Joji Ueno é ginecologista-obstetra. Dirige a Clínica Gera e o Instituto de Ensino e Pesquisa em Medicina Reprodutiva de...
iÉ consenso no meio médico que a prática de exercícios físicos e uma dieta equilibrada são fundamentais à manutenção do peso e, como decorrência, de condições mais saudáveis de vida. Mas os excessos são condenáveis: no homem, pode causar problemas relacionados à diminuição da produção de espermatozóides e, na mulher, pode afetar seriamente a ovulação. Uma carga normal de exercícios não afeta a fertilidade dos casais. Já para os que se excedem, a endorfina liberada nesses casos inibe a hipófise, que controla as glândulas de secreção endócrina do organismo, comprometendo a ovulação e a espermatogênese.
Segundo o médico, não é fácil precisar os limites da atividade física para cada pessoa, por isto não se pode criar uma regra geral a respeito do assunto. O limite individual só pode ser estabelecido em academias e clínicas de fisiatria, onde é avaliada a relação entre gordura e massa muscular para determinar aspectos como freqüência e carga do exercício. Entretanto, há estudos demonstrando que correr mais de 20 km por semana já pode ser considerado demais para quem está tentando conceber. A prática intensa de exercícios,
por mais de duas horas diárias, sobretudo de esportes com grande esforço físico e concentração, como ginástica olímpica e balé clássico, também acabam se tornando impeditivos da concepção.
O principal problema do excesso de exercícios é que ele ocasiona a magreza excessiva ou a perda anormal de peso que podem levar a um decréscimo significativo nas taxas dos hormônios sexuais, decisivos para o desenvolvimento dos óvulos e dos espermatozóides. Hoje, o mecanismo do overtraining, síndrome do esgotamento muscular, que só atingia atletas profissionais também é diagnosticado nas academias, atingindo alunos viciados em malhação e corredores amadores. Ao invés de se tornar um meio de alívio das tensões, a prática exagerada de exercícios só aumenta o estresse, fator que também dificulta a concepção.
Hormônios femininos
Para o estabelecimento de uma gestação, é fundamental que as funções de diversos hormônios estejam equilibradas no organismo feminino. Para que a mulher ovule e consiga engravidar, deve haver uma correta interação entre hormônios produzidos pela hipófise, sob estímulo do hipotálamo e que atuarão sobre os ovários. Os ovários, por sua vez, produzirão principalmente dois hormônios: estradiol e progesterona (que é o hormônio da gravidez, produzido quando a mulher ovula).
Os principais hormônios da hipófise que participarão do estímulo ovariano são o FSH (hormônio folículo-estimulante) e o LH (hormônio luteinizante), que são inibidos com o excesso da prática de exercícios. A hipófise também produz outros hormônios importantes, como o TSH (que estimula a tireóide), a prolactina (importante para a amamentação) e o GH (que é o hormônio do crescimento). Quando existem disfunções na produção destes hormônios, este desequilíbrio pode levar a um quadro de falta de ovulação, com conseqüente infertilidade.