É graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (1998) e possui mestrado em P...
iRedatora das editorias de beleza, família e alimentação.
"Quando nasce, o bebê humano é muito desamparado". É o que afirma a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em psicologia do desenvolvimento. Na infância, as crianças precisam de muita dedicação dos pais, pois são eles que lhes apresentarão o mundo através do afeto.
A influência dessa troca é tamanha que poderá definir não só a personalidade futura dessa criança, mas também seus relacionamentos amorosos. Esses padrões vividos ainda na infância podem ajudar a perpetuar comportamentos na construção da sua nova família.
Segundo Deborah, crianças pequenas aprendem através da imitação e os pais são os modelos de conduta. Elas começam a imitar a mãe ou o pai em brincadeiras e, conforme vão crescendo, isso se internaliza e se incorpora no comportamento de maneira inconsciente.
Da infância aos relacionamentos
"Existem pesquisas que mostram que mulheres cujo pai era alcoólatra acabam procurando parceiros parecidos", exemplifica.
Tanto experiências negativas quanto as positivas podem exercer grande influência nessa escolha.
Experiências positivas: Crianças vivendo em um ambiente com pais que se respeitam e têm uma relação de carinho observam isso e adquirem uma referência para buscar relacionamentos semelhantes aos dos próprios pais.
Experiências negativas: Ao mesmo tempo, crianças expostas à violência doméstica, abusos, agressões verbais ou psicológicas; ou ainda a relações parentais menos afetuosas, com pais narcísicos ou com algum problema psiquiátrico como esquizofrenia, depressão e bipolaridade, também podem levar estas marcas à sua vida adulta.
"Se ela não quebra esses modelos é bem possível que, na repetição do próprio contexto familiar, acabe buscando parceiros semelhantes", diz Deborah. Porém, ainda que essa consequência seja uma tendência, isso não representa uma relação de causa e consequência.
"A tendência é a reprodução de modelos, mas existe a possibilidade de romper com essas repetições", completa.
Muitos jovens ressignificam as experiências vividas e utilizam como um "anti-modelo" de sistema familiar. Assim, buscam parceiros mais saudáveis e relações familiares mais estáveis, com características opostas às do pai e da mãe.
Teoria do apego
E não é só na escolha de parceiros que os pais podem influenciar. Essas relações vivenciadas na infância também têm impacto na formação da personalidade da criança e na sua percepção sobre o mundo.
De acordo com a neuropsicóloga Bia Sant'Anna, ainda na infância construímos crenças sobre si e sobre o mundo que se tornam regras rígidas que servirão de base para seus comportamentos.
Ela cita o psiquiatra John Bowlby para explicar o impacto do tipo de relacionamento estabelecido com o cuidador principal durante a tenra infância. Segundo ele, em sua Teoria do Apego, esses padrões podem ser divididos em:
- Apego seguro: A criança explora o ambiente, segura de que pode buscar o cuidador principal como base de apoio
- Apego ansioso: A criança manifesta dificuldade em lidar com a ausência do cuidador, que costuma ser muito protetor
- Apego ambivalente ou resistente: A criança busca contato, mas também se mostra resistente, quando o comportamento do cuidador é inconsistente
- Apego evitativo: Há pouca partilha de afeto por parte da criança, normalmente associado a um cuidador pouco disponível
- Apego desorganizado: A criança apresenta comportamentos contraditórios e desorganizados, comumente associados ao ambiente confuso e pouco afetivo.
A formação destes padrões acontece no chamado período crítico de desenvolvimento, quando criança está mais sensível a certos estímulos ambientais. Isso porque, quanto mais novo, mais plástico e moldável é o cérebro. Durante esse período, forma-se um grande número de sinapses (conexões nervosas), mediante a experiência e a interação.
"Não que seja algo irreversível ou fixo, mas é altamente desejável que se desenvolvam vínculos afetivos positivos precoces, pois eles certamente afetam os relacionamentos posteriores", completa a neuropsicóloga Bia.