A clínica Saúde Porã conta com ampla equipe de fonoaudiólogas especialistas nas diferentes áreas de atuação: audição e s...
iUm indivíduo comum, que apresenta perfeitas condições auditivas, sem nenhuma e qualquer alteração do Sistema Auditivo Central, consegue realizar normalmente as habilidades de atenção seletiva, discriminação, localização, reconhecimento do som, compreensão, integração e memória auditiva.
Essas habilidades caracterizam o Processamento Auditivo Central (PAC) que de forma mais simplificada, é a capacidade que cada um tem de analisar, associar e interpretar as informações sonoras recebidas, ou seja, tudo aquilo que fazemos com o sentido da audição.
Quais são as habilidades auditivas centrais?
As habilidades auditivas centrais são divididas das seguintes formas:
(1) Localização sonora: habilidade de localizar auditivamente a fonte sonora, por exemplo ao ouvirmos barulho na rua sabemos da onde os carros estão vindo;
(2) Síntese binaural: habilidade para integrar estímulos incompletos apresentados simultaneamente ou alternados para orelhas opostas, como o fato do nosso cérebro conecta as informações recebidas dos dois lados;
(3) Figura-fundo: identificar mensagem primária na presença de sons competitivos, essa habilidade é fundamental quando precisamos prestar atenção numa aula ou palestra e tem um grupo de espectadores fazendo barulho. Ela nos permite ignorar o ruído e focar na mensagem;
(4) Separação binaural: habilidade para escutar com uma orelha e ignorar a orelha oposta, podemos exemplificar aqui com o uso de bluetooth em uma orelha só;
(5) Memória: habilidade de estocar e recuperar estímulos;
(6) Discriminação: habilidade para determinar se dois estímulos sonoros são iguais ou diferentes;
(7) Fechamento: habilidade para perceber o todo quando partes são omitidas - já leram um texto com letras faltando? Foi possível entender perfeitamente certo? Com a audição é igual;
(8) Atenção: habilidade para persistir em escutar sobre um período de tempo;
(9) Associação: habilidade para estabelecer correspondência entre um som não lingüístico e sua fonte, identificar os instrumentos presentes numa música por exemplo.
Algumas pessoas têm problemas nesse sistema, apresentando, portanto, aquilo que é chamado de Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC), também conhecido como Disfunção Auditiva Central ou ainda, Transtorno do Processamento Auditivo.
O que é o Distúrbio do Processamento Auditivo Central?
O DPAC é uma falha (mais comum do que as pessoas imaginam) no desenvolvimento das habilidades perceptivas auditivas, mesmo que tenha uma audição normal. Dessa forma, o paciente até consegue ouvir as informações sonoras, mas não consegue compreendê-las ou armazená-las. O fonoaudiólogo então constata que este quadro está associado a alguns indicadores tais como dificuldades de:
- Aprendizagem
- No processamento de informações auditivas na presença de ruídos externos
- Para seguir ordens verbais
- Não consegue localizar a origem do som
- Problemas de leitura, escrita e linguagem
- De diferenciar e identificar os sons da fala.
De acordo com a ASHA (Associação Americana da Fala, Linguagem e Audição) cerca de 20% da população apresentam DPAC sendo 7% correspondentes às crianças em idade escolar.
Avaliação e tratamento
A avaliação do Processamento Auditivo Central pode ser realizada a partir dos 6 anos de idade devido ao desenvolvimento e maturação cerebral das habilidades auditivas. Se alguma das habilidades auditivas estiverem alteradas encaminhe-se o indivíduo para treinamento auditivo que costuma englobar 10 sessões de terapia em cabine.
O fonoaudiólogo irá treinar as habilidades auditivas envolvidas nos distúrbios do processamento auditivo central, visto que, quanto antes for diagnosticada essa patologia e aplicada o tratamento correto, o resultado pode mudar a vida dos indivíduos com DPAC.
O tratamento é baseado na Neuroplasticidade cerebral. Muitos neurocientistas têm descrito a plasticidade do cérebro como a maior descoberta da medicina moderna. A neuroplasticidade refere-se à capacidade da rede do cérebro, como um todo, para mudança.
Anteriormente acreditava-se que os caminhos e circuitos em nossos cérebros são geneticamente pré-determinados. No entanto, é agora bem conhecido que o cérebro tem a capacidade de modificar, não apenas a partir do nascimento, mas também durante toda a vida adulta.
Quando novas informações - como a linguagem e as observações do ambiente - são continuamente experimentadas, os novos neurônios e os caminhos são formados permitindo memória dessa nova informação. Apesar de mais presentes durante a infância, esse processo é observado durante toda a vida adulta.
Neuroplasticidade também tem sido amplamente reconhecida em pessoas com lesões cerebrais. Em resposta a uma atividade repetitiva, o cérebro é capaz de compensar os danos a uma área, reconhecendo e formação de novas conexões entre os neurônios intactos em uma área não-danificada. Por exemplo, uma paralisia parcial pode ser superada por conta da neuroplasticidade. Há casos em que após uma atividade contínua e repetitiva de um membro imobilizado o indivíduo tem, ao longo do tempo, chance de criar novas conexões e a memória de movimento ajuda na recuperação.
Não é só na infância e em resposta ao dano do cérebro que os efeitos da neuroplasticidade pode ser observada. Extensa pesquisa científica tem demonstrado que os neurônios estão constantemente se conectando e formando caminhos, em resposta à aprendizagem. Por exemplo, demonstrou-se que músicos possuíam regiões do cérebro ligadas à prática de instrumentos musicais mais ativadas que não músicos. Ou por exemplo pessoas que aprendem novos idiomas, onde a prática constante e repetitiva dos elementos subjacentes da fala podem levar à formação de novas ligações neuronais, permitindo assim vias eficientes para utilização da linguagem.
Uma pesquisa realizada pelo Curso de Fonoaudiologia da FM-USP constatou que a melhora obtida no programa de reabilitação do PAC apresenta manutenção do resultado ao longo dos anos acompanhando o desenvolvimento infantil. Isso confirma a neuroplasticidade aplicada no âmbito da audição.
Fontes
Co-auditoria: Natália Brito - Fonoaudióloga e Mestre pela Universidade de São Paulo e audiologista da Clínica Saúde Porã