Urologista com área de atuação principal em oncologia, cirurgia laparoscópica e robótica. Profissional atuante no atendi...
iA próstata é uma glândula do tamanho aproximado de uma noz, presente apenas no sistema reprodutor masculino. Funciona como um conector seletivo entre os ductos que conduzem os espermatozoides e o sistema de drenagem da bexiga. Através da próstata, passam a uretra e o ducto ejaculador, que se unem e desembocam no pênis.
Também conectadas à próstata temos duas estruturas para armazenamento de nutrientes aos espermatozoides, conhecidas como vesículas seminais. A próstata e as vesículas têm a função de produzir nutrientes, lubrificantes e uma substância anticoagulante (a PSA). Juntos, eles facilitam a motilidade e a proteção dos espermatozoides.
A partir dos 50 anos de idade, o risco de se desenvolver o câncer de próstata aumenta gradativamente. Outro problema que pode vir a surgir é a prostatite e, por essa razão, a avaliação periódica anual é de fundamental importância para o diagnóstico precoce e rastreamento dessas doenças.
O que é prostatite?
Prostatite é uma inflamação no tecido da próstata, podendo ser causada por um agente infeccioso (bactéria ou fungo) ou agente traumático. Em geral, a doença pode se manifestar em forma aguda ou crônica.
Causas da prostatite
Existem também algumas formas de prostatite causadas por agentes físicos, como manipulação cirúrgica ou trauma. Outras causas raras envolvem pacientes que foram submetidos a radioterapia para tratamento de doenças no intestino grosso ou na própria próstata.
No caso dos agentes infecciosos, eles podem infectar a próstata e provocar um quadro de inflamação aguda. A bactéria, por exemplo, pode chegar na próstata através do contato direto com a urina ou através da corrente sanguínea. Abaixo listamos os principais fatores de risco para a prostatite aguda bacteriana:
- Homens entre 35 e 55 anos
- Ter tido um episódio de prostatite no passado
- Ter uma infecção ativa na bexiga ou uretra
- Histórico de trauma na região da bacia
- Uso crônico de cateteres para drenagem da urina através da uretra
- Pacientes com HIV ou outras condições que diminuam a ação do sistema imunológico
- Procedimentos invasivos, como a biópsia de próstata.
Também não existe confirmação científica até o momento que comprove a relação direta entre prostatite e níveis de estresse. Contudo, sabemos que níveis crônicos de estresse, sono de má qualidade e sedentarismo são condições que podem impactar no nível de atividade do sistema imune, podendo levar o indivíduo a ficar mais propenso a manifestar doenças infecciosas.
Sintomas de prostatite
Os principais sintomas da prostatite aguda são:
- Dor ou sensação de ardência durante a micção
- Urinar com frequência, particularmente à noite
- Urgência incontrolável para urinar
- Urina turva
- Sangue na urina
- Dor abdominal, nas costas ou na região da virilha
- Desconforto na região do pênis e testículos
- Ejaculação dolorosa
- Sintomas semelhantes aos de uma gripe (nos casos de prostatite bacteriana)
Diferença entre prostatite aguda e crônica
A prostatite aguda também pode ser chamada de infecção bacteriana aguda da próstata e é uma condição mais frequente em homens acima de 40 anos. Ela começa quando uma bactéria invade o tecido da próstata.
A condição é um quadro que requer cuidado médico imediato, podendo necessitar de internação hospitalar para a administração de antibióticos intravenosos. Felizmente, a grande maioria dos casos pode ser tratada com repouso domiciliar, ingestão de líquidos em abundância e antibióticos por via oral.
A prostatite aguda se diferencia do quadro crônico por apresentar um quadro rico em sintomas e que pode evoluir rapidamente para piora progressiva no estado geral do paciente.
Os casos mais graves, inclusive, podem levar a um quadro conhecido por septicemia, que é a circulação de bactérias em grande quantidade na corrente sanguínea. Este quadro requer internação hospitalar e, em casos mais graves, cuidados em UTI.
