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A população em todo o planeta passa por um acelerado processo de envelhecimento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas maiores de 60 anos saltará dos atuais (1) 841 milhões para 2 bilhões em 2050. Em 2020, o número de idosos já terá superado (1) o de crianças com até cinco anos.
Se considerarmos apenas o Brasil, o cenário não é diferente. Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a quantidade de pessoas nessa faixa etária mais do que triplicará nas próximas décadas: de 19,6 milhões, em 2010, para 66,5 milhões, em 2050 (2).
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O aumento da longevidade é uma excelente notícia, mas também representa um desafio. O que fazer para garantir a melhor qualidade de vida possível ao grupo? A resposta de parte da pergunta está nas vacinas, capazes de prevenir milhões de mortes todos os anos.
Não é coisa de criança
Infelizmente, o pensamento de que somente as crianças precisam se vacinar persiste. Adolescentes e adultos só costumam se imunizar em períodos de surtos, que poderiam ser minimizados ou evitados caso a cobertura vacinal fosse mais elevada e/ou homogênea. Os idosos, por sua vez, têm como hábito buscar apenas a vacina anual contra a gripe.
Na medida em que o sistema imune naturalmente se torna mais fraco com o envelhecimento, não se vacinar significa expor-se a um risco desnecessário de infecções por doenças preveníveis que podem agravar quadros crônicos e levar à hospitalização ou à morte.
Já a pessoa que se vacina, além de se proteger, ajuda a reduzir a circulação de vírus e bactérias no ambiente e colabora com a saúde de quem não pode se imunizar por alguma razão.
Vacinação é uma questão de cuidado pessoal e de responsabilidade coletiva. Consulte seu médico.
É seguro
O desenvolvimento de vacinas é uma tarefa árdua, que pode levar décadas para se concretizar. Isso acontece porque, além de pesquisar os melhores componentes para a fórmula, é necessário cumprir uma série de etapas para garantir que a vacina é eficaz e não causa danos ao organismo:
- Fase pré-clínica: avalia se os resultados obtidos em laboratório se repetem em animais
- Fase clínica 1: avalia se a vacina é segura e gera resposta imunológica em um pequeno grupo de humanos
- Fase clínica 2: define a dosagem e os intervalos mais apropriados. O grupo de participantes chega a centenas de pessoas
- Fase clínica 3: confirma os resultados da fase anterior e estuda com mais precisão eventos adversos. Milhares de voluntários recebem a vacina.
Quando a vacina finalmente chega à população, há um monitoramente constante para investigar relatos de reações adversas inesperadas. Se forem encontrados e confirmados problemas, a comercialização é interrompida.
Que vacinas tomar?
A vacina é o principal recurso disponível para prevenir algumas doenças infectocontagiosas extremamente graves, capazes de matar e/ou causar sequelas significativas nos indivíduos afetados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), que classificou a invenção da vacina como a segunda maior conquista da humanidade em termos de saúde pública - depois da água potável -, estima que de 2 a 3 milhões de vidas são poupadas todos os anos em função da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e da vacina tríplice bacteriana (tétano, difteria e coqueluche) (3).
Para idosos, são dez as vacinas recomendadas. Seis delas são indicações de rotina: gripe, pneumocócicas 13 e 23, tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (difteria, tétano e coqueluche), hepatite B e herpes zoster. Já a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e as que previnem a febre amarela, hepatite A e as doenças meningocócicas causadas pelos tipos ACWY são recomendadas em situações especiais, após avaliação médica.
Conheça um pouco mais sobre cada uma:
Rotina
Gripe
- Indicações: proteção da gripe, que costuma ser mais grave e causar mais complicações em idosos
- Esquema: uma dose, anual
- Reações adversas: dor, vermelhidão e endurecimento na região da aplicação (15 a 20% dos vacinados). Febre, mal-estar e dor muscular acontecem em 1% a 2% dos vacinados seis horas após a aplicação e persistem por 1 a 2 dias
- Contraindicações: pessoas com alergia grave (anafilaxia) a algum componente da vacina ou a dose anterior.
Pneumocócicas (conjugada VPC13 e polissacarídica - VPP23)
- Indicações: proteção das doenças causadas pela bactéria pneumococo, em especial as pneumonias, meningites e infecções generalizadas. Essa bactéria é mais comum nos extremos da vida: crianças e idosos
- Esquema: aplicar a VPC13 e, de seis a 12 meses depois, aplicar a VPP23. A VPP23 deverá ser repetida 5 anos depois.
Para os que iniciaram o esquema com a VPP23, indica-se o intervalo de um ano para a aplicação de VPC13 e de cinco anos para a aplicação da segunda dose de VPP23. O intervalo recomendado entre a dose de VPC13 e a segunda de VPP23 é de seis a 12 meses).
