Com experiência na cobertura de saúde, especializou-se no segmento de família, com foco em gravidez e maternidade.
As duas risquinhas no teste de gravidez podem ser apenas uma reação química, mas marcam o começo dos projetos de uma nova vida com um ser morando no seu ventre. Estar esperando um filho muda completamente as expectativas sobre o que o futuro reserva.
No entanto, um sangramento repentino ou um ultrassom silencioso podem interromper estes planos. O aborto espontâneo e a morte fetal são perdas de seres que não tiveram chance de passar pelos braços da mãe, mas causam dor e geram luto como em outras mortes.
Quando Rivanilza Freitas fez o exame ultrassom aos 7 meses de gravidez, descobriu que o coração de seu filho havia parado de bater. "Me senti a pior pessoa naquele momento. O sentimento era de que nada mais fazia sentido, pois sonhei tanto em ter um menino... e perdi!", descreve ela.
Psicóloga e fundadora do projeto Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional e Neonatal, Larissa Rocha Lupi explica que o sentimento de vazio é comum a estas mães. O vínculo criado com o filho antes mesmo de nascer, nos dias de hoje, é reforçado pela tecnologia avançada. "É possível ver as feições, ouvir o coração, ver o que o bebê está fazendo dentro da barriga, saber o gênero...", explica Larissa. Isso pode tornar as projeções ainda mais fortes durante toda a gravidez.
O luto é a forma como vivenciamos uma perda, seja um corte de vínculo ou uma morte. E cada um tem um jeito próprio de lidar com isso. O mesmo acontece com as mães que perdem seus bebês. Para Rivanilza, era muito importante que ela tivesse a família por perto para passar pelo momento. No entanto, como veio de Pernambuco para morar em São Paulo, não conseguiu ter essa companhia.
"É importante encontrar mecanismos para expressar esse luto. Algumas mulheres escrevem textos para os filhos, outras fazem documentários, criam arte. Cada uma encontra a sua maneira", explica a psicóloga Larissa. No entanto, ela afirma que a fala tem efeito terapêutico, e colocar os sentimentos para fora pode ser essencial.
Amor pode ser pouco?
Logo que casou, Heláyne Bezerra parou de tomar anticoncepcionais para realizar o sonho de ser mãe. Após 7 meses de tentativas, conquistou seu positivo, e logo foi contar ao marido.
No seu primeiro ultrassom, às 6 semanas de gestação, recebeu a notícia de que o embrião não tinha coração batendo, junto com o pedido de que repetisse o mesmo exame dali a sete dias. "Obviamente fiz em outra clínica, porque naquele momento tudo que eu sentia era que a culpa era da médica que não viu direito. Tudo que eu queria era me agarrar na mais mínima possibilidade do coração estar lá batendo", relata. Entretanto, o segundo exame confirmou que não havia mais corrente sanguínea no embrião.
"Me senti impotente, desqualificada para gerar um bebê. Foi um misto de sentimentos. Eu senti que não fui capaz de manter meu filho vivo dentro de mim", desabafa Heláyne.
De acordo com as estatísticas, de 8 a 20% das gestações com menos de 20 semanas sofrerão aborto, sendo 80% destes nas primeiras 12 semanas. O fato de ser mais comum não torna a experiência menos dolorida.
Em gestações que não duraram muito, é comum o julgamento sobre o luto da mãe, talvez pelo fato de as pessoas acharem que não existem motivos para aquela mulher sentir falta do bebê. Larissa relata que muitas mulheres que perderam o bebê no primeiro trimestre não se sentem autorizadas a manifestar a tristeza, pois acreditam que sua dor é menor do que as outras. "É importante lembrar que só existe dor porque há amor", resume a psicóloga.
O momento da curetagem
Após a perda do embrião ou do feto, pode ser necessário fazer o procedimento de curetagem para removê-lo do útero. Por si só, essa experiência já agrega à tristeza de perder um filho. As condições em que ela costuma ser feita só pioram a dor das mães.
Ter que se internar em uma maternidade sabendo que não terá seu filho logo e dividir enfermaria com as mães que haviam ganhado bebês pode ser cruel. "Fui testada até o limite. Ver elas com seus bebês me dava uma angústia e cada vez mais eu me sentia impotente diante da situação", relata Heláyne.
A psicóloga Larissa e sua irmã, que também passaram por perdas gestacionais, relataram a mesma experiência. "Eu recebia parabéns de pessoas e funcionários e não tinha nem a oportunidade de sofrer naquele momento", conta.
Para que outras mães não passem por isso, ela sugere que os hospitais tenham espaços adequados para casos como este.
Mães de anjo também são mães
Mães de anjo são aquelas que não têm mais seus filhos fisicamente. No caso das que nunca puderam pegá-los no colo, fazer parte do dia das mães pode nem ter sentido. Para Larissa, elas também são mães e podem se unir para que a data não tenha um significado mórbido. "O amor vive e sempre viverá em cada mãe que perdeu seu filho", finaliza.
Especial: algumas heroínas são invisíveis
Este ano, escolhemos contar as histórias das mães que são heroínas, mas muitas vezes passam invisíveis por desafios que a vida não para de dar. Leia nossas reportagens.