Já a prostatite crônica costuma ter uma apresentação gradual e pode persistir por muitos meses, com sintomas como desconforto ao urinar de intensidade leve ou moderada. Alguns homens podem apresentar um quadro de sintomas inespecíficos, como dor na região do períneo, bolsa escrotal ou parte inferior do abdômen.
Como diagnosticar a doença
Em alguns casos, homens com prostatite crônica podem não apresentar qualquer sintoma. Nestes contextos, o urologista pode suspeitar da existência da doença através da alteração dos níveis de PSA (Antígeno Prostático Específico) no sangue.
Homens sem sinais de prostatite aguda, mas que apresentem alterações nos níveis de PSA, podem ser submetidos a uma biópsia da próstata, dada a suspeita da existência de um câncer.
Muitas das vezes, um simples exame de urina pode não identificar a presença de bactérias no organismo, resultado conhecido como falso-negativo. Nesta situação, o urologista pode lançar mão de um teste de jato médio de urina, coletado logo após um exame de toque retal, feito no próprio consultório.
Essa estratégia pode aumentar a concentração de bactérias detectáveis pelo exame de urina, diminuindo assim a possibilidade de exames falso-negativos.
Tratamento para prostatite
Os antibióticos são a forma mais comum de tratamento da prostatite. Caso a infecção na urina não seja controlada, a doença pode se tornar severa e evoluir para um quadro mais grave, conhecido como sepse.
A prostatite bacteriana aguda é tratada com a utilização de antibióticos com alto poder de penetração no sistema urinário, sendo as quinolonas as mais utilizadas, como a ciprofloxacina. O tempo de utilização médio desses medicamentos é de, aproximadamente, três a quatro semanas.
Uma análise minuciosa da urina do paciente deve ser realizada, com o objetivo de identificar qual tipo de bactéria é responsável pelo quadro, assim como uma avaliação do painel de possíveis antibióticos que podem ser usados em cada caso.
A tuberculose urinária é uma causa rara de prostatite e, felizmente, pouco frequente. O diagnóstico dessa condição é feito através de uma análise de quatro a cinco amostras diferentes de urina, assim como a incubação do material em meios de cultura específicos para pesquisa do bacilo da tuberculose.
Nesses casos específicos, o tratamento pode durar de seis meses a um ano e segue um protocolo muito parecido ao indicado para a tuberculose pulmonar.
Prostatite tem cura?
Felizmente, tanto a prostatite aguda quanto a crônica possuem altas taxas de cura. Não há evidências na literatura médica indicando que a doença possa levar ao surgimento do câncer de próstata ou hiperplasia benigna (próstata aumentada).
Entretanto, é muito frequente a identificação de áreas de prostatite crônica ao redor de focos de câncer de próstata em fragmentos de biópsia. Assim, é possível que haja uma correlação de risco entre prostatite crônica e doenças malignas, mas essa informação ainda necessita de confirmação por estudos científicos mais consistentes.
Prostatite pode causar infertilidade?
A prostatite pode, sim, levar a sequelas definitivas como a infertilidade, uma vez que a destruição completa das pequenas glândulas no interior do órgão pode levar à diminuição permanente na produção de nutrientes e lubrificação necessários para manter a vitalidade dos espermatozoides.
A prostatite aguda é uma condição rara em homens com menos de 45 anos, o que diminui a relevância clínica do impacto na fertilidade em casais que costumam não ter mais intenções de ter filhos. Caso haja a intenção de manter a fertilidade, a opção de congelamento de espermatozoides é uma estratégia que pode ser discutida de forma individualizada com cada homem.
As principais complicações de um episódio de prostatite são:
- Infecção bacteriana na corrente sanguínea (septicemia)
- Inflamação do testículo e do epidídimo
- Abscesso dentro da próstata (formação de uma cavidade cheia de pus)
- Alterações na qualidade do sêmen ou até mesmo infertilidade, mais frequentes nos casos de prostatite crônica
Prostatite é transmissível?
Tanto a prostatite aguda quanto a crônica não são consideradas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Porém, é recomendado ao paciente que permaneça em um período de abstinência sexual durante o tratamento.
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