As flexibilizações da quarentena que estão sendo implementadas em diversas cidades brasileiras, mesmo com a pandemia do novo coronavírus ainda não controlada, deixam muitas pessoas preocupadas. Será que estão todos preparados psicologicamente para deixar o isolamento social?
Muitas vezes, um sentimento de angústia e receio pode tomar conta das pessoas diante da ideia de voltar às ruas e retomar o contato social depois de meses de confinamento. Este quadro, que parece ser um tanto quanto esperado, na verdade, pode estar relacionado com o que chamamos de Síndrome da Cabana.
De acordo com a psicóloga Ana Gabriela Andriani, essa síndrome se refere justamente ao medo excessivo de sair de casa. O termo surgiu no início do século XX para descrever o isolamento de pessoas que passavam grandes períodos longe de casa para caçar. Quando voltavam para casa, essas pessoas queriam ficar reclusas.
"A gente pode pensar que o isolamento social por longos períodos, somado ao medo de contágio e a sensação de vulnerabilidade, gera esse medo excessivo de retornar à rotina fora de casa", afirma Ana. Ela explica ainda que pessoas com predisposição a depressão também são mais suscetíveis a essa síndrome.
De onde surge o medo de sair de casa
A Síndrome da Cabana não é considerada uma doença e, sim, um fenômeno psicológico normal, mediante o contexto no qual se está vivendo. Na prática, é como se o nosso cérebro ficasse acostumado a uma nova rotina e aprendesse que estar em casa é a única possibilidade de segurança e proteção.
Por conta disso, a síndrome da cabana e a agorafobia são coisas distintas. A agorafobia surge em decorrência de ataques de pânico, fazendo a pessoa evitar locais públicos que causam esses episódios. "Especificamente falando da síndrome da cabana relacionada à COVID-19, o medo de sair, de encontrar outras pessoas é por medo do contágio, sentimento de insegurança", explica Ana
Sintomas da síndrome da cabana
Segundo a especialista Sabrina Amaral, o principal sintoma da síndrome da cabana é a angústia ao sair de casa, acompanhada de medo e ansiedade. Além desses sintomas, também podem ser percebidos letargia, falta de motivação, sono excessivo e comportamentos esquivos, compulsão alimentar ou vícios.
Outras sinais da condição incluem sintomas cognitivos, como falhas na memória e problemas de concentração. A boa notícia é que todos eles podem ser contornados a partir de algumas atitudes simples no dia a dia. Confira abaixo 9 dicas para driblar o medo de sair de casa no pós-quarentena:
Como superar o medo de sair de casa
1 - Pense em boas lembranças
Segundo a psicóloga Regina Tavares, é importante a pessoa se recordar continuamente de tudo o que ela costumava fazer de bom antes de ter passado pelo isolamento: sair com os amigos, encontrar os familiares, frequentar restaurantes, ir ao cinema, fazer caminhadas no parque, curtir o sol, viajar, entre outros. Isso condiciona o cérebro para a diminuição progressiva da resposta ao medo.
2 - Respeite o seu tempo
Todos nós temos um tempo emocional que varia de pessoa para pessoa, portanto, não se obrigue a superar esse medo de forma instantânea. "Pare de se comparar com os outros e faça as coisas no seu tempo", recomenda a especialista Sabrina Amaral.
3 - Mantenha contato com outras pessoas
Estar próximo de pessoas com as quais você se sinta à vontade é uma das formas de evitar ou melhorar o quadro de síndrome da cabana. "Procure entrar em contato com outras pessoas com segurança", recomenda a psicóloga Ana Gabriela.
4 - Busque atividades do seu interesse
Ter alguma atividade diferente para realizar é outra forma de driblar sintomas como a ansiedade. "Faça algumas aulas online, cursos, leituras, assista a filmes. Tente se manter ativo e fazer coisas interessantes", aconselha Ana.
5 - Foque no que está no seu controle
Uma maneira de diminuir a angústia é focar naquilo que está sob o seu controle. É possível desenvolver uma rotina que envolva alimentação saudável e a prática de exercícios, por exemplo. A psicóloga Sabrina Amaral diz ainda que é preciso estabelecer momentos para sair de casa aos poucos, como ir ao mercado.
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6 - Defina pequenas metas
Estabelecer pequenas metas e passos é uma forma de superar gradativamente o medo de sair de casa. A técnica é conhecida como dessensibilização sistemática, porque visa diminuir a angústia e receio progressivamente.
A psicóloga Sabrina Amaral explica que uma forma de fazer isso é indo até o portão, depois até a calçada e ir aumentando a distância cada vez mais, aumentando a segurança de quem sai de casa, sem precisar ser uma experiência única para readaptação.
7 - Pratique a meditação
Outra dica da psicóloga Regina Tavares é a prática de técnicas de relaxamento e meditação. De acordo com ela, esses métodos podem ser muito úteis para todos os casos, incluindo as técnicas de mindfulness, por exemplo.
8 - Reflita e se tranquilize
Pare e tente pensar racionalmente sobre o receio que você está sentindo. Reflita sobre as medidas que te façam se sentir mais seguro. Um exemplo seria optar por roupas e calçados fáceis de higienizar ao chegar em casa.
9 - Procure ajuda profissional
Se você sentir medo excessivo ou ter uma crise de ansiedade diante disso, é preciso buscar ajuda de um profissional. Segundo Regina Tavares, isso é essencial pois, conforme o grau dos sintomas, a síndrome pode desencadear um quadro depressivo grave - especialmente se ela se prolongar por muito tempo.
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