Formada em medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2009. Especializada em infectologia pelo Instituto de...
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Pesquisadores brasileiros estão chamando atenção para a possibilidade de uma nova forma de transmissão do Zika vírus, além da picada do mosquito Aedes aegypti infectado: a transfusão de sangue.
Um estudo recente realizado pelo Hemocentro de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, indicou que os bancos de sangue de todo o Brasil podem estar, desde 2016, coletando e utilizando regularmente o sangue de doadores que são portadores do vírus.
A estimativa levou em consideração dois pontos primordiais nesse cenário: primeiro, o fato de que a maioria dos pacientes com a doença não apresenta sintomas; e, segundo, que o teste para detecção do Zika na doação de sangue não é obrigatório no Brasil.
Transmissão do Zika vírus
O Zika (ZKV) é um vírus transmitido pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectados. Após picar alguém com a doença, os insetos podem transmitir o ZKV por toda vida a outros indivíduos saudáveis.
Em geral, os sintomas da doença incluem febre, dor nas articulações, dor muscular, manchas no corpo e conjuntivite. Porém, cerca de 80% dos portadores de Zika vírus não apresentam nenhum sinal da doença, de acordo com o Centro Europeu para Controle e Prevenção de Doenças.
Devido à ausência de sintomas, em 2015, muitos nascimentos de bebês com microcefalia no Brasil foram ligados à transmissão do vírus por meio da gravidez. Isso porque as mães, muitas sem saber que estavam infectadas, passaram a doença aos seus fetos.
Assim, o Zika ganhou maior notoriedade e vigilância da população, sendo que, em 2019, quase 11 mil casos da doença foram registrados no país, segundo o Ministério da Saúde.
Além da transmissão por picada de mosquito e gravidez, a infecção do Zika vírus também pode acontecer por relação sexual, entre a pessoa contaminada e seus parceiros(as), e por transfusão de sangue.
Há riscos na transfusão de sangue?
Exigências para a coleta
Apesar do dado encontrado pelos pesquisadores brasileiros, é importante ressaltar que existe uma série de exigências sanitárias para a coleta de sangue no Brasil. Antes da doação, é obrigatório que os candidatos passem por uma triagem clínica, que consiste em uma entrevista individual e sigilosa sobre seus antecedentes e atual estado de saúde.
Nesta etapa, é aplicado um questionário que, desde 2016, pergunta se o doador teve Zika vírus. Em caso de resposta positiva, a coleta é suspensa.
Contudo, como a maioria dos portadores da doença não apresentam sintomas, é provável que muitos candidatos assinalem que nunca tiveram o vírus.
Por determinação do Ministério da Saúde, uma amostra de todo sangue coletado deve ser testada antes da transfusão, a fim de rastrear algumas doenças, como: HIV, hepatites virais (do tipo B e C), sífilis e Doença de Chagas. Se alguma das enfermidades for detectada, o sangue é descartado e não ocorre a transfusão.
Falta de diagnóstico do Zika vírus
Por outro lado, como os doadores assintomáticos do Zika não identificam a doença e não há exame obrigatório para detecção do vírus no sangue coletado, é possível que ainda haja a transmissão do patógeno via transfusão.
As análises feitas pelos pesquisadores do Hemocentro de Ribeirão Preto indicam que, entre os doadores de sangue, a presença do Zika vírus no sangue tem aumentado nos últimos anos, passando de 5,3% em 2015 para 13,2% em 2017.
Para Marianna Martins Lago, infectologista no Instituto Emílio Ribas, de São Paulo, "em momentos de maior circulação de Zika, é possível que algumas pessoas infectadas e assintomáticas (que são a maioria dos casos) doem sangue" e, assim, o vírus seja transmitido por via transfusional.
Perigos são mínimos
De acordo com a médica, são raríssimos os casos graves de Zika vírus. Isso porque grande parte das ocorrências são assintomáticas (sem manifestação da doença) ou oligossintomáticas (com poucos sintomas e não são incapacitantes). Isso quer dizer que os riscos relacionados ao uso de sangue infectado não são, necessariamente, relevantes.
A especialista alerta ainda que as incidências mais sérias de Zika vírus ocorrem, normalmente, em mulheres infectadas que estão em tentativa de engravidar ou que já estão gestantes.
Nesse sentido, grávidas que apresentam Zika vírus podem ter filhos com microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré, enfermidades que podem resultar em deformidades dos ossos, fraqueza, paralisias e deficiência dos músculos que controlam a respiração.
Precauções a serem tomadas
Pelos doadores de sangue
Para quem deseja doar sangue e não sabe se apresenta o Zika vírus (ou quer se prevenir da doença), há certas atitudes que podem ser tomadas, como:
- Realize o exame para análise de PCR no sangue (reação de cadeia de polimerase), capaz de detectar o Zika vírus e outras arboviroses.
- Mantenha sua carteira de vacinação em dia.
- Tome a vacina contra febre amarela: pesquisadores do Rio de Janeiro constataram que a vacina de febre amarela pode auxiliar na proteção contra o Zika vírus.
- Informe o hemocentro ou banco de sangue sobre qualquer sintoma anormal que surgir nos 7 dias seguintes à doação.
- Faça exames regularmente: somente assim você estará a par de todos os detalhes de sua saúde.
- Mantenha uma vida saudável: ter uma alimentação balanceada e fazer exercícios regularmente são ações essenciais para uma melhor qualidade de vida e, consequentemente, uma maior imunidade contra doenças.
Pelos hemocentros e bancos de sangue
No Brasil, o teste para detecção do Zika vírus em bancos de sangue não é obrigatório, não integrando o protocolo de rastreio de doenças para transfusão. Apesar disso, a infectologista Marianna Martins reforça alguns cuidados que podem ser realizados:
- Evitar doações de sangue de pessoas provenientes de áreas em que o Zika vírus esteja em grande circulação.
- Dispensar doações de sangue de pessoas que apresentem sintomas compatíveis com o Zika vírus (febre, mal-estar, dor de cabeça, dor muscular, dor nas juntas, dor de cabeça, conjuntivite).
Razões para você se convencer a doar sangue
Apesar do cenário levantado pelos pesquisadores, os bancos de sangue, hemocentros e hospitais de todo o Brasil estão em constante campanha para doação de sangue, visto que a demanda por transfusão é grande e pode salvar vidas.
Para isso, confira 9 explicações científicas do porquê você deve doar sangue:
1. Cada doação de sangue pode salvar até 4 vidas.
2. Não há como substituir o sangue: a doação é a única saída para salvar vidas.
3. Quando a pessoa apresenta qualquer sintoma de doenças, ela é impedida de doar sangue, a fim de preservar a integridade de quem receberá o sangue.
4. Em caso de doenças assintomáticas, a probabilidade delas serem repassadas ao paciente que recebeu a doação de sangue e se manifestarem é mínima.
5. O organismo do doador repõe rapidamente o sangue doado.
6. Doar sangue não altera a densidade e características do sangue.
7. Todo o processo é individual e sigiloso.
8. Todas as etapas da doação de sangue são acompanhadas por profissionais especializados, que irão te orientar antes, durante e após a coleta.
9. Ajudar outras pessoas é fazer o bem a todos, até a si mesmo.
Processo de doação de sangue
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