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Xenofobia é um termo amplo utilizado para definir o medo de estrangeiros e/ou daqueles com origens diferentes. Esse tipo de preconceito pode ocorrer entre pessoas da mesma nacionalidade, quando uma pessoa de uma região do país é ofendida por um morador de outro local, usando a sua origem como justificativa para agressões verbais ou físicas.
Apesar de muitas vezes ser confundido com o racismo, há algumas diferenças entre os dois atos. Entre as muitas definições de racismo, está a ideia de que uma etnia é superior a outra, causando a construção de um sistema político e social baseado na desigualdade. Já a xenofobia causa hostilidade entre grupos ou pessoas de diferentes locais. Em alguns casos, é possível que as duas formas de preconceito estejam interligadas.
Impactos da xenofobia
Assim como episódios de preconceito racial podem provocar o desenvolvimento do transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) nas vítimas, situações xenofóbicas também possuem um impacto direto na saúde mental.
"Devemos ter em mente que a xenofobia se trata de um processo de ataque àquilo que o outro é e que não pode deixar de ser. É um processo que tem como alvo que o outro se sinta menos, menor ou inferior. Nesse sentido, o TEPT é uma condição clínica que pode se desenvolver como adoecimento nas vítimas, assim como a depressão, síndrome do pânico e surgimento de ideações suicidas", explica o psicólogo e psicanalista Ronaldo Coelho.
A autoestima de quem lida com esse preconceito também pode ser abalada, fazendo com que o indivíduo se sinta inferior aos demais, não enxergando o seu próprio valor. "Caso a vítima não possua a feliz condição psíquica de compreender que o problema não é com ela e sim com seu algoz, ela pode desenvolver uma relação bastante destrutiva consigo mesma, o que em si é um problema de enorme importância ético-política, mesmo quando o sofrimento não desencadeia nenhum tipo de adoecimento", alerta o especialista.
Segundo Ronaldo, existem alguns sinais que ajudam a identificar o impacto emocional causado pela xenofobia:
- Há uma tentativa de mudar o próprio sotaque para ser aceito em um local
- Mudança no modo de se vestir
- Passar a negar a própria cultura e ancestralidade para se incluir ou passar despercebido em um ambiente
"Além desses efeitos mais fáceis de se observar, é possível que essa morte simbólica de si mesmo não seja viabilizada de maneira satisfatória pela pessoa, o que pode decorrer em um crescente ódio de si mesmo e o aparecimento de pensamentos recorrentes de suicídio. Em casos de TEPT, a vítima pode desenvolver fobia social, agorafobia, e crises de ansiedade constantes que remetem ao evento traumático", conta o psicólogo.
Lidando com o trauma
Apesar dos seus efeitos na saúde mental, as complicações causadas pelo preconceito podem ser amenizadas por meio de algumas estratégias que ajudam a vítima a compreender a situação e enxergar o seu próprio valor.
Antes de tudo, é necessário entender as questões éticas e políticas que envolvem a xenofobia. Segundo o psicólogo Ronaldo Coelho, é dessa forma que se inicia o combate na esfera pública e o cuidado com quem sofreu a repreensão. As vítimas precisam compreender que se trata de um ataque nesta esfera e que diz respeito às relações de poder.
"É necessário que a vítima compreenda que não há nada de errado com ela, com seu povo, com sua história e sua cultura. A hierarquização tem por objetivo manter privilégios, calar os que se destacam e que são diferentes, porque eles realmente são uma ameaça. É uma estratégia política de fazer sumir aqueles que ousam se destacar naquilo que eu não possuo condições de competir, ou seja, lá onde meus privilégios não valem e eu estou em situação de desigualdade", diz.
Assim, a origem da palavra pode ser melhor compreendida. "Xeno", do grego xénos, significa "estranho" ou "convidado", enquanto "fobia" significa "medo" ou "aversão". Logo, o xenófobo tem medo do diferente.
O especialista explica que um trabalho psicoterápico com a vítima implica auxiliar que ela possa fazer essa travessia e o resgate, ou reconstrução, dos valores que ela herdou de sua cultura, de sua história, de seu povo ou tudo o mais de valor que seja necessário recuperar. Assim, por meio de terapia, será intensificado o amor próprio, o sentimento de que não está certo desistir de quem se é, recuperando o valor dado a si mesmo.
Xenofobia é crime
No Brasil, casos de xenofobia podem ser denunciados pela Lei nº 9.459/1997, que define os crimes "resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". A denúncia pode ser feita através do Disque 100 ou com a emissão de um Boletim de Ocorrência (BO) em qualquer delegacia, onde será feita a transferência do caso para locais especializados em processos que envolvem discriminação.