Quem tomou VPP23 nas duas primeiras doses deve receber uma dose de VPC13, com intervalo mínimo de um ano após a última dose de VPP23. Se a segunda dose de VPP23 foi aplicada antes dos 65 anos, está recomendada uma terceira dose, com intervalo mínimo de cinco anos após a última dose.
- Reações adversas: dor no local da aplicação (60,0% dos vacinados), inchaço ou endurecimento (20,3%), vermelhidão (16,4%), dor de cabeça (17,6%), cansaço (13,2%) e dor muscular (11,9%). Reações locais mais intensas, com inchaço de todo braço, chegando até o cotovelo, hematoma e manchas vermelhas podem ocorrer em menos de 10% dos vacinados
- Contraindicações: pessoas com alergia grave (anafilaxia) a algum componente da vacina ou a dose anterior.
Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa)
- Indicações: proteção da difteria, tétano e coqueluche
- Esquema: com calendário de vacinação básico completo, reforços a cada dez anos. Com calendário incompleto, uma dose de dTpa seguida de duas doses da vacina dupla bacteriana do tipo adulto (intervalos de dois, e de quatro a oito meses depois da dose de dTpa). Se a dupla bacteriana do tipo adulto não estiver disponível, as três doses podem ser feitas com a dTpa
- Reações adversas: dor de cabeça, reações no local da aplicação (dor, vermelhidão e inchaço), cansaço e mal-estar ocorrem em mais de 10% das crianças com mais de 10 anos, adolescentes e adultos vacinados
- Contraindicações: pessoas que apresentaram anafilaxia ou sintomas neurológicos causados por algum componente da vacina após a administração de dose anterior.
Hepatite B
- Indicações: proteção da hepatite B, doença transmitida principalmente por sangue e contato sexual. É cada vez mais frequente em idosos
- Esquema: três doses. a segunda dose deve ser aplicada um mês após a primeira, e a terceira dose seis meses após a primeira
- Reações adversas: irritabilidade, dor de cabeça, cansaço, dor e vermelhidão no local da aplicação (10% dos vacinados). Perda de apetite, sonolência, diarreia, náusea, vômito, inchaço, mal-estar, febre baixa e endurecimento no local da aplicação (1% a 10%). Rinite, vertigem, erupções na pele, dor muscular e rigidez muscular (0,1% a 1%). Diminuição da sensibilidade, dormências, coceira, calafrio (0,01% a 0,1%)
- Contraindicações: pessoas que tiveram reação anafilática a algum componente da vacina ou a dose anterior.
Herpes zoster
- Indicações: proteção do herpes zoster, mais conhecido como "cobreiro". A doença é uma manifestação tardia de quem teve varicela (catapora) em algum momento da vida
- Esquema: uma dose
- Reações adversas: coceira, vermelhidão, inchaço e dor no local da injeção (34% dos vacinados). Febre (1%), sintomas respiratórios (1,7%), cansaço (1%), diarreia (1,5%) e alterações na pele (1,1%)
- Contraindicações: pessoas imunodeprimidas, gestantes, pessoas com tuberculose ativa não tratada e indivíduos com alergia grave (anafilaxia) a algum dos componentes da vacina.
Situações específicas
Febre amarela
- Indicações: proteção da febre amarela para pessoas que moram ou pretendem viajar para áreas onde a enfermidade é endêmica. Em maiores de 60 anos, somente é recomendada caso o risco de infecção pela doença seja superior ao dos eventos adversos
- Esquema: uma dose e um reforço depois de 10 anos, caso o risco de contrair a doença persista
- Reações adversas: dor no local da aplicação (4% dos adultos vacinados). Febre, dor de cabeça e dor muscular (4% nos vacinados pela primeira vez e 2% nos que recebem a segunda dose). Apesar de muito raros, podem ocorrer eventos graves como encefalites, meningites e infecção que causa danos semelhantes aos da própria febre amarela
- Contraindicações: pessoas com imunodepressão grave por doença ou uso de medicação, pacientes submetidos a transplantes de órgãos ou que tenham câncer, pessoas com história de doenças do timo ou que tenham apresentado doença neurológica desmielinizante no período de seis semanas após a aplicação de dose anterior da vacina, crianças abaixo de seis meses, mulheres que amamentem crianças de até seis meses, e pessoas com histórico de alergia grave (anafilaxia) aos componentes da fórmula e ao ovo de galinha. Em princípio, há contraindicação para gestantes, mas a administração deve ser analisada de acordo com o grau de risco, por exemplo, na vigência de surtos.
