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Ao acordar, é comum refletir sobre quais serão nossos afazeres durante o dia. A partir deste momento, elaboramos estratégias para alcançarmos nossos objetivos diários, que podem envolver as tarefas mais simples, como pagar as contas, ou até as mais complexas, como conciliar as obrigações do trabalho com a vida pessoal, ou refletir sobre temas que nos causem desconforto para que possamos encontrar alguma solução.
Então, ao final do dia, realizamos uma espécie de "levantamento", em que mensuramos o sucesso que tivemos em nossas metas diárias. Se conseguimos dar conta de tudo, concluímos que tivemos um bom dia. Porém, o contrário nos traz frustração, e todas as conquistas que obtivemos durante a semana são desvalorizadas.
A sensação de impotência ao não nos sentirmos capazes de cumprir o que estabelecemos para nós mesmos é tão intensa que algumas pessoas podem até mesmo desistir de seus planos. Nós queremos a quantidade e a qualidade ao mesmo tempo, ao ponto de nunca estarmos satisfeitos com o que já temos, nos colocando em uma lógica perversa em que atingir a perfeição é extremamente necessário.
Origem da auto-cobrança excessiva
Segundo a psicóloga e coach Sharon Feder, esta sensação tem origens que ultrapassam a mente individual humana. Trata-se principalmente de um problema sócio-cultural que traz consequências à nossa psique: "Desde pequenos somos educados nas escolas e lares que a meta final da vida é conquistar o sucesso. Isso está ligado à forma com que o ser humano evoluiu e hoje existe esta demanda", explica a especialista.
A atualidade trouxe consigo a alta velocidade e o imediatismo, o que nos causa a sensação de urgência constante. Portanto, é comum acreditar que o sucesso é equivalente a completar todas as tarefas do dia, e isso está longe de ser verdade.
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Entendendo mais sobre o problema
As raízes de uma cultura imediatista estão presentes em nossa mente, e o autoconhecimento pode ser uma forma de eliminá-las. Segundo a psicóloga Adriana de Araújo, a dor ao não realizar algo é tão prejudicial quanto a da perda, da falta de oportunidade ou da injustiça.
A autocrítica torna as sensações negativas ainda mais intensas. É neste momento que as pessoas perfeccionistas podem ser ainda mais afetadas, já que tendem a ultrapassar os próprios limites com o objetivo de sentirem-se úteis. Porém, é necessário refletir se precisamos ser tão funcionais o tempo inteiro.
Estaríamos mentindo ao dizer que não nos sentimos bem ao alcançarmos o pico de nossas capacidades. Ter uma alta performance aumenta a nossa autoconfiança. Porém, devemos estar preparados para mantermos nossa segurança quando isso não acontece.
É necessário aceitar que não temos controle sobre tudo em nossas vidas. Podemos assumir o comando de nossas escolhas, porém a forma como elas irão se reverberar no mundo não está sob nosso domínio. Existem fatores externos que irão influenciar nossos caminhos e não aceitar isso pode tornar nosso cotidiano frustrante.
Pense também em você mesmo, pois toda vez que você diz "sim" para planos que irão te desgastar psicologicamente, você dirá "não" para coisas que poderiam tornar sua vida mais feliz. Inserir-se em metas que exigem mais do que você está disposto a ceder de sua energia pode ser um ciclo que ceifa pouco a pouco sua vitalidade.
Isto não significa que você não deve sair de sua zona de conforto, ou que deve contentar-se com o que já tem. Mas é preciso que haja um equilíbrio de nossos desejos para continuar a respeitar nossas limitações. Sharon Feder aponta que ter válvulas de escape saudáveis para lidar com os dias em que não conseguimos realizar todas nossas tarefas é essencial.
Como escapar do ciclo
Sharon explica que a qualidade deve ser o primeiro critério de qualquer atividade: "Ao darmos nosso melhor em uma determinada tarefa, deveríamos nos sentir bem sucedidos e realizados. Ao mesmo tempo, precisamos considerar que em alguns momentos a quantidade e a velocidade com que executamos também importa, então o objetivo deve ser encontrar um equilíbrio".
Realizar atividades físicas, procurar apoio entre amigos e familiares ou meditar são apenas alguns dos exemplos de atividades em que não se deve deixar levar pelos sentimentos derrotistas. Fazer o que você ama em momentos adversos é cuidar de si, pois dessa forma não alimentamos a sensação de improdutividade.
1 - Registre as conquistas
Registrar os momentos de conquistas, sejam elas grandes ou pequenas, também pode trazer conforto nos momentos em que a auto cobrança atinge níveis excessivos. Você pode anotá-las em um caderno, tirar fotos ou compartilhar com alguém. Para Sharon, fazer isto fixa a memória em nossas mentes. Então, ao falharmos com uma meta, podemos nos relembrar do sucesso que tivemos em inúmeras outras.
2 - Estabeleça critérios objetivos
Adriana de Araújo reitera que quando conquistamos algo, é necessário estabelecer critérios para avaliar a qualidade de nossas realizações. Dessa forma, podemos comparar futuras atividades com as que já foram feitas, compreendendo nosso processo de evolução, e também trabalhando em pontos que precisam ser fortalecidos. Assim, escapamos de um senso crítico que não condiz com a realidade de nossa capacidade.
3 - Fuja das comparações
Não se compare com outras pessoas. Cada um possui o próprio ritmo. Com a era digital, tornou-se cada vez mais comum acompanhar as redes sociais de alguém que escolha mostrar suas conquistas. É necessário ser cauteloso, pois a internet possibilita oferecer ao mundo um autorretrato com apenas aspectos positivos de nossa imagem. Não tente atingir o patamar de perfeição existente no mundo virtual, pois ele pode ser uma ilusão.
4 - Aprenda a esperar
Para Adriana de Araújo, a ansiedade é um outro fator que desempenha um importante papel em nossa sensação de urgência. "A organização de nosso tempo pode solucionar nossos problemas. Porém, é preciso ter a consciência de que não há possibilidades de plantar e colher os frutos ao mesmo tempo", explica a especialista.
Para absorver esta concepção, a psicóloga explica que é necessária a gestão das emoções para que possamos compreendê-las. Através do apoio de pessoas que amamos, da psicoterapia, e de medicamentos caso sejam necessários, podemos diminuir pouco a pouco a necessidade constante de prontidão.
Felicidade vem de dentro
Precisamos entender que a felicidade não depende apenas de fatores externos, como o cumprimento de uma lista de afazeres. Para Sharon, a felicidade vem de dentro e é uma jornada, não um destino final. Por isso, buscar o bem estar em atitudes diárias que envolvem as pessoas e coisas que amamos é essencial.
A cada passo adiante em nossas jornadas deveríamos comemorar. A maneira como você realiza suas ações diz respeito à sua singularidade. Tenha em mente o respeito por sua humanidade, pois ao nos permitirmos errar, abrimos portas para novos aprendizados.