O que é esporotricose
A esporotricose é uma micose profunda causada pelo fungo Sporothrix schenckii, que habita a natureza e está presente no solo, palha, vegetais, espinhos e madeira. Por muito tempo, foi conhecida como a "doença do jardineiro", porque era comum acometer esses profissionais.
De acordo com a dermatologista Cristina Saad, da clínica Simone Neri, a esporotricose humana ocorre em grande parte pelo contato com felinos doentes que são abandonados ou que vivem nas ruas. A infecção é mais frequente nas regiões tropicais e subtropicais, sendo rara em regiões frias.
Além do ser humano e dos gatos, o Sporothrix schenckii também pode infectar cães, animais selvagens e roedores. Enquanto os cachorros adquirem uma forma de baixa virulência, semelhante à dos humanos, os gatos geralmente contraem uma forma grave e disseminada da doença.
Transmissão
Na transmissão da esporotricose, o fungo é introduzido no organismo humano por entrada direta na pele ou eventualmente nas mucosas. Essa inoculação ocorre por ferimento com material contaminado, principalmente palhas ou espinhos. Mordeduras de animais e picadas de insetos também podem veicular a doença, sendo que os animais são apenas transportadores dos fungos nesses casos.
Não há relatos de transmissão da esporotricose de pessoas para pessoa ou de cachorro para humanos. A maioria dos relatos diz respeito à transmissão de gato para humanos e de gato para cachorro. Desta forma, os felinos são considerados os maiores vetores da infecção.
Esporotricose em gatos
A esporotricose em gatos ocorre com maior frequência e, geralmente, se desenvolve em uma forma mais grave. Felinos também apresentam alto potencial de transmissão da esporotricose, pois os fungos estão presentes em grande quantidade no aparelho respiratório e nas lesões cutâneas.
Sintomas
A dermatologista Nina Rosa Rigoni, da clínica Carvalho Concept, ressalta que, em seres humanos, a infecção normalmente é benigna e se limita apenas à pele. Porém, há casos em que ela se espalha por meio da corrente sanguínea, atingindo ossos e órgãos internos.
Nos felinos, os sintomas são variados e merecem atenção. Os sinais mais comuns da doença são as lesões ulceradas na pele, ou seja, feridas profundas geralmente com presença de pus, que não cicatrizam e costumam evoluir rapidamente.
Tipos
A esporotricose humana geralmente afeta braços ou face, sendo menos comum nas pernas e muito rara no tronco. As formas clínicas da doença podem ser separadas da seguinte maneira:
- Cutânea-linfática: forma mais comum, com lesão nodular ulcerada no ponto de inoculação, que é chamado de cancro esporotricótico. A partir desse ponto, surge um cordão de linfangite (inflamação dos vasos linfáticos), ao longo do qual encontram-se nódulos ou gomas que podem se ulcerar, com aspecto semelhante a um rosário. Esses nódulos podem ulcerar, fistulizar ou drenar pus. A lesão inicial em adultos é mais comum nas extremidades e, nas crianças, acomete a face. Eventualmente, ocorre na mucosa oral ou mucosa ocular.
- Cutânea localizada ou cutânea-fixa: essa esporotricose se manifesta na forma de um nódulo avermelhado e pode ser duro, com superfície áspera ou ulcerada. Além dos membros superiores, pode atingir também as mucosas, como os olhos e a boca.
- Cutânea disseminada: é uma forma rara de esporotricose humana e envolve lesões cutâneas nodulares ou gomosas disseminadas, que podem ulcerar. É causada pela disseminação do fungo no sangue, muito associada à queda da imunidade e infecção por HIV.
- Extra-cutâneas: também são formas mais incomuns de esporotricose. Caracterizam-se por localizações ósseas, pulmonares, testiculares, articulares, nervosas e nas mucosas ocular, oral, nasal, entre outras. Podem ser originadas a partir da ingestão ou inalação do fungo ou estar associadas à imunodepressão.
Diagnóstico da esporotricose
O diagnóstico da esporotricose deve ser feito por um médico dermatologista. A forma cutâneo-linfática pode ser identificada por meio da análise clínica, pois o aspecto em rosário da infecção é característico. Nos demais casos, podem ser aplicados os seguintes procedimentos:
- Cultura: é o método preferencial, feito por meio de análise de secreção da lesão
- Exame histopatológico: realizado por meio de uma biópsia da lesão
- Teste da esporotriquina: possui reação muito sensível, mas pouco específica, já que é frequentemente positiva em indivíduos saudáveis. É útil para a exclusão da esporotricose na diagnose diferencial com outras doenças cutâneas. O interessante é que esse teste continua positivo após a cura da infecção
- Provas sorológicas
Tratamento da esporotricose
Remédio para esporotricose
A droga específica para o tratamento da esporotricose é o iodo, administrado via oral como iodeto de potássio. Porém, como ele pode causar inúmeros efeitos colaterais, o medicamento mais receitado (inclusive para os animais) é o itraconazol. Além desses dois, há a possibilidade do tratamento ser feito à base de terbinafina, fluconazol e anfotericina B.
Somente um médico poderá dizer qual é o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações e NUNCA se automedique. Não interrompa o tratamento sem consultar um especialista antes.
Pomadas são indicadas?
Não há indicação de terapia tópica, com uso de pomadas, para esporotricose. A exceção seriam as lesões ulceradas, nas quais as opções antissépticas podem ser usadas.
Esporotricose tem cura?
A doença não é considerada grave e tem cura. Porém, o tratamento deve começar logo e pode ser longo, durando de 3 a 6 meses e podendo chegar a 1 ano. De acordo com a especialista Nina Rigoni, o tratamento não deve ser abandonado em momento algum nesse período.
Prevenção
A esporotricose é considerada uma doença negligenciada e um problema de saúde pública. Isso porque há a ausência de um programa ou ações de controle, além da falta de medicação gratuita para o tratamento, tanto em humanos quanto em animais, e do desconhecimento da população sobre as medidas de prevenção, como alerta a médica Nina Rigoni.
Para quem trabalha ou gosta de jardinagem, é importante o uso de luvas e roupas protetoras ao manusear plantas como forma de atenuar os riscos de esporotricose - lembrando que até mesmo o contato com solo contaminado pode ser suficiente para contrair a doença.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é que os gatos não são vilões e, sim, as maiores vítimas da doença. Por enquanto, não há nenhuma vacina para humanos ou animais contra a esporotricose. Caso o animal de estimação contraia a doença, é importante que ele permaneça isolado e receba tratamento.
Em caso de morte do animal, o corpo precisa ser cremado e não enterrado para que o fungo não se espalhe pelo solo e outros animais ou até mesmo pessoas possam ser contaminados. O ideal é que o gato não saia de casa, evitando a contração dessa ou outras doenças.
Referências
Nina Rosa Rigoni, médica dermatologista da clínica Carvalho Concept - CRM 86543
Cristina Saad, médica dermatologista da Clínica Simone Neri - CRM 91170 SP