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A puberdade já é uma fase difícil quando acontece dentro do tempo esperado, que dirá quando ocorre antes do previsto! A chamada puberdade precoce caracteriza-se quando o corpo passa a exibir características próprias dos adultos mais cedo do que o esperado: antes dos oito anos para as meninas e antes dos nove para os meninos. Os sinais mais evidentes de puberdade precoce são: antecipação da primeira menstruação e/ou crescimento dos seios e/ou pelos pubianos para as meninas, bem como o aumento do volume dos testículos e/ou surgimento de pelos pubianos para os meninos.
Essa antecipação do desenvolvimento do filho gera uma situação de dúvidas e incertezas não só para os pais, como para a própria criança. Mas agir com calma é fundamental, até para conseguir buscar o tratamento e acompanhamento adequados.
Para ajudar quem passa por essa situação, conversamos com especialistas sobre o que fazer desde o momento da desconfiança do quadro até a confirmação do diagnóstico e durante o tratamento. Tire suas dúvidas sobre como agir se seu filho estiver passando pela puberdade precoce:
Suspeita de puberdade precoce
O primeiro passo é buscar aconselhamento do pediatra da criança que, provavelmente, a encaminhará para um endocrinologista pediátrico. Este médico pedirá exames para entender o que está acontecendo.
"Neste momento inicial, evite antecipar qualquer conversa ou situação com a criança antes de ter certeza que os sintomas observados são decorrentes da puberdade precoce", orienta a psicóloga Christine Christmann, especialista em neuropsicologia pelo Centro de Estudos Psicocirúrgicos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Saiba mais: Saiba quando a puberdade é considerada precoce
Provavelmente, a criança já estará preocupada com as mudanças de seu corpo e com a diferença entre sua aparência e a dos colegas de sua idade, principalmente no caso das meninas, que têm uma puberdade mais visível e são maioria nos casos de puberdade precoce. Portanto, falar sobre o assunto antes de ter certeza do diagnóstico pode gerar uma ansiedade desnecessária.
Diagnóstico confirmado
Em primeiro lugar, é importante perceber que o diagnóstico de puberdade precoce não é tão assustador quanto se imagina, o que normalmente fica claro na conversa com o especialista.
"O médico costuma orientar mães e pais, explicando o que está acontecendo e o que será feito para o tratamento. Entender o direcionamento que o profissional dará costuma tranquilizar a família", considera a psicóloga clínica Taís Menk, especialista em psicologia hospitalar e mestre em Puberdade Precoce no Hospital das Clínicas da USP.
Neste momento, caso a puberdade precoce seja idiopática (ou seja, sem causa aparente), a criança pode precisar seguir tratamento com bloqueadores hormonais, que são administrados através de injeções mensais ou trimestrais e fazem com que ocorra uma pausa no estímulo do eixo da puberdade, ou seja, no estímulo do desenvolvimento da puberdade precoce.
Saiba mais: Puberdade precoce: entenda melhor como é feito o diagnóstico
Para a endocrinologista pediátrica Angela Spinola, caso a criança seja muito nova e o tratamento indicado seja esse bloqueio da puberdade, não é preciso entrar em tantos detalhes com seu filho: "Normalmente, digo para a criança que o corpo dela é um pouco mais apressado do que o dos colegas e ela precisa tomar um remédio para ficar no mesmo ritmo deles", considera a especialista. Mais tarde, quando a criança estiver maior e terminar o tratamento, já é possível conversar sobre o tema.
Se a criança for mais velha quando o diagnóstico for dado e não for possível usar a medicação para retardar o quadro (principalmente se a menina já menstruou), é importante conversar com a criança sobre o assunto, inclusive abrindo esse espaço ainda dentro do consultório médico. Os pais podem explicar que a criança passará por mudanças físicas um pouco antes dos colegas, mas que eles estarão sempre disponíveis para conversar sobre tudo que gere dúvidas. Manter as explicações bem simples e diretas é o melhor caminho.
"As mudanças da puberdade trazem insegurança ao adolescente mesmo quando elas despontam na idade considerada adequada", considera Christine, que completa: "a precocidade pode acarretar questões emocionais importantes para a criança, visto que elas são imaturas emocionalmente para lidarem com as alterações de um corpo desenvolvido". O diálogo, portanto, é fundamental.
