Graduado pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Residência médica em Psiquiatria pela Universidade Estadual de...
iSempre que pensamos na associação de antidepressivos e álcool nos vem à cabeça que "o álcool tira o efeito do remédio", ou então que "o álcool potencializa o efeito da medicação". Há quem pense que o uso dos dois pode levar a prejuízos para o fígado ou mesmo para o cérebro. Todas essas afirmações estão certas, mas depende de qual medicamento estamos falando. Há remédios que tem seu efeito potencializado, para pior, com o álcool e outros que são inibidos pela sua ação.
Mas antes de falar sobre o efeito do álcool com as medicações, quero partir de um pressuposto que sempre utilizo em consultas. O pressuposto é de que não se deve beber durante um tratamento, seja ele de ordem depressiva, ansiosa ou mesmo algum doença clínica. No caso da depressão em específico, o álcool potencializa sintomas depressivos, ou seja, piora a condição da doença no corpo da pessoa.
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Sempre digo para o paciente que ele deve beber quando está bem, não quando está mal. O álcool é um depressor do sistema nervoso central, rebaixando as habilidades cognitivas da pessoa, atrapalhando controle de impulso, de julgamento e desinibindo o indivíduo.
Álcool e depressão: entenda a relação dos dois
A ingestão de álcool em vigência da depressão pode aumentar a impulsividade e o julgamento da pessoa que, estando deprimida, com pensamentos de morte, pode desencadear até tentativa de suicídio.
Outro ponto é que o álcool também tem um potencial de vício para indivíduos com depressão. Sabe-se da grande associação de homens de meia-idade que são dependentes de álcool e tem como a depressão uma doença comórbida. Sendo assim, muitos usam no álcool uma válvula de escape para o alivio da depressão. Não melhora o primeiro e gera uma outra doença grave, que é a dependência química.
Sendo assim, o primeiro ponto de reflexão é sobre a necessidade do uso de álcool quando não se está bem ou quando se está em tratamento medicamentoso. Lembrando que uma consequência do alcoolismo é a sucessão de perdas. O mesmo acontece com a depressão.
Sabe-se, como eu disse, que o álcool é um depressor do sistema nervoso central, pois age no sistema GABA (ácido gama amino butírico, principal molécula com efeito inibitório no sistema nervoso central). Além disso, o álcool reduz níveis de serotonina no nosso cérebro à longo prazo, neurotransmissor relacionado ao humor e principal relacionado à depressão. A associação desses fatores é que gera a relação da depressão com o alcoolismo.
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Entenda os efeitos do álcool com antidepressivos
Quanto aos efeitos da interação entre os medicamento antidepressivo e álcool, temos uma gama variada de ações. Sabe-se que o álcool tem metabolização hepática e seu uso prolongado afeta as funções desse órgão. Alguns medicamentos como a Fluoxetina, a Sertralina, o Escitalopram e o Citalopram também tem sua passagem pelo fígado e a interação pode ser danosa para a pessoa.
O álcool também pode causar sangramentos gastrointestinais potencializando efeitos que alguns remédios também podem gerar, como o Escitalopram, Citalopram, Fluvoxamina e Sertralina. De modo geral, os medicamentos da classe dos Inibidores da Recaptação de Serotonina podem gerar sangramentos, especialmente em associação com o álcool.
A associação de remédios como Fluoxetina, Escitalopram, Fluoxetina, Citalopram pode gerar alteração eletrolítica, ou seja, no sódio ou alterações na glicemia da pessoa, gerando hipoglicemia.
Sendo assim, notamos o quanto o uso do álcool deve ser evitado ao máximo em pessoas que fazem tratamento com antidepressivos, seja pela interferência da sua ação com o medicamento, seja pelos próprios efeitos do álcool no nosso cérebro.
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