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Com o surto atual de febre amarela, muitas dúvidas e muito medo têm surgido nas pessoas, principalmente com relação a necessidade de vacinação e na proteção contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor não só deste vírus, como também da dengue, zika e chikungunya.
No entanto, a boa notícia é que diferente dos surtos dessas outras doenças, a febre amarela já é bem conhecida, e funciona de um jeito um pouco mais peculiar:
Ciclo silvestre x ciclo urbano da febre amarela
A febre amarela é uma doença que está presente em macacos do Brasil e hoje circula em um ciclo chamado silvestre. Nesse caso, os mosquitos Haemagogus e Sabethes, que vivem em regiões mais rurais e de matas, normalmente morando em copas de árvores, picam os macacos e passam a carregar o vírus em seus corpos. Quando picam humanos, existe o risco desse vírus ser passado novamente.
"O mais comum é que pessoas sem vacina e que costumam adentrar a região de matas, onde vivem estes mosquitos, é que acabem se contaminando dentro do ciclo silvestre" explica o infectologista Renato Kfouri, do Centro de Imunização do Hospital e Maternidade Santa Joana.
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Já o ciclo urbano ocorre quando o Aedes aegypti, mosquito comum nas cidades, pica um humano que pegou a febre amarela no ciclo silvestre. Normalmente, isso ocorre quando este mosquito pica uma pessoa que pegou a febre amarela nas matas. Então ele passa a carregar o vírus e pode espalhá-lo para mais pessoas.
Até a última atualização desta matéria, isso ainda não aconteceu. "Desde a década de 1940, não há registros da transmissão da febre amarela no ciclo urbano no Brasil", esclarece o pesquisador Ricardo Lourenço, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), especialista em parasitas e vetores.
Vale lembrar que em ambos os casos é o mesmo vírus que está sendo transmitido, e os sintomas e riscos também são os mesmos.
Mosquito menos adaptado, vírus em menor quantidade
Por que o Aedes ainda não está transmitindo a febre amarela? Uma das principais razões é que o vírus da febre amarela é muito mais adaptado aos mosquitos das matas do que ao Aedes. "Isso torna a reintrodução da febre amarela urbana mais difícil", comemora Kfouri.
No entanto, o pesquisador Lourenço ressalta que o Aedes ainda representa um perigo. "A competência vetorial dos mosquitos Aedes foi verificada em estudos no Rio de Janeiro, Manaus e, em menor grau, em Goiânia", aponta o especialista.
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Além disso, existe uma outra particularidade da febre amarela que a torna mais controlável: o tempo que o vírus fica circulando pelo organismo é bem mais curto: ele circula por apenas quatro dias no organismo, enquanto o vírus da dengue e do zika ficam por até sete dias nas pessoas.
Isso aliado à carga baixa de vírus no corpo torna difícil o Aedes aegypti se infectar. "Precisaria ter uma quantidade grande de vírus pra que ele seja alimentado para poder transmitir a febre amarela na área urbana", explica a epidemiologista Helena Brígido, especialista em arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Mas não menospreze a vacina
Não é porque o risco de transmissão urbana da febre amarela é baixo que ele não exista. "A vacina contra a febre amarela é a principal estratégia para proteger as pessoas que moram nas proximidades das matas e de áreas silvestres e que estão vulneráveis ao vírus", sublinha o pesquisador Lourenço.
Além disso, ela cria uma barreira de contenção ao vírus. "A dispersão do vírus pode ser efetuada de duas maneiras: 1- pessoas ou macacos infectados, ao se deslocarem para áreas ainda não acometidas, podem servir de fonte de infecção para mosquitos; 2- ou pode ocorrer o deslocamento de mosquitos infectados", explica o especialista.
A vacina impede tanto que pessoas nas áreas de risco de febre amarela silvestre se infectem, quanto inibe também que o vírus presente nessas regiões seja passado de humanos para o Aedes aegypti.
Portanto, pessoas longe de regiões hoje consideradas de risco não precisam correr para se vacinarem: "é preciso priorizar pessoas de maior risco: quem vive, trabalha ou se desloca para locais de mais risco", complementa o infectologista Kfouri.
Continue se protegendo do Aedes
Por mais que a vacina esteja controlando a exposição do Aedes ao vírus da febre amarela, não esqueça que ele continua transmitindo outros vírus, como a dengue, zika e chikungunya, e os dois últimos ainda não tem vacina. "A proteção deve ser feita com repelentes, inseticidas e telas nas janelas e portas das casas", explica a epidemiologista Helena.
A citronela também pode ser uma boa opção. "Um dos mecanismos de defesa das plantas é a liberação de substâncias que afastam os insetos, portanto, seus óleos essenciais podem ser tradicionalmente usados como repelentes de mosquitos", explica a dermatologista Andrea Mychelayne, coordenadora da Pós-Graduação em Cirurgia Dermatológica do Hospital da Gamboa (RJ).
Principalmente no caso dos repelentes, prefira os industrializados já conhecidos. "Não há estudos que atestem a eficiência das formulas caseiras, as misturas de cravo-da-Índia, álcool e óleo de amêndoas", reforça Kfouri.
Estratégias de contenção do mosquito também são fundamentais. "O ideal é fazer uma vistoria semanal no ambiente doméstico com especial atenção aos espaços menos convencionais que podem se tornar criadouros, como o fosso do elevador, lajes com terreno irregular, bandeja de ar condicionado, obras e lixo a céu aberto de modo em geral", enumera o pesquisador Ricardo Lourenço. Vale lembrar, ainda, dos criadouros mais conhecidos como caixas d'água, galões e tonéis, pneus, vasos de plantas, calhas entupidas e garrafas.