Médico oftalmologista autor e editor de 15 livros sobre catarata, cirurgia refrativa e administração em oftalmologia.&nb...
iSegundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, as quedas são a primeira causa de acidentes em pessoas acima de 60 anos. Cerca de 5% das quedas levam a fraturas. Sendo que as mulheres sofrem mais do mal do que os homens, entretanto, a mortalidade devido às fraturas é maior entre eles.
Em muitos casos, o próprio idoso tende a sub-relatar quedas, muitos creditam à idade seus problemas de equilíbrio e marcha, fazendo com que estas dificuldades de mobilidade não sejam detectadas, até que uma queda com uma conseqüência grave ocorra. O risco de cair, realmente, aumenta significativamente com o avançar da idade, o que coloca esta síndrome geriátrica como um dos grandes problemas de saúde pública, devido ao aumento da expectativa de vida da população no Brasil.
Ocorrência de quedas por faixas etárias a cada ano:
- 32% em pacientes de 65 a 74 anos;
- 35% em pacientes de 75 a 84 anos;
- 51% em pacientes acima de 85 anos;
- No Brasil, 30% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano.
*Fonte: Projeto Diretrizes AMB-CFM
As pessoas caem por diversas razões que englobam doenças agudas como isquemia cerebral, doenças cardíacas que diminuem a pressão arterial, ou ainda por conseqüências naturais do envelhecimento que podem ser tratadas, tais como:
- Perda de visão devido à inadequação das lentes corretivas;
- Vertigens e desequilíbrio por alterações do labirinto;
- Arritmia cardíaca;
- Osteoporose;
- Alteração da visão em profundidade, espessura e altura devido à catarata;
- Perda da audição;
- Anemias;
- Pés com alteração nas unhas, micoses, joanetes, calos;
- Prostatismo, que leva a um esforço para urinar e provoca desmaio;
- Artroses no pescoço que podem causar desequilíbrio;
- Hipotensão postural que é a queda da pressão arterial quando a pessoa muda de posição, de deitado para sentado ou de sentado para em pé;
- Fraqueza causada por desnutrição;
- Uso de bengalas, andadores e cadeiras de rodas;
- Doenças como Parkinson, pneumonias, infecções urinárias, infartos do miocárdio e hemorragias.
O uso de medicamentos também é causa muito comum de quedas em idosos. Afinal, tendem a apresentar várias doenças crônicas concomitantes. Os idosos que caem, provavelmente, o fazem por mais de uma razão e com freqüência é possível tratar estas causas e evitar as quedas. Por isso é importante não usar remédios sem a prescrição do especialista.
Incidência de óbitos por quedas:
- As quedas têm relação causal com 12% de todos os óbitos na população geriátrica;
- São responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas com 75 anos ou mais;
- Constituem a 6ª causa de óbito em pacientes com mais de 65 anos;
- Naqueles que são hospitalizados em decorrência de uma queda, o risco de morte no ano seguinte à hospitalização varia entre 15% e 50%.
*Fonte: Projeto Diretrizes AMB-CFM
Com a visão em dia
Com o envelhecimento, o tamanho e a resposta das pupilas diminuem. Ao entrar em um recinto escuro ou sair à noite, o indivíduo idoso tem o risco de queda aumentado, pois o tempo necessário para que o olho senescente atinja um nível de sensibilidade à luz igual ao de uma pessoa jovem é maior. Por conseqüência, indivíduos mais velhos precisam de iluminação adequada para andar com segurança.
Com o envelhecimento, também pode haver um declínio na percepção da profundidade. A alteração da percepção de profundidade pode levar a quedas associadas com subir e descer escadas. No processo natural de envelhecimento, a visão, a partir dos 60 anos passa a apresentar sinais de deterioração.
Prevenindo quedas
Para incentivar a prevenção das quedas dos idosos, listei os principais exames oftalmológicos que devem ser realizados na terceira idade. Além dos periódicos exames de refração (que diagnosticam miopia, hipermetropia e astigmatismo), o exame de motilidade ocular também é muito importante, pois detecta o potencial de mobilidade da musculatura do olho, revelando se existe alguma limitação à movimentação, incoordenação; dessincromia ocasionando visão dupla, dores de cabeça ou ainda a presença de doenças oculares, endócrinas ou cerebrais.
Quando a idade avança é necessário também a realização do exame de fundo de olho por meio do mapeamento da retina. Este exame visa o estudo de toda a retina, em particular da região periférica, que não pode ser observada pela oftalmoscopia convencional. É muito útil no diagnóstico e caracterização do descolamento de retina, da retinopatia diabética, das uveítes e de diversas retinopatias.
Outro exame preventivo importante é a biomicroscopia do segmento anterior. Esta avaliação é fundamental para a detecção precoce da presença, localização, extensão das opacidades cristalinas, para a revelação de possíveis fragilidades de zônula e/ou ectopia ou luxação do cristalino, sinais de inflamação intra-ocular e ainda para a avaliação da higidez da córnea, íris e ângulo da câmara anterior do olho.
A tonometria é também apontada como um exame essencial, pois é capaz de rastrear o aparecimento do glaucoma. Ao medir a pressão ocular, por meio do tonômetro, o oftalmologista pode detectar a presença de hipertensão ocular, que pode ou não ser diagnosticado como glaucoma, de acordo com a alteração ou não do campo visual e da papila óptica.
Evitar a queda é considerado hoje uma conduta de boa prática geriátrico-gerontológica, tanto em casa, quanto em hospitais, em instituições de longa permanência, sendo, para estes dois últimos um dos indicadores de qualidade no atendimento prestado a idosos. Além disso, evitar que o idoso caia constitui-se numa política pública indispensável, não só porque o evento afeta de maneira desastrosa a vida dos idosos e de suas famílias, como também requer expressivos recursos econômicos no tratamento de suas conseqüências.
Orientações gerais para prevenir o acometimento de quedas:
- Faça exames oftalmológicos e físicos anualmente, em específico para detectar a existência de problemas cardíacos e de pressão arterial;
- Mantenha em sua dieta uma ingestão adequada de cálcio e vitamina D;
- Tome banhos de sol diariamente;
- Pratique atividades físicas que visem o desenvolvimento de agilidade, força, equilíbrio, coordenação e ganho de força do quadríceps e mobilidade do tornozelo;
- Elimine de sua casa tudo aquilo que possa provocar escorregões e instale suportes, corrimão e outros acessórios de segurança. Atenção especial deve ser dispensada ao banheiro da residência, onde acontece grande parte das quedas;
- Use sapatos com sola antiderrapante;
- Nunca ande só de meias e evite sapatos altos e com sola lisa;
- Substitua os chinelos que estão deformados ou estão muito frouxos;
- Evite a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas;
- Mantenha uma lista atualizada de todos os medicamentos que está tomando ou que costuma tomar. Forneça estas informações para os médicos com quem você se consulta.
Virgilio Centurion é oftalmologista, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.