Geralmente, o dia-a-dia acaba não comportando visitas regulares aos consultórios médicos. Em se tratando da ala masculin...
iA Sociedade Internacional de Incontinência define incontinência urinária como a condição na qual a perda involuntária de urina é um problema social ou higiênico e é objetivamente constatada. Muitas vezes, a incontinência urinária é considerada, equivocadamente, pela família e pelos amigos, como parte natural do envelhecimento. Com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, que, hoje, já vive em média 71,7 anos, não devemos mais pensar desta maneira. Cada vez mais, os médicos e os demais serviços de saúde devem estar aptos a tratar as doenças dos idosos, melhorando sua qualidade de vida. Devemos assegurar que o idoso, além de viver muito, viva bem, com saúde e autonomia.
A incontinência urinária é um problema que provoca alterações capazes de comprometer o convívio social do idoso, pois traz junto de si a vergonha, a depressão e o isolamento. A incontinência urinária é um estado anormal de saúde, e que com o devido acompanhamento médico, na maioria das vezes, os casos podem ser resolvidos ou minorados. Especialmente no idoso, as alterações da motivação, de destreza manual, de mobilidade, de
lucidez e a existência de doenças associadas - diabetes mellitus, alterações neurológicas, dentre muitas outras - estão entre os fatores que podem ser responsáveis pela incontinência urinária, sem que haja comprometimento significativo do trato urinário inferior.
O trato urinário inferior apresenta, sim, alterações relacionadas ao envelhecimento, que ocorrem mesmo na ausência de doenças. Com a passagem do tempo, a força de contração da musculatura detrusora, a capacidade vesical e a habilidade de adiar a micção aparentemente diminuem, no homem e na mulher. Contrações involuntárias da musculatura vesical e o volume residual pós-miccional também aumentam com a idade, em ambos os sexos. Entretanto, a pressão máxima de fechamento uretral, o comprimento uretral e as células da musculatura estriada do esfíncter alteram-se predominantemente nas mulheres, que sofrem mais com a incontinência urinária. Estimativas da Sociedade Brasileira de Urologia apontam que cerca de 40% das mulheres desenvolvem a doença, após a menopausa.
Além das alterações decorrentes da senilidade dos tecidos, doenças próprias do idoso também contribuem para o desenvolvimento de incontinência urinária. A hiperplasia prostática benigna, por exemplo, está presente em aproximadamente 50% dos homens aos 50 anos de idade, em metade dos quais causa obstrução ao fluxo urinário e acarreta alterações significativas do trato urinário inferior.
Tratando o problema
O tratamento da incontinência urinária depende da análise minuciosa do histórico de cada paciente e varia de acordo com a forma como a doença se manifesta, afirma o médico. Em alguns casos, o tratamento exige a instituição de medidas que visam uma mudança de comportamento por parte do idoso. Muitos indivíduos podem recuperar o controle vesical, modificando alguns comportamentos, como por exemplo:
- urinar em intervalos regulares, a cada 2 ou 3 horas, para manter a bexiga relativamente vazia;
- evitar bebidas irritantes para a bexiga, como por exemplo, as que contêm cafeína;
- urinar com o auxilio de compressão manual do abdome inferior e inspiração forçada. Os episódios de incontinência de urgência freqüentemente podem ser evitados através da micção em intervalos regulares, antes do surgimento da urgência miccional. As técnicas de treinamento vesical, que englobam os exercícios da musculatura pélvica, são muito úteis. Fisioterapeutas podem
auxiliar no ensino desses exercícios, que implicam na contração repetida da musculatura, várias vezes ao dia, para desenvolver a resistência e o aprendizado da utilização adequada da musculatura, nas situações que provocam incontinência urinária. A aplicação de uma leve pressão através da compressão da região abdominal inferior com as mãos, logo acima da bexiga, também pode ser útil, especialmente para os indivíduos que conseguem esvaziar a bexiga, mas apresentam dificuldade para esvaziá-la completamente.
O tratamento medicamentoso deve ser controlado e ajustado segundo as necessidades individuais de cada paciente. Quando a causa é a contração fraca da musculatura da bexiga, os medicamentos que aumentam a contração vesical podem ser úteis. O idoso que apresenta incontinência e depressão pode ser beneficiado com o uso de medicamentos antidepressivos.
Em casos mais delicados, onde a paciente idosa não responde bem aos tratamentos não-cirúrgicos, há a possibilidade da correção cirúrgica para fazer o levantamento da bexiga e do fortalecimento do fluxo urinário de saída. Para a incontinência por transbordamento nos homens, causada pelo aumento da próstata ou por outra obstrução, a cirurgia normalmente é necessária. Estão disponíveis vários procedimentos de remoção parcial ou total da próstata.
E por fim, nos casos em que é impossível controlar a incontinência urinária com tratamentos específicos, absorventes e roupas íntimas especialmente projetadas para incontinência urinária podem proteger a pele, permitindo que os indivíduos permaneçam secos, confortáveis e socialmente ativos.
Ricardo Felts de La Roca é urologista