Redatora especialista em bem-estar, família, beleza, diversidade e cuidados com a saúde do corpo.
A comparação é, definitivamente, uma das maiores vilãs da autoestima há muitos anos. Muitas pessoas se sentem inferiores às outras por conta de suas atribuições físicas, como a textura do cabelo e peso corporal. Porém, o que não é muito falado é que as expectativas em relação à aparência da vagina também são um fator que atinge mulheres de diferentes idades.
Em um estudo recente encomendado pela marca Intimus, foi observado que cerca de 1 em cada 4 brasileiras não tocam a própria vagina. Entre as análises feitas pelos pesquisadores, foi apontado que muitas delas se incomodam com o formato e características do próprio órgão genital, achando seus corpos feios e se envergonhando de sua aparência.
De acordo com Erica Mantelli, ginecologista e especialista em saúde sexual, um dos maiores motivos que levam a essa situação é a falta de educação sexual adequada. "Vem também relacionada a muitos mitos, tabus, medo e sensação de estar fazendo algo errado, como cometendo um pecado. O incômodo com a região pode surgir devido a falta do olhar, pois muitas mulheres passam a vida sem observar o próprio órgão sexual, ignorando a sua existência", comenta.
Iniciação sexual
Ginecologistas afirmam que a curiosidade em relação ao próprio corpo se inicia durante a infância, principalmente a partir dos três anos de idade. Nesse período, é comum que muitas crianças comecem a questionar a funcionalidade dos órgãos, comparando as diferenças biológicas entre características femininas e masculinas.
Erica explica que, conforme o músculo naturalmente se contrai, a criança pode sentir sensações novas, achando aquilo curioso ou engraçado, passando a tocar mais a região. É importante ressaltar que esse toque infantil não está relacionado com intenções sexuais, como é o caso dos adultos.
"Além disso, crianças podem se tocar devido a presença de corpos estranhos, como sujeiras e assaduras. É importante que os pais fiquem atentos e busquem por avaliação médica", alerta a ginecologista.
Porém, conforme crescemos, tabus criados em torno da região íntima geram um impacto em nossas vidas, fazendo com que a sexualidade seja vista de forma diferente. No caso de meninas, a visão formada sobre o funcionamento e exploração do corpo se difere drasticamente dos meninos, que costumam iniciar o autotoque sem grandes constrangimentos.
Para a ginecologista e obstetra Rebeca Gerhardt, a masturbação é um caminho de muitas descobertas importantes. "O clitóris é um órgão do prazer, cheio de terminações nervosas. Se os homens se masturbam antes de iniciar a vida sexual, por que nós, mulheres, também não podemos?", questiona a médica.
Importância do autotoque
A barreira que existe entre o toque íntimo e a vergonha de fazê-lo pode gerar diversos impactos na vida sexual de uma mulher. A ginecologista Erica Mantelli conta que a baixa libido e a dificuldade de atingir o orgasmo podem ser consequências da falta de masturbação, já que tocar-se serve como um guia para entender a velocidade e as maneiras que mais agradam na hora H.
A falta de exploração dos gostos pessoais faz com que muitas mulheres vivam uma vida inteira sem sentir prazer, sem entender os motivos por trás desse incômodo. Como forma de desconstruir os padrões e estigmas envolvidos acerca do autotoque, Rebeca Gerhardt conta que o primeiro passo vem com informação e autoconhecimento, entendendo as próprias zonas erógenas.
"O caminho para o autoconhecimento é começando a olhar a própria vulva e entender os pontos dela e do seu corpo que mais proporcionam excitação. Com a própria mão ou com auxílio de um brinquedo sexual, é possível se dar prazer. Não existem técnicas e muito menos formas erradas ou corretas de se tocar, é importante ouvir o próprio corpo e pronto", conta a ginecologista.
A médica explica que a masturbação também pode trazer outros benefícios, como ajudar a diminuir o estresse e a ansiedade, além de proporcionar mais saúde vaginal, quando respeitados os cuidados básicos de higiene das mãos e dos vibradores, com o uso de água e sabão ou álcool 70%.
Perdendo a vergonha de se masturbar
Para uma mulher que deseja quebrar essa barreira e começar a se explorar sexualmente, existem algumas formas práticas de iniciar esse processo. Segundo a ginecologista Erica Mantelli, ler sobre o assunto, buscar informações com profissionais capacitados e entender sobre educação sexual são passos simples e importantes nessa jornada.
Além disso, a especialista conta que é positivo se olhar no espelho e compreender que cada corpo é único, sem se comparar com o que se vê em revistas, filmes e, principalmente, vídeos eróticos, por serem performáticos e fora da realidade.
Uma maneira sutil de se tocar pela primeira vez, indicada por Erica, pode acontecer durante o banho, de olhos fechados ou no escuro, deslizando a mão até a região íntima e percebendo as sensações geradas, como o corpo reage a cada toque. Com o tempo, a tendência é que a vergonha se amenize e tudo flua naturalmente.