por completo. "Não há comprovação de que exista hormônio na carne bovina ou no frango capaz de iniciar a puberdade. Esses alimentos não devem ser retirados da alimentação das crianças por este motivo", ressalta Calliari.
A condição da soja ainda permanece em dúvida, já que seus fitoestrógenos (substância presente no alimento) são capazes de agir como os hormônios femininos. Entretanto, a endocrinologista Angela acredita que se eles fossem responsáveis de alguma forma por este quadro, outros sintomas de excesso de hormônios devido ao consumo de soja pela população seriam evidentes, o que não acontece atualmente.
Ainda na questão da alimentação, a obesidade, sim, é um fator de risco importante para a puberdade precoce. Portanto, oferecer uma alimentação hipercalórica e rica em carboidratos refinados, gorduras saturadas e alimentos industrializados pode ser mais determinante para o desenvolvimento da puberdade precoce do que o consumo de frango ou soja.
4. Quais as chances da puberdade precoce do meu filho ser causada por um problema mais grave?
Para esclarecer esta questão, é preciso diferenciar as causas da puberdade precoce. Ela pode ter origem em tumores na hipófise (uma glândula cerebral), ovários e testículos ou qualquer alteração que interfira na produção dos hormônios destas glândulas. Em alguns casos, porém, não é possível determinar o que fez com que a produção destes hormônios se desregulasse, essa é a chamada puberdade precoce idiopática (sem causa conhecida).
"Estima-se que 90% dos casos de puberdade precoce em meninas são idiopáticos, enquanto os outros 10% são causados por algum tipo de tumor", explica Angela Spinola. Já os casos dos meninos, que são mais raros, costumam ser causados por tumores, que também precisam ser tratados.
5. Quais são os tratamentos mais indicados para puberdade precoce?
Quando a puberdade precoce é idiopática (ou seja, sem causa determinada), o mais indicado é o tratamento hormonal. "Ele é feito à base de hormônios que bloqueiam a produção de hormônios pela hipófise, fazendo com que seus níveis voltem ao estágio pré-púbere (anterior à puberdade)", explica o endocrinologista Calliari. No entanto, eles só serão indicados levando-se em consideração a idade óssea da criança, avaliação que será feita pelo médico.
Já os casos relacionados a outros fatores, como tumores, precisam ter o fator desencadeante também tratado. Nesse cenário, os bloqueadores hormonais sozinhos não conseguirão conter o quadro, como explica Angela.
Saiba mais: Saiba qual a importância do tratamento para puberdade precoce
6. O tratamento pode trazer efeitos colaterais?
Como os hormônios são aplicados em injeções intramusculares, pode haver dor local e inchaço da região. Fora isso, outros efeitos colaterais são raros. "Efeitos sistêmicos são pouco descritos, com estudos de longo prazo demonstrando perfil de segurança do tratamento", assegura Calliari.
7. Como saber se o tratamento está fazendo efeito?
Quando os medicamentos começam a fazer efeito, "ocorre redução da progressão dos sinais puberais e do ritmo de crescimento. Isso será perceptível no acompanhamento médico evolutivo da criança", considera Calliari.
Normalmente, o acompanhamento inicial do tratamento é feito a cada três meses. Quando os sinais clínicos e o nível hormonal do paciente estiverem estáveis, o tempo de retorno ao médico pode aumentar para cinco meses.
8. Por quanto tempo meu filho tomará estas injeções?
A duração do tratamento varia conforme diversos fatores, como por exemplo:
- Idade em que a criança começou a se tratar
- Idade óssea da criança no início do tratamento
- Altura da criança no início do tratamento em comparação a outras crianças de sua idade.
Quando a criança atinge a idade óssea de 12 anos e meio, normalmente, o tratamento é suspenso. Essa avaliação, no entanto, só poderá ser feita pelo médico que acompanha o caso.
9. Quais as consequências da puberdade precoce para a saúde do meu filho?
Uma complicação comum da puberdade precoce, principalmente se ela não for tratada ou se for diagnosticada muito tardiamente, é a baixa estatura. Isso ocorre porque na puberdade precoce há um amadurecimento mais acelerado da estrutura óssea, que faz com que a criança saia do estirão de crescimento mais cedo do que os colegas da mesma idade.
Há também o risco de a puberdade precoce não tratada levar estas crianças a adotarem comportamentos de maior risco quando chegarem à adolescência, como sexo não seguro e gravidez precoce. Isso acontece porque a criança tem um desenvolvimento corporal incompatível com sua maturidade psicológica e emocional. Com isso, ela pode ser exposta a situações de risco com as quais pode não saber lidar.
Já na vida adulta, estudos recentes têm demonstrado poucos problemas de saúde em mulheres que tiveram puberdade precoce. "Oriento uma tese de mestrado investigando a relação entre este quadro e o desenvolvimento de síndrome do ovário policístico, que busca saber se existe um aumento da incidência em meninas que trataram o problema. Isso pode estar tanto relacionado à medicação quanto ao quadro em si. É difícil afirmar com certeza", considera Angela Spinola.
Saiba mais: Puberdade precoce pode indicar problemas hormonais ou não ter causa aparente
Além disso, segundo os especialistas, atualmente não há comprovação do risco destes pacientes terem menopausa precoce ou problemas de fertilidade.
10. Meu filho com puberdade precoce pode passar pelas mudanças psicológicas da fase mais cedo?
As mudanças hormonais relacionadas com a puberdade precoce podem causar alterações de comportamento, como variações de humor, que são pausadas quando o tratamento começa a surtir efeito e só retornam no período certo, quando a medicação é suspensa. "Costumo dizer que os pais precisam passar por essa fase difícil duas vezes em casos de puberdade precoce", comenta Angela.