Entre os três e seis anos de idade é comum algumas crianças, ao emitirem o som do [s], interporem a língua entre os dentinhos superiores e inferiores. Conhecido como ceceio ou sigmatismo, em geral, não se trata de um distúrbio de formação, mas apenas um processo adquirido durante o desenvolvimento da fala e que pode ser corrigido mediante o diagnóstico e tratamento precoce, com a ajuda da fonoaudiologia.
Para contextualizar um pouco sobre a estrutura facial da criança antes de se aprofundar no ceceio, podemos dizer que existe uma sincronia entre o crescimento das chamadas partes moles (bochechas, língua, amigdalas) e as partes duras (ossos e dentes). Por exemplo, quando o bebê nasce observamos que seu queixo (mandíbula) é pequeno e se posiciona mais atrás em relação ao maxilar, mas essa aparente desproporção facilita que o bebê faça a pega do peito da mãe e, consequentemente, mame com mais facilidade. Portanto, é uma disfunção dentro de um contexto de normalidade que ajuda no crescimento maxilo-mandibular da criança.
Os ossos e partes moles vão se ajustando nos bebês durante seu crescimento permitindo não só o desenvolvimento da sucção como o amassamento dos primeiros legumes cozidos e que, se seguidos os passos corretos da alimentação, irão se refletir no bom desenvolvimento da sua fala.
Além dos hábitos alimentares, é importante destacar que há diferença no desenvolvimento de meninos e meninas, que se somam à genética e a forma da comunicação verbal praticada pelos pais com as crianças e farão a diferença na evolução da sua fala.
Voltando ao ceceio, além do fator desproporção estrutural citada até aqui, tem entre outras causas a sucção frequente de dedo, chupeta ou mamadeira, que mantém a língua baixa na cavidade oral, ou ainda a respiração oral, que ao manter a boca aberta também retém a língua mais baixa dentro da cavidade oral.
Quando o grau de anteorização da língua for leve, o ceceio deve desaparecer sozinho após os três ou quatro anos, mas quando mais acentuado pode permanecer, inclusive com o posicionamento anterior da língua visível na criança enquanto ela fala. Apenas a avaliação fonoaudiológica poderá determinar se a maneira de falar é esperada para aquela idade ou tipo facial, ou se é algo que deve ser tratado.
Dentre algumas observações importantes a fazer aos pais e cuidadores, é que não se deve imitar o som do ceceio à criança para que ele não permaneça falando errado. Repetir a palavra de forma correta, sem corrigir ou comentar, é a forma de trazer novos modelos para a criança e que ela tenderá a imitar corretamente.
Retirar os hábitos de sucção inadequados (dedos e chupetas), promover a alimentação de alimentos próprios para a idade (que incentivem a mastigação) e tratar condições que favoreçam a respiração oral (gripes e resfriados constantes) somarão para a contenção do ceceio. Mas os casos mais resistentes, em crianças acima de seis anos que permanecem com a disfunção mesmo após as inserções das práticas relatadas anteriormente, devem ser tratados por fonoaudiólogos especializados em fala.