Desenvolvimento corporal rápido demais
No início, as crianças começam a se sentir diferentes das demais, devido às mudanças no corpo. As meninas sentem muito mais isso, já que as mudanças físicas da puberdade feminina são mais aparentes.
"Neste ponto, as crianças ficam ansiosas, não entendem porque a sua imagem corporal é diferente dos colegas de mesma idade", considera Taís. De acordo com a especialista, isso pode fazer até com que ela se sinta mais introvertida, principalmente se estiver sofrendo bullying dos colegas por estar com o corpo diferente.
Por isso, é importante estar atento a como a criança está lidando com isso na escola, e até pedir ajuda da instituição para que qualquer problema com os colegas seja identificado e solucionado.
Mais influências emocionais
Além das mudanças corporais, se os hormônios não forem controlados com o tratamento, eles podem afetar ainda mais aspectos psicológicos das crianças, ocorrendo precocemente toda a instabilidade comum desta época.
Irritabilidade e inseguranças podem aparecer, tanto devido às mudanças sem controle, que ainda não correspondem à mentalidade da criança, quanto à diferença em relação aos outros. Nesses casos, muitas vezes a criança é nova demais para conseguir expressar o que sente e procurar um psicólogo infantil pode ajudar.
"Na terapia, trabalhamos com o elemento lúdico, o que a ajuda a expor sentimentos e problemas em outras linguagens, verificando inclusive se os sentimentos estão mesmo relacionados à puberdade precoce ou até se são outros problemas", considera Taís.
Além disso, os pais podem tentar estimular a criança a falar sobre o tema e tentar colocar para fora o que as atinge, seus medos e inseguranças. O psicólogo também poderá orientar a melhor maneira de fazer isso.
A sexualidade
Normalmente, o tratamento hormonal da puberdade precoce costuma segurar as mudanças, fazendo com que o corpo fique por algum tempo no estágio de desenvolvimento em que parou. Quando isso não é possível, a questão da sexualidade precisa ser abordada.
"Fiz um trabalho recente que mostra que as meninas que passam pela puberdade precoce começam a viver a sexualidade antecipadamente, até por despertarem o olhar do sexo masculino muito cedo", considera Taís.
Por mais que as meninas não pensem tanto em sexo inicialmente, até por estarem vivendo ainda em um mundo mais infantil, o fato de atraírem o olhar masculino pode começar a despertar nelas esse interesse sem a preparação adequada. Por isso, é importante que os pais fiquem atentos e conversem sobre relacionamentos e cuidados, principalmente se perceberem que já há interesse em meninos.
Como falar sobre isso?
Por tudo que envolve a puberdade precoce, é importante que os pais procurem uma orientação especializada no tema e depois de sanarem suas próprias dúvidas, conversem com as crianças, em um diálogo aberto e natural, deixando o filho confortável.
"Assegure-se de transmitir que a puberdade é um processo normal, mas que em algumas crianças pode ocorrer mais cedo e que tal fato não irá alterar sua rotina, suas brincadeiras ou sua forma de agir", aconselha Christine.
Saiba mais: Puberdade precoce pode indicar problemas hormonais ou não ter causa aparente
Não existe uma forma certa de ter essa conversa, e o ideal é ir sentindo como a criança recebe o tema e o que está de fato a incomodando também. "Esclareça as alterações que podem ocorrer devido aos hormônios, ressaltando que, aos poucos, a criança conseguirá controlar seus sentimentos, sentindo-se menos confusa. Ajude seu filho a respeitar seu corpo e seus limites", propõe a psicóloga.
A hora de procurar um psicólogo
Muitas vezes, quando a puberdade ocorre muito cedo, pode ser difícil para os pais conversarem com a criança sobre tudo que está acontecendo. "O recomendado, na maioria dos casos, é a terapia de grupo, com crianças que passam pelo mesmo diagnóstico e conversam na mesma linguagem", explica Tais.
Além disso, se a criança está apresentando muitos problemas, como isolamento social, baixa autoestima, estresse e ansiedade, é importante buscar um psicólogo para que ela exponha estes sentimentos e possa aprender a lidar com eles.
"Quanto mais cedo isso for trabalhado, menos interferirá no futuro da criança", explica Taís.