Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco e com especialização em Ginecologia pelo Depar...
iÉ um fato real que a maioria das mulheres tem tabus em falar com seus médicos ginecologistas sobre a sua vida sexual. É nossa missão, na rotina de atendimento, abordar com escuta atenta, com delicadeza, naturalidade, desmistificação e cumplicidade, as modificações que estão ocorrendo, valorizando as conquistas alcançadas pela mulher moderna em função das mudanças que ocorreram na sociedade.
Sabemos que o envelhecimento populacional é uma realidade, assim como a expectativa de vida das mulheres ultrapassa em cerca de 10% a dos homens. Mais de 1/3 deste tempo, vivenciado após a menopausa, requer readaptação, com qualidade, à nova realidade.
É também de nossa ciência que entre as mulheres, o auge da atividade sexual com maior qualidade se situa entre os 35-45 anos. Até os 50, 50 e poucos anos, há naturalmente uma menor frequência nas relações sexuais, seja por problemas no relacionamento do casal, dificuldades profissionais e financeiras, doenças crônicas, modificações corporais tanto do homem quanto da mulher, seja por ressecamento ou atrofia da mucosa vaginal que leva a dor/desconforto ao coito com consequente dificuldade para o orgasmo. Estes distúrbios locais são causados pelo esgotamento progressivo da função ovariana e consequente redução na concentração de estrogênio, progesterona e testosterona.
Como verdadeiro "clínico da mulher", o ginecologista tem que se envolver com o tema para orientar e mostrar as perspectivas positivas para a mulher desfrutar de sua sexualidade com qualidade nesses 30/40 anos que ela viverá após a menopausa, prevenindo a chamada Disfunção Sexual Feminina (DSF). Esta disfunção afeta negativamente o tanto o número das relações quanto a qualidade da satisfação sexual. Fato que perdurou até recentemente e ainda acontece para inúmeras mulheres é o mito da associação entre função reprodutora e função sexual, produto de desinformação e preconceito.
Sexo não é coisa apenas para "gente jovem"... Estudiosos da sexualidade humana (Masters e Johnson, Kaplan e outros tantos demonstraram que velhice assexuada é um mito! O que ocorre é apenas um ajuste da nossa biologia nas diferentes idades com a qualidade da resposta sexual. A mulher climatérica não tem prazer sexual diminuído, apenas resposta sexual mais lenta. O orgasmo é para a vida toda, quando envolve afeto e emoção!
Em nosso meio, a idade média para a cessação das menstruações é de 51 anos e meio, embora muitos sintomas gerais do climatério (fase de transição entre o período reprodutivo para o não reprodutivo e alterações e irregularidades do fluxo já comecem em torno dos 46-48 anos; é a chamada perimenopausa. O que configura a menopausa propriamente dita é a cessação da menstruação após 12 meses.
Culturalmente, até o início do século XX, esta parada menstrual tinha para a maioria das mulheres, um simbolismo associado ao fim de vida, já que a expectativa naquela época mal alcançava os 50 anos. Nos dias atuais, a mulher contemporânea e esclarecida pode e deve continuar atraente, aberta e liberta para vivenciar com plenitude o amor e o sexo, desde que esteja bem consigo mesma.
Segundo Kahhale(PUC-USP), deve-se "reconhecer que não há limite e idade para se viver a sexualidade". O impacto na sexualidade está mais relacionado aos aspectos simbólicos psico-socioculturais do meio em que a mulher vive (beleza física, direito ao prazer, preconceitos...) do que associado a função biológica.
Sexo é saúde e tanto homens quanto mulheres podem se manter ativos sexualmente mesmo com uma idade mais avançada, desde que se faça com afeto, alegria, transformação e criatividade. Abrir para o "novo", com usufruto da própria sexualidade e maior intimidade com o parceiro.
Qualidade ao invés de quantidade. O envelhecimento do corpo não pode fazer caducar nossas alegrias e emoções. Nesta fase da vida, a mulher não tem mais medo de engravidar, conhece bem seu corpo e seus desejos, fatores que propiciam o sexo mais prazeroso que relaxa e ativa a imunidade, deixando a mulher mais saudável e com autoestima positiva.
O exercício da sexualidade influencia positivamente para que tenhamos uma vida mais longa e saudável! Não se deve negligenciar outros aspectos muito importantes para esta fase, através da melhoria da qualidade de vida, evitando o sedentarismo, tabagismo, sobrepeso, controlando as eventuais doenças crônicas (diabete, hipertensão), dislipidemias, através dos cuidados médicos, das atividades físicas, dieta balanceada, terapia de reposição hormonal e sempre sob controle de profissionais habilitados.
É através desta verdadeira metamorfose que homens e mulheres na terceira idade poderão vivenciar com plenitude novas possibilidades de amar e ser feliz!