Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Não é fraqueza ou alteração de humor: depressão é uma doença mesmo1. Em todo o mundo, ela atinge mais de 350 milhões de pessoas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)3 - em 2015, eram 322 milhões de pacientes com depressão globalmente4.
A explicação do que é depressão pode parecer complicada, mas com paciência é possível entender o caminho da doença. O que ocorre é um processo de desequilíbrio químico dos neurotransmissores5, que são as substâncias responsáveis por levar informações pela rede de neurônios do cérebro5.
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Entre essas informações, estão as sensações de prazer, serenidade, disposição e bem-estar6. Esse desequilíbrio químico pode causar respostas em diversas funções do organismo, e suas consequências são ansiedade, angústia, desesperança, falta de motivação, entre outros5. Se não for tratada, a depressão pode levar a um grande sofrimento e causar problemas no trabalho, nos estudos e no ambiente familiar7. Embora existam tratamentos eficazes e conhecidos para a doença, dados mostram que há uma defasagem mundial no tratamento. Em países pobres, entre 76% e 85% de pessoas que sofrem com depressão não recebem tratamento. Nos desenvolvidos, esse número fica em torno de 35% e 50%, ainda longe do ideal8.
Isso ocorre, entre outros motivos, por causa do estigma social associado aos transtornos mentais, em outras palavras: devido ao preconceito mesmo que muitas pessoas têm com esse tipo de doença9. É importante quebrar esse ciclo de preconceito e conversar abertamente sobre a depressão. Este é o primeiro passo para entender o assunto e possibilitar que cada vez mais pessoas procurem ajuda médica10.
Confira, a seguir, 7 razões para falar mais sobre depressão.
Saiba mais: Depressão: 27 sintomas, causas, tratamento e tem cura?
Será a doença mais comum do mundo em 2030
Parece que falta muito tempo, mas 2030 já está mais próximo de nós do que o ano 2000. De acordo com a OMS, em 2020 (daqui a três anos!), a depressão será a segunda doença mais comum do mundo, e em 2030 terá alcançado o topo do ranking3. A estimativa é que ela represente 6,2% dos diagnósticos gerais de doenças em todos os continentes3. Não dá para ficar calado diante disso. É importante também saber quem pode tratar a depressão. O psiquiatra é o profissional indicado para acompanhar pacientes com a doença.
Não é apenas tristeza
É importante diferenciar a tristeza e a depressão. Em situações difíceis que todos enfrentam em algum momento da vida, como a morte de uma pessoa querida, doenças11, humilhação pessoal, decepção, perda de status social ou financeiro, algum tipo de sentimento negativo é esperado, mas isso é temporário.
Já quando se trata de um episódio de depressão, nos casos leves a pessoa tem dificuldade para continuar um trabalho simples e atividades sociais, enquanto nos casos mais graves é improvável que ela possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou domésticas12.
É preciso, então, haver solidariedade e apoio familiar13 e no ambiente de trabalho14, além de ajuda psicológica e o tratamento médico adequado15.
Depressão pode levar ao suicídio
Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano - é a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos16. A maioria das pessoas que cometem suicídio tem doenças mentais, em especial a depressão, o que torna mais fácil compreender o grau de dor que os pacientes sentem: muitos preferem a morte a lidar com esse sofrimento. A necessidade de diagnosticá-la, tratá-la e desmistificá-la é indiscutível17.
Sinais no dia a dia e como identificá-los
Para tratar precocemente a depressão, é importante detectar seus sinais cotidianos para conseguir um diagnóstico quando a doença está bem no início18. Ao notar seus sinais e considerar que o seu dia a dia está sendo prejudicado, é preciso procurar um médico psiquiatra, que é o profissional que poderá ajudar19.
Os sinais típicos da depressão são:
- Distúrbios do sono - a pessoa com depressão geralmente tem problemas para controlar sua capacidade de dormir. Ou o paciente dorme demais, buscando no sono uma fuga da realidade, ou não consegue dormir, por não se desligar dos problemas que o levaram à depressão20
- Sofrimento antecipado - passar por momentos de ansiedade e estresse paralisantes com frequência é um gatilho do quadro de depressão5
- Perda do apetite - por deixar de sentir prazer, a pessoa com depressão não tem mais interesse pelo sabor dos alimentos20
- Variações de humor - na maior parte dos casos, o paciente permanece em um estado de tristeza constante21, mas no caso da depressão bipolar há oscilações entre tristeza e euforia, que podem ser agravados inclusive pela falta de sono22
- O diagnóstico de depressão ganha força quando as variações de humor são persistentes21
- Solidão - a solidão está intimamente ligada à saúde mental. Estudos mostram que quem se isola tem mais risco de depressão23, e a solidão, junto com outros sintomas da depressão, podem colaborar para diminuir o bem-estar em adultos de meia idade e idosos24.
Maior risco de morte em pacientes com câncer ou doença cardíaca
Embora não haja evidências de que a depressão cause algum tipo de câncer, o caminho contrário é nítido: há relação entre a queda da sobrevida do paciente com câncer e a presença de depressão. Pacientes oncológicos com depressão aderem menos aos tratamentos, piorando seu estado de saúde e comprometendo a qualidade de vida25.
Já nos pacientes cardíacos, a relação é ainda mais prejudicial: a mortalidade de quem tem problemas no coração aumenta quando há o desenvolvimento da depressão e, por outro lado, a depressão causa um maior risco de eventos cardíacos em indivíduos que eram saudáveis26.
Existe mais de um tipo de depressão
Depressão não é sempre igual para todo mundo: um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, dependendo da intensidade dos sintomas21.
No leve, o indivíduo terá alguma dificuldade para continuar um trabalho simples e atividades sociais, mas provavelmente sem grande prejuízo no dia a dia. Já quando o quadro é grave, é improvável que ele possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou domésticas, ou seja, ele não consegue funcionar direito na sua rotina12.
Depressão não escolhe idade e atinge de 3% a 8% dos adolescentes no mundo27, sendo que até o final da adolescência cerca de 20% terão tido algum episódio depressivo27.
Os sintomas da depressão nos adolescentes são os mesmos dos adultos, mas ao invés de sentir tristeza, eles ficam mais irritados e essa se torna a principal manifestação da doença28.
A resistência para fazer as tarefas rotineiras, sono em excesso29 e dificuldade de concentração30 também devem ser levados em consideração, e não tratados apenas como "rebeldia", como acontece em muitas casas. No entanto, vale ressaltar que a privação de sono também pode estar ligada com a depressão31. Em caso de dúvida, um psiquiatra especializado no público adolescente deve ser consultado.
Bom, já deu para perceber que é preciso entender que depressão não é frescura. É uma doença séria que tem tratamento32.
Lembre-se: sempre procure a ajuda de um médico psiquiatra quando sentir necessidade de conversar sobre seus problemas e sentimentos.
Referências:
1 - CID F32-F33.
2 - Pim Cuijpers, PhD, Aartjan T. F. Beekman, MD, PhD, and Charles F. Reynolds, MD. Preventing Depression. A Global Priority. JAMA. 2012 Mar 14; 307(10): 1033-1034. Conteúdo disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3397158/
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