Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Por apresentarem sintomas como queimação3, azia3, cólicas4 e gases4, as doenças gastrointestinais muitas vezes são interpretadas como "um mal-estar passageiro". O fato de elas serem razoavelmente comuns5 também contribui para essa tranquilidade excessiva em relação aos cuidados que deveriam ser tomados para evitar que elas se manifestem e que seus sinais se agravem.
Quando falamos de doenças gastrointestinais estamos falando desde condições mais corriqueiras, como prisão de ventre, indigestão, refluxo gastroesofágico, síndrome do intestino irritável e gastrite, até as mais raras, a exemplo da doença de Crohn.
O clínico geral é o médico que pode fazer o diagnóstico inicial de uma doença gastrointestinal. Quem preferir ir direto a um especialista da área, por perceber que os sintomas são evidentemente de algo relacionado ao trato intestinal, deve procurar um gastroenterologista. Em qualquer um dos casos será necessário avaliar o quadro geral do paciente, entender seu histórico, fazer exames físicos e pedir e analisar testes clínicos6.
As doenças gastrointestinais pedem cuidado7 e acompanhamento constantes, e dar uma forcinha para uma qualidade de vida quando se convive com elas é fundamental: para isso, é preciso evitar determinadas atitudes rotineiras que atrapalham sua melhora ou agravam seus sintomas. Mas não se preocupe, nenhuma delas é muito difícil de colocar em prática.
Confira, a seguir, os hábitos que devem ser evitados:
Ficar muito tempo com o estômago vazio
Na ligação entre o esôfago e o estômago fica o esfíncter esofágico inferior, que permite a passagem da comida e se mantém fechado quando não estamos fazendo uma refeição. Em resumo, funciona assim: ele se abre para o alimento passar do esôfago para o estômago e logo em seguida se fecha, tanto para reter o que foi ingerido quanto para impedir que os sucos ou ácidos gástricos que atuam na digestão "subam" para o esôfago, pois essa subida causa azia8.
Ocorre que os sucos gástricos são produzidos normalmente pelo estômago, mesmo quando não nos alimentamos. Se ficamos com o estômago vazio, ele se acumula e pode refluir, causando irritação no final do esôfago e azia. Alimentar-se com regularidade mantém o sistema digestivo em funcionamento, sem sobrecarga da produção do suco ou ácido gástrico9.
Usar roupas muito apertadas na cintura
Por causa da ação dos ácidos gástricos, o estômago dilata-se após as refeições. A pressão de calças, saias e outras peças de roupas com elásticos apertados demais na cintura, assim como cintos fechados em uma ou mais posições além do necessário, aperta o estômago e pode acabar obrigando a comida a voltar para o esôfago junto com os ácidos gástricos, o que causa azia e refluxo2.
Comer demais em uma única refeição
Às vezes, a comida é realmente muito gostosa, mas montar - e comer - aquele pratão bem servido é ruim para quem tem doenças gastrointestinais10. Isso porque comer demais torna o processo de digestão mais demorado, causando sensação de mal-estar. O ideal é fazer várias refeições por dia em vez de se esbaldar em uma só10.
Beber pouca água
O simples uso de medicamentos11 como analgésicos, diuréticos, anti-histamínicos, descongestionantes e remédios para pressão alta e depressão é suficiente para deixar a boca seca12. Além disso, doenças como diabetes13, Parkinson14 e HIV15 afetam as glândulas salivares. E o que isso tem a ver com os problemas gastrointestinais? Tudo!
A saliva inicia o processo de digestão, pois é por ela que são liberadas as primeiras enzimas que ajudam na quebra dos alimentos. Se a boca não estiver "irrigada" o suficiente, o processo digestivo é prejudicado. Para evitar esse problema, a solução é simples: lembre-se de beber água sempre que houver a sensação de boca seca16.
Tomar um belo copo de leite para "tratar" a queimação do estômago
O leite pode ter o efeito contrário e prejudicar ainda mais quem tem síndrome do intestino irritável (os sintomas costumam aparecer depois do consumo de leite e de alimentos como chocolate17 e bebidas gaseificadas17) ou refluxo gastroesofágico (o leite contribui para o quadro de azia18, assim como bebidas gasosas19, chocolates19 e tomate10, por exemplo). O melhor para tratar qualquer queimação do estômago é tomar um remédio receitado pelo médico7 após exames.
Deitar para dormir logo depois da refeição
Dormir profundamente após o almoço ou o jantar não é nem um pouco recomendado, pois atrapalha a digestão e favorece o refluxo20. O ideal é esperar de duas a três horas para ir dormir21.
Estressar-se
O estresse pode causar muitos problemas, não é mesmo? E com o trato intestinal não é diferente: ele pode causar prisão de ventre22, diarreia22, dispepsia (indigestão)22 e gastrite23, além de agravar sintomas de refluxo gastroesofágico24, por exemplo.
Tudo isso ocorre porque, por efeito direto do estresse ou intermediado por hormônios liberados por ele, há aumento na secreção de ácido gástrico e mudanças na regulação de fatores protetores da mucosa do estômago25.
Por mais difícil que seja, o melhor mesmo é tentar eliminar as fontes de estresse do dia a dia. Praticar atividades físicas26, cuidar da postura27 e controlar a respiração28 são atitudes que ajudam a controlar e evitar o problema. Além disso, tente rir mais da vida29 e deixe o celular de molho30 por alguns momentos do seu dia, quando seu uso não for tão necessário. Vamos colocar tudo isso em prática para diminuir o estresse?
Referências:
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