Hepatite A
- Indicações: proteção da hepatite A, que se transmite por água ou alimento contaminado e contato próximo com alguém com a doença. Indicada para contactantes de pessoas com hepatites A, em casos de surto ou após avaliação sorológica
- Esquema: duas doses, com intervalo de seis meses
- Reações adversas: perda de apetite, sonolência, diarreia, náusea, vômito, inchaço, mal-estar, febre baixa e endurecimento no local da aplicação (1% a 10% dos vacinados), sintomas respiratórios, rinite, vertigem, erupções na pele, dor muscular e rigidez muscular (0,1% e 1%). Sensibilidade, dormências, coceira e calafrios (0,01% a 0,1%)
- Contraindicações: pessoas que tiveram reação alérgica grave (anafilaxia) a algum componente da vacina ou a dose anterior.
Meningites ACWY
- Indicações: proteção de doenças causadas pela bactéria meningococo ACWY, que causa meningites e doença generalizada. Indicada em surtos e viagens a áreas de risco
- Esquema: dose única. Em caso de falta da ACWY, optar pela vacina contra a meningite C
- Reações adversas: inchaço, endurecimento, dor e vermelhidão no local da aplicação, perda de apetite, irritabilidade, sonolência, dor de cabeça, febre, calafrios, cansaço e dor muscular (10% dos vacinados). Sintomas gastrintestinais (incluindo diarreia, vômito e náusea), hematoma grande no local da aplicação, erupções na pele e dor nas articulações (entre 1% a 10%). Insônia, sensibilidade diminuída da pele no local da aplicação, vertigem, coceira, dor muscular, dor nas mãos e pés, e mal-estar (0,1% a 1%)
- Contraindicações: pessoas que tiveram reação alérgica grave a algum componente da vacina.
Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
- Indicações: proteção dessas três doenças, que são bastante contagiosas e transmitidas por vias respiratórias. Indicada em surtos, viagens a áreas de risco e outras situações de risco aumentado
- Esquema: duas doses, com intervalo mínimo de um mês
- Efeitos adversos: ardência, vermelhidão e outras manifestações locais (menos de 0,1% dos vacinados).Febre alta - maior do que 39,5°C - que surge de cinco a 12 dias após a vacinação, com um a cinco dias de duração (5% a 15% dos vacinados). Dor de cabeça, irritabilidade, febre baixa, lacrimejamento e vermelhidão dos olhos, e coriza cinco a 12 dias após a vacinação (0,5% a 4%). Manchas vermelhas no corpo iniciadas entre o sétimo e o 14º dia após a vacinação, com permanência em torno de dois dias (5% dos vacinados). Gânglios inchados aparecem em menos de 1% dos vacinados a partir de sete a 21 dias de vacinado. Todos os sintomas gerais são mais frequentes após a primeira dose da vacina.
Dor articular ou artrites transitórias benignas iniciadas de um a 21 dias depois da aplicação (25% das mulheres vacinadas após a puberdade). Inflamação das glândulas parótidas iniciada de dez a 21 dias após a vacinação (0,7% a 2% dos vacinados). Encefalite iniciada entre o 15º e o 30º dia após a primeira dose da vacinação (um a cada 1 milhão-2,5 milhões). Meningite, em geral benigna, também pode ocorrer entre o 11º e o 32º dia.
Contraindicações: gestantes, pessoas com comprometimento da imunidade por doença ou medicação, história de anafilaxia após aplicação de dose anterior da vacina ou a algum componente da fórmula. Alérgicos graves ao ovo, por precaução, devem ser vacinados em ambiente hospitalar.
Onde tomar?
Vacina | Postos de saúde | Clínicas de vacinação |
Gripe | Sim* | Sim* |
Pneumocócica conjugada 13 | Não | Sim |
Pneumocócica polissacarídica 23 | Nos Centros de Referência para Imunológicos Especiais (CRIES) para algumas comorbidades | Sim |
Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa) e/ou dupla do tipo adulto (dT) | Sim, dT | Sim, dTpa** |
Hepatite B | Sim | Não |
Herpes Zoster | Não | Sim |
Febre amarela | Sim | Sim |
Hepatite A | Nos Centros de Referência para Imunológicos Especiais (CRIES) para algumas comorbidades | Sim |
Meningite ACWY | Não | Sim |
Tríplice viral | Não | Sim |
* Os postos de saúde possuem e vacina influenza trivalente (3V). A rede privada dispões da 3V e da tetravalente.
** A rede privada também tem a dTpa-VIP, que agrega o vírus inativado da poliomielite à fórmula.
Fontes:
Isabella Ballalai - presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Família SBIm - www.familia.sbim.org.br
Calendário de Vacinação SBIm - Idoso
Referências:
1 - http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2014/lancet-ageing-series/en/
2 - https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/08/29/populacao-idosa-vai-triplicar-entre-2010-e-2050-aponta-publicacao-do-ibge.htm
3 - http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs378/en/