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Quando tinha 12 anos, o jogador José Ignacio Fernández Iglesias, conhecido como Nacho Fernández, foi diagnosticado com diabetes tipo 1. O baque na época foi o aviso do médico, que ele não poderia mais jogar futebol, conforme informado pelo UOL Esportes.
Inconformado com a notícia, ele foi a outro médico, recebeu a autorização para jogar e hoje, aos 28 anos, não só joga pelo Real Madrid (um dos maiores clubes do mundo) como está representando a Espanha na Copa do Mundo.
Inclusive, toda a disciplina que ele precisa ter para cuidar do diabetes o ajuda a ser um atleta melhor. Você duvida? Conversamos com dois endocrinologistas que nos contaram melhor a relação entre diabetes e esportes:
Quem tem diabetes tipo 1 pode ser atleta?
No diabetes tipo 1 o corpo ataca as células que produzem insulina no pâncreas, hormônio responsável por metabolizar o açúcar. Isso leva à altos índices de glicemia, que precisam ser controlados através da aplicação de injeções de insulina.
Normalmente, ao injetar insulina, você precisa mais ou menos calcular quanto de açúcar você vai ingerir, para calcular a proporção adequada. "E o equilíbrio é como um lençol curto: se colocar demais, dá hipoglicemia, se botar de menos, dá hiperglicemia (ou você cobre os pés ou a cabeça), e os dois são prejudiciais ao exercício", computa o endocrinologista Roberto Zagury, do Laboratório de Performance Humana da Casa de Saúde São José (RJ).
E como os exercícios fazem com que menos insulina seja necessária para metabolizar o açúcar, o cálculo se torna mais complicado.
"No paciente mal controlado, o excesso de glicemia no sangue gera aumento de urina e desidratação, o que pode reduzir o desempenho do jogador, pois diminui a habilidade motora dos músculos e também a capacidade cognitiva, de pensar na estratégia do jogo", explica o endocrinologista.
Por isso que muitos médicos no passado desestimulavam pessoas com diabetes tipo 1 a praticar esporte de maneira profissional.
Cuidado que vale a pena
Mas se levarmos tudo isso em conta, percebemos que esse controle rigoroso da saúde do diabético tipo 1 vem ao encontro da vida regrada do esportistas.
"O tripé do tratamento do diabetes tipo 1 é insulina, dieta e exercícios. E os dois últimos pontos forçam o paciente a ter bons hábitos de vida, que condizem com a vida do atleta de alto rendimento", considera Zagury.
Claro que a condição pede cuidados extras ao esportista. A endocrinologista Denise Franco, diretora da ADJ Diabetes Brasil, ressalta a importância de o esportista com diabetes tipo 1 se conhecer e ter um acompanhamento médico e nutricional adequado e atento. "Ele precisa saber dados como: com qual glicemia ele precisa estar quando vai entrar em campo, em que momento ele precisa comer, entre outros", considera a especialista.
E aqui entra a equipe multidisciplinar, composta por endocrinologista, médico do esporte e nutricionista: eles vão analisar esses dados junto com o esportista, para assim tirar dele o melhor rendimento e conseguir reconhecer crises durante os treinos ou mesmo em jogos.
Esses cuidados podem ajudar a prevenir lesões?
Na matéria do UOL Esportes esses cuidados de Nacho são relacionados até a seu menor índice de lesões. Tanto Zagury quanto Denise acreditam que não há uma ligação direta entre o diabetes tipo 1 e seus cuidados e o risco menor de lesões.
"Às vezes é uma característica da própria pessoa, que se lesionada pouco devido a seu corpo", ressalta Zagury.
Atletas com diabetes tipo 1
Além de Nacho Fernández, existem outros atletas com diabetes tipo 1. São eles:
Gary Hall: Nadador e vencedor de 10 medalhas olímpicas, algumas ganhas antes mesmo do diagnóstico, que ocorreu apenas aos 25 anos.
Matheus Santana: Nadador brasileiro que hoje é uma das promessas do esporte, ganhador de um ouro nos Jogos Pan-Americanos em Toronto (Canadá) em 2015.
Washington Coração Valente: Ex-jogador de futebol do São Paulo e do Fluminense, foi diagnosticado aos 21 anos e jogou até